Maria João Brito de Sousa
É claro… a vida muda, o tempo passa…
Amores? Estes que tenho e que bendigo,
Aos quais voto amizade e dei abrigo
Sem sequer distinguir qual fosse a raça.
Sorrio ao relembrar quanta era a graça
Deste meu negro e carinhoso amigo
(ama-se um gato sem correr-se o p`rigo
de que esse amor se canse e se desfaça…)
Os únicos "senãos" – eu sei-o bem! –
São os limites que esta vida tem
E que, um dia, nos lançam num desnorte
Quando, chegado o tempo da partida,
Percebemos que o tal final de vida
Depôs tão grande amor nas mãos da morte.
Maria João Brito de Sousa – 26.10.2012 – 02.04h
publicado às 02:17
Maria João Brito de Sousa
Debulho-me em palavras… nunca choro
Senão estes sinais de tinta preta
Que traço quase sempre em linha recta,
Cuja meta me escapa e nem decoro.
Se pelas gargalhadas me demoro,
De novo outros sinais, traçando a meta,
Se impõem mal o riso me intercepta
E, atrás, surgirão mais, fazendo coro…
Se sinto – e tudo sinto intensamente! –,
São aos milhares, pulando, à minha frente,
Esses infindos signos do sentir
Que imprimem no papel, profusamente,
As mesmas emoções que tanta gente,
Sem tempo pr`ás provar, deixou fugir…
Maria João Brito de Sousa – 17.10.2012 – 19.41h
publicado às 20:30
Maria João Brito de Sousa
Abreviada a voz, repenso o gesto
E ressurge a palavra indesmentida
Exactamente aonde a mão estendida
Recolhe o claro fruto e aparta o resto.
Sorrio enquanto estendo o velho cesto
Na direcção da coisa pressentida
E vislumbro, entre folhas, bem escondida,
A forma de um soneto franco, honesto.
Assim contemplo, colho e guardo acasos,
Esperando cada um de olhos já rasos,
Cumpridos sem temor, sem loucas pressas
E, garanto, esse acaso então parece
Estar pronto a responder-me à estranha prece
Sem ter feito, sequer, quaisquer promessas…
Maria João Brito de Sousa – 04.10.2012 – 16.06h
publicado às 16:26