Maria João Brito de Sousa
Sigamos, mesmo sós, fincando o pé,
Erguendo o punho acima do poder,
Impondo aos sortilégios da maré
Esta vontade infinda de vencer!
Ergamos, libertária, a nossa fé
Sobre os que estão cansados de saber
Que conduzem o povo em marcha-a-ré,
Alegando que assim teve de ser!
Vai-se fazendo tarde e não é hora
De procurar caminhos menos duros
Pois sempre que um de nós gritar; - Agora!
Saberemos que o dia não demora
E, mesmo por carreiros inseguros,
Havemos de ir aonde o sonho mora!
Maria João Brito de Sousa – 28.08.2012 -15.52h
Imagem retirada da internet, via Google
publicado às 16:17
Maria João Brito de Sousa
(...mordido em decassílabo heróico...)
Em verdade só sou quando me dou,
Assim que sol e mar fervem cá dentro
Transmutando-se em corpo e alimento
Do poema/animal que me habitou…
Palavras, coisas vivas que se comem,
São frutas que se oferecem se as procuro
Numa fome perpétua que não curo
Enquanto outras palavras me não domem
Mas é por esta língua, a que pertenço,
Que sinto, que, por vezes, também penso,
Que mordo, como tantos animais,
Sem medo do momento insano, intenso,
Em que abocanho um verso… e quase o venço
Esquecendo a derrocada dos demais…
Maria João Brito de Sousa – 23.08.2012 – 19.19h
publicado às 19:25
Maria João Brito de Sousa
O jogo recomeça… a tarde escura
Ameaçando chuva, o vento uivando…
Enquanto observo a rua, o céu, chorando,
Renova-me as fraquezas já sem cura…
A chuva, gota a gota, já perfura
O abrigo que me estive improvisando
Até que inteiramente o vai molhando
E dissolvendo a frágil cobertura…
Recolho o tabuleiro. A noite chega…
Mais gota, menos gota, eu acredito
Que a chuva possa ter o estranho fito
De dissolver tão só quem se lhe nega…
(se desisto de um jogo, assim, perdido,
jogá-lo nunca fez qualquer sentido…)
Maria João Brito de Sousa – 14.08.2012 – 20.44h
IMAGEM RETIRADA DA NET, VIA GOOGLE
publicado às 21:00
Maria João Brito de Sousa
Sobram-lhe as migalhas dessoutra fartura
Que o sistema cria, que o cinismo inventa,
Do pouco que fia mas que o não sustenta
Porque se alimenta só de “dita”… e “dura”,
Sobejam-lhe as rendas da falsa candura
Que, qual maré alta, num crescendo aumenta
Pr`adornar uns quantos, porque a “plebe” aguenta
Os desequilíbrios desta arquitectura.
Se contra mim falo porque uma injustiça
Tudo o que não calo foi trazendo à liça
E, pouco fazendo, tão pouco produzo,
Levanto o meu punho como se o fizesse!
Mais saudável fora, mais força eu tivesse,
Mais protestaria contra os tais que acuso!
Maria João Brito de Sousa – 02.08.2012 – 15.58h
IMAGEM - Blind Man`s Meal - Pablo Picasso, 1903
Soneto hendecassilábico
publicado às 16:48