Maria João Brito de Sousa
Brotaram, de repente, absurdos gritos
Do eixo da palavra atormentada
Onde os sintomas – todos! - são malditos
Prenúncios de revolta estrangulada
E à digestão dos ecos mais aflitos
Por excessos duma ceia inesperada,
Somaram-se, por fim, dois sonhos fritos
À privação geral… mas consolada!
A vocalização desconstruiu-se
Na absurda convergência da partida,
E, pouco a pouco, a chama consumiu-se
No pavio duma rima já sumida
E a palavra ergueu-se e demitiu-se
Da principal função da própria vida…
Maria João Brito de Sousa – 25.12.2011 – 22.55h
publicado às 23:15
Maria João Brito de Sousa
MAIS UM NATAL *
Natal! Como se o Céu pudesse, agora,
Modificar de um sopro a Terra inteira,
Reconstruindo o Mundo de maneira
A decidir quem nasce e a que hora... *
Como se o Sol, que a todos revigora,
Fosse o supremo fim desta canseira
E a luz que dele emana, a derradeira
Tábua de salvação de quem cá mora... *
Natal! Como se as águas não jorrassem,
Como se as terras virgens não pulsassem
Na floração selvagem dos seus lírios, *
Como se as pedras se desmoronassem
E as chamas, a tremer, não se apagassem
Já frias nos pavios dos velhos círios... *
Maria João Brito de Sousa *
18.12.2011 – 15.17h
publicado às 20:56
Maria João Brito de Sousa
É de longe que venho. O que eu vivi!
Quantos prados eivados de ribeiras,
Quantos penhascos, quantas ribanceiras
E quanto esconso vale eu não corri
E o que passou correndo e que nem vi,
Na pressa de correr? Entre carreiras,
Se perdem forças, se ganham canseiras,
Se esquece tanto quanto eu já esqueci.
Às vezes muito tarde, noite afora,
Esperando a madrugada, como agora,
De pálpebras cerradas, mas sonhando,
Outras vezes de dia, a qualquer hora,
Grafando a irreverência da demora
Nalgum quase insondável “sei lá quando”…
Maria João Brito de Sousa – 13.12.2011 – 21.16h
Imagem de um dos megalitos da Ilha de Páscoa, retirada da internet
publicado às 22:18
Maria João Brito de Sousa
Pobrezita de mim, que não sei ser
Senão uma avezinha que gorjeia
E, sobre asas cortadas, revolteia
Sempre a tentar voar, sem o poder.
O que nos versos meus ousei dizer,
Suavizará as penas de quem leia
E pode até tocar quem remedeia
Asas que outrém cortasse, sem saber…
Sobram penas caídas… venham novas,
Geradas na matriz das próprias covas
Das penas que caíram! Velhas penas...
Mãe Natureza, eu sei que tu me aprovas
Quando em folhedo e pétalas renovas
Arbustos, ervas bravas, açucenas…
Maria João Brito de Sousa – 11.12.2011 – 17.44h
Imagem retirada da internet, via Google
publicado às 18:29
Maria João Brito de Sousa
Mui paulatinamente, uns três ou quatro,
Irão adiantando a caminhada
Usando da prudência e do recato
Comum à persistência da manada...
Passaram já as águas de um regato,
Estão perto de uma via alcatroada
E alguns já vão pisando a velha estrada
Assim que alguém lhes tira este retrato...
Os carros, que são poucos, vão parando
E os cascos vão cobrindo o duro asfalto
Conforme a via inteira vai ficando
Recoberta de dorsos coloridos,
Como se a natureza, em suave assalto,
Tentasse dar à estrada outros sentidos...
Maria João Brito de Sousa - 10.12.2011 - 14.49h
Imagem "descoberta" na net
publicado às 14:40
Maria João Brito de Sousa
Ó terra de oiro antigo e céu sem fim
Pontilhada de verde e de castanho,
Eu quero-te sem prazo e sem tamanho
Com este querer maior que existe em mim
Terra de ervas e flores, como um jardim
Espraiando-se orgulhoso em chão de antanho
E onde o corpo móvel de um rebanho
Nos surge e se nos deixa ver, assim.
Que o teu povo magoado te acrescente
Os laços sempre férteis da semente
E possa eternizar-te no seu "cante "
Que a tua voz se eleve eternamente,
Que sempre seja livre a tua gente
E que haja em ti fartura a cada instante!
Maria João Brito de Sousa 06.12.2011 - 15.21h
Reformulado a 22.11.2015
Imagem do Alentejo, retirada da internet
publicado às 15:06