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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
30
Jun11

MARIONETA - sonetilho

Maria João Brito de Sousa

Trago, nos restos de vida

Que a Morte não quis levar,

A memória interrompida

De um sonho complementar

 

Que ousou esgueirar-se à saída

Só para poder tentar

Banhar-se, de alma despida,

Na lucidez de outro mar…

 

Daqui vos ouço e vos leio

Na solidão protectora

Do que conquisto ao destino,

 

Sem timidez nem receio,

Agora, dona e senhora

Dos cordéis com que me animo…

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 29.06.2011 – 18.23h

29
Jun11

POEMA À PRIMEIRA DAS ÚLTIMAS MULHERES

Maria João Brito de Sousa

 

Imaculada, escrevo o que não devo

E inundo a absurda cova do meu fim

Com húmus inventado num jardim

Inexistente e, também ele, primevo…

 

Imaculada… e sei que me descrevo

Com o que de melhor existe em mim

Pois, se não fosse a cova ser assim,

Tão funda, tão escavada em seu relevo,

 

Talvez eu conseguisse enchê-la toda

Destes versos que enlaçam, numa roda,

O desmentir da minha identidade…

 

É, porém, tão mais funda e mais real

Do que é, do mar imenso, amargo o sal…

(mas nunca afirmarei que isto é verdade!)

 

 

 

Maria João Brito de Sousa

22
Jun11

DOR

Maria João Brito de Sousa

Não me doas assim, tão cruamente,

Roubando-me a noção de tudo o mais,

Deixando-me irascível, descontente,

Exausta do suplício em que me esvais…

 

Deixa-me em paz o corpo onde sou cais,

Sozinha, eu sei, mas orgulhosamente!

Devolve-me o meu "eu"  de aonde sais

Pr´a que o poema nasça urgentemente...

 

Quem pode assim escrever, desfeita em dor,

Abafando os gemidos da lamúria,

Sem descanso ou momento de conforto?

 

Quem poderá provar-te sem temor,

Sem que a voz lhe rebente numa fúria,

Ou preferir-te à paz de um cais já morto?

 

 

 

Maria João Brito de Sousa 

20
Jun11

É DAQUI QUE TE ESCREVO

Maria João Brito de Sousa

É daqui que te escrevo,

desta vontade que me veste de Abril,

de poemas e de farrapos também,

 

Daqui,

de onde me reconheço em ti espelhada

embora o perfil simples do meu cravo

sem nome, sem espinhos

e tão menos glorioso,

pareça negar cada verso que nasce…

 

Mas é daqui,

deste lado aguerrido de mim

onde vestida de um Abril em farrapos,

não dispo Abril apesar dos farrapos

de uma resistência que te não sei explicar

mas, presumo,

ninguém imaginaria que florescesse ainda…

 

Daqui,

de onde também eu

aprendi a amar a solidão

e a recriar o mundo

na sombra das ausências,

nos anos – tantos… -  do verde caule

de um mesmo sonho de pétalas ao rubro,

 

Daqui

e porque o poema me apeteceu,

insurrecto e vermelho,

este escrever-te sem rima, nem medo,

com as armas florindo num canto menor.

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 19.06.2011 – 16.31h

17
Jun11

RAPIDEZ CRIATIVA ou POR MAIS QUE...

Maria João Brito de Sousa

Por mais que o sol se ponha, devagar,

Por mais que a estrela-d’alva me sorria,

Por mais que a lua venha iluminar

Aquilo que sobrou de mais um dia,

 

Por mais noite que sobre e o inundar

Da conturbada luz que me alumia

Me inspire ou mesmo tente interpelar…

Por mais que isso aconteça, eu quereria

 

A mesma rapidez do dedilhar

Que a mão, descontrolada, me assumia

E aquele embriagante não parar,

 

Para nem duvidar do que sentia,

Na galvânica pressa de acabar

O que nem começado `inda estaria…

 


 

 

Maria João Brito de Sousa – 16.06.2011 – 20.04h

16
Jun11

QUE CULPA?

Maria João Brito de Sousa

Que culpa tinha ele da sua dor

Sem medida, nem fundo ou amplitude?

Que culpa, a dessas asas de condor

Em constante mudança de atitude?

 

Que culpa tinha o mar da sua cor?

Que culpa tinha a Culpa se a Virtude

Se culpava a si própria e, nesse ardor,

Mostrava quanto dela nos ilude?

 

Mais tarde serenou, calou bem fundo

As paixões funcionais que convocara

E encomendou ao Tempo a sua cura.

 

Sobreviveu culpando meio mundo

Por cada cicatriz que lhe ficara

De um tempo em que essa dor fora mais dura…

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa

13
Jun11

O DIPLOMA E O PRÉMIO - V CONCURSO POESIA EM REDE

Maria João Brito de Sousa

 

Nasceu-me, hoje, um soneto descuidado,

Fazendo ouvidos moucos à razão,

E todos vão pensar que veio em vão

Pois jamais gostará do nosso Fado

 

Mas o que aconteceu foi que, o estouvado,

Não sabendo fingir, nem dizer “não”,

Mal ouve os mil acordes da canção

Corre a abraçar-se a ela, alvoroçado…

 

Coitado do soneto… apaixonou-se

Por um fado qualquer que então passava

Nos lábios de um fadista, nas vielas,

 

