Maria João Brito de Sousa
Sem dizer uma mentira,
Sem falar do que não sinto,
Espero que ninguém me fira
Ou, sequer, julgue que minto.
Sou, do mundo, o que nele gira
Sem me negar esse instinto
Do que à vida me retira
Quanto do sonho eu consinto.
Sou aquilo que sobrar
De um mundo em ebulição
Na tropopausa gelada,
Na condição de encontrar
No auge da privação,
Qualquer coisa;- ou tudo, ou nada!
Maria João Brito de Sousa - Maio 2011
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publicado às 14:09
Maria João Brito de Sousa
Se eles sabiam do mel que tu coavas
Nos palácios das doces fantasias
Que construías, mas nunca habitavas,
Nem nas mais improváveis invernias…
Se eles sabiam… sabiam! Tu sonhavas,
Coando o mel que nunca provarias
Pois, dos favos etéreos que moldavas,
Nenhum seria teu, bem o sabias…
Coavas por coar. Outros viriam
Roer as malhas vivas que entendiam
Poder saborear quando chegasse
O tempo da colheita que fariam
Com as mãos inocentes que teriam
Se um futuro menor lhas não negasse…
Maria João Brito de Sousa – 26.05.2011 – 23.44h
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publicado às 12:00
Maria João Brito de Sousa
Minha canção das margens inconstantes
Rasgando a pradaria dos sentidos,
Meu rio de águas revoltas mas brilhantes
A começar do nada, em tempos idos,
Minha ribeira brava dos instantes
Que acrescentaste aos dias já vividos,
Das lonjuras, dos sonhos mais distantes
Que à partida me foram