Maria João Brito de Sousa
Prenúncio da vontade em gesto vago,
Vai-me descendo a mão sobre o papel
E sinto que me invade o tal corcel
Da singular magia desse afago!
Dele me nasce a palavra; o resto, trago
Dentro de mim, gravado com cinzel,
Por baixo desta minha humana pele
Onde o tempo, ao passar, fez tanto estrago
Mas que me importa a mim que o tempo passe
Se dele surge a palavra, irrompe a frase
Que justifica o esforço da corrida?
Não fosse esse o corcel que eu cavalgasse
E – quem sabe? - o poema me ignorasse
E eu perdesse o sentido à própria vida.
Maria João Brito de Sousa – 23.02.2012 – 18.47h
Imagem retirada da net, via Google
publicado às 19:08
Maria João Brito de Sousa
Sei-o só porque o sei e mais não digo
Que a estrofe, irredutível, se me impõe
Na estranha convicção que me propõe
E também na desculpa em que me abrigo…
Sei-o, tal como a terra sabe o trigo
Nessa complexidade que o compõe,
Tal como a razão trai se pressupõe,
Por cada criação, seu rasto antigo…
Sei-o de outro saber que é muito meu
A que chamo “poema” e se esqueceu
De vir documentado, ou ter razões
Mas, por mais que o descreva, apenas eu
Terei provado o mel que me prendeu
Aos versos que me adornam de ilusões…
Maria João Brito de Sousa – 21.02.2012 – 19.07h
publicado às 19:13
Maria João Brito de Sousa
(DES)ARMADOS
Armados da certeza que não morre,
Seremos sempre os filhos da verdade
E, sobre esta injustiça que nos cobre,
Semearemos cravos de vontade!
Armados, desarmados… como seja
Próprio ao desenrolar deste momento,
Anularemos jugo, insulto, inveja,
Daqueles que nos roubaram o sustento!
Cairão sob as armas que não temos
Aqueles que acreditarem que os tememos
E uns tantos que se vendem ao poder
Porque amanhã decerto venceremos
E (des)armados vamos porque cremos
Que quem de amor se armou, tem de vencer!
Maria João Brito de Sousa – 14.02.2012 – 13.38h
Imagem retirada do mural de G Moura Moura, no Facebook
publicado às 13:58
Maria João Brito de Sousa
Falaste das paixões, sem ter paixão,
Do imenso jejum de alma em que te viste,
Da abstracta situação, confusa e triste,
De enfrentares tanta vã contradição,
Ponderaste a remota solução,
Mas nem sequer ergueste o punho em riste
E eu já não sei sentir como sentiste,
Nem posso perdoar-te essa traição...
Falaste por falar, nada sentindo
E eu, calada, absorta, fui-te ouvindo
A confissão gongórica e estudada
Até, por fim, dizer-te que, mentindo,
Mais te não garantia seres bem-vindo
Do que se não dissesses mesmo nada…
Maria João Brito de Sousa – 10.02.2012 – 18.19h
publicado às 13:49
Maria João Brito de Sousa
Que deste amor, de havê-lo amado “além”,
Me sobre, em estro, a voz para o cantar,
Pois sendo amor mais vasto e mais lunar,
Transcende o que me venha de outro alguém…
Se me não sei explicar, se mais ninguém
Humanamente o pode adivinhar,
Explicá-lo-ei à Terra, ao fundo mar,
Ao claro, imenso azul que nos contém
E, quando falte azul, sobrar-me-á
Desta imensa, insurrecta, convicção,
No arquivo de insondáveis da memória,
Isto que, para mim, perpetuará,
Em colorida-ambígua tradução,
A sintetização da nossa história…
Maria João Brito de Sousa – 09.02.2012 – 19.13h
NOTA - Soneto totalmente reformuladoa 15.06.2015
publicado às 19:46
Maria João Brito de Sousa
Como hei-de interpretar tão estranho gesto
De clara discordância e suspeição
Se, no que me respeita, é sempre honesto
Este acto de vos dar - ou não... - razão?
Tudo o que vos disser terá, de resto,
A mesma garantia de isenção;
- De quanta opinião guardar no cesto,
Construirei, mais tarde, opinião...
Se o tempo escassear, duplicarei
Em vontade o que falte às aptidões,
Em perda o que me for escapando em ganho
Mas, enquanto viver, eu escolherei;
Irei sempre arquivando opiniões,
Sem antes lhes medir força ou tamanho...
Maria João Brito de Sousa - 01.02.2012 - 18.57h
publicado às 13:44