E nem sabe dizer quem foi que o trouxe,

Que guitarra, trinando, assim chamava,

Que estranhas vibrações foram aquelas…

 

Maria João Brito de Sousa – 21.01.2011 – 19.01h

 


08
Jun11

DAS TOURADAS E DAS GRANDES CONVICÇÕES - Carta aberta ao meu avô poeta

Maria João Brito de Sousa

… e depois, António,

eles benzer-se-ão e partirão gloriosos

para a mortandade

sem que os tenhamos podido desculpar

e agradecerão as palmas

com a consciência do ritual cumprido

e haverá crianças

- crianças como eu era quando,

ao vê-los,  fugia do ecrã da televisão… -,

haverá crianças, António,

que também baterão palmas

e que crescerão embaladas

pela apoteótica matança,

abençoadas pelo deus a que eles se confiaram

e em que eu nunca acreditarei

porque, perdoa-me, António,

eu não posso, nem quero, acreditar

nesse mesmíssimo deus cruel e estúpido,

se ele for tão estúpido e tão cruel

que abençoe a ritualização da tortura…

 

 

 

Ou fomos nós que

sempre estivemos enganados?

Ou fomos nós que

errámos quando condenámos a raiz comum

de todas as descriminações

e de todas as atrocidades?

Ou éramos só nós que víamos,

nos olhos do touro,

a mesma inocência dos dos cristãos novos, no Paço,

dos dos negros, nos porões das naus,

dos dos judeus, em Auschwitz,

dos dos nossos amigos, nas masmorras da Pide?

 

Todos diferentes, todos animais,

António…

 

E eu, António,

eu que, hoje, como há cinquenta anos,

os sinto, os entendo

e, do mais fundo de mim,

os tento perdoar,

não consigo deixar de condenar

essa crua faceta de tantos

 

tantos dos que,

caminhando sobre duas patas,

acreditam que a dor é monopólio seu

e que a racionalidade

lhes confere o direito de SERem os únicos.

 


 

TODOS DIFERENTES, TODOS ANIMAIS!


 

Ao meu avô, António de Sousa, Poeta, tradutor, advogado, crítico literário e um daqueles seres vivos que sempre acreditaram na sensibilidade de todos os outros.

 

Maria João Brito de Sousa - 07-06-2011-11:41h


[against all odds, com honras de blog principal]


 

Ps – Perdoa-me se te arrasto o nome para o campo de uma batalha que prevejo desproporcional, dura e infindável. Por esta altura, tu, lá na tua Ilha de Sam Nunca e eu, ainda por cá, fisicamente desgastada, pouco mais poderemos emprestar para além disto; nome e versos… mas não fomos nós quem sempre acreditou na força das convicções e das palavras que as levam mundo afora?

 

03
Jun11

O FRUTO DO OVO

Maria João Brito de Sousa

 Que pássaro voou? Que lume acende,

Neste terreno palco, uma vontade

Que não desiste nunca e se não rende

Enquanto não alcança a liberdade?

 

Que absurdo gesto nega e se não vende,

Que lágrima a sulcar-me esta saudade

Me traz quanta vontade aqui me prende?

E quem me diz a mim que isto é verdade?

         

Foi a asa de um anjo imperativo

Que, apontando este espaço onde me vivo,

Me pediu para olhá-lo desde os céus,

 

Ou o fruto de um ovo, aceso em chamas,

Trocando as tibiezas que proclamas

Por quanto eu não conheço e chamo Deus?

 


 

Maria João Brito de Sousa

01
Jun11

NO DIA DA CRIANÇA - 01.06.2011

Maria João Brito de Sousa

 

No dia da criança,

venho dizer-te bom-dia, mãe,

e olhar o teu sorriso

na memória das sardinheiras quase murchas,

mas ainda vermelhas, mãe,

nas conchas de barro onde as plantavas

 

Venho,

neste dia da criança,

lembrar-te, mais uma vez,

que te amo, mãe,

e agora,

que não sei se és, nem onde és,

confessar-te que sempre considerei

que olhavas demasiado a superfície das coisas,

que te esquecias de reparar

nas raizes do tempo por detrás das janelas

e nos sonhos

para além da luta pelo abraço imediato

 

Mas isso era eu, mãe,

eu tão pequenina como as sardinheiras,

tão abraçada às raizes do tempo,

tão estranhamente além das janelas,

esquecida,

também eu,

de não poder julgar-te

porque eras tu, afinal,

quem plantava as sardinheiras e sorria

sem suspeitar, sequer, de que viriam a murchar…

 

Hoje, dia da criança,

dia em que não sei se és, nem onde és,

mas não esqueço que foste,

uma lágrima, mãe,

só uma, como tu,

que tanto medo tinhas da morte

e te deixaste levar

sem teres percebido

que as sardinheiras murcham

a seguir ao abraço das raizes do tempo…

essas que estavam por detrás das janelas

além da superfície

das coisas- tantas! –

que nunca chegaste a descobrir

 

E fica-me

o teu sorriso

por detrás da janela,

vermelho como as sardinheiras,

enquanto nesta lágrima,

tão única como tu,

tão eterna quanto o tempo,

hoje, como dantes, Mãe,

tento esquecer a superfície das coisas…

 

 

Maria João Brito de Sousa – 01.06.2011 – 09.29h

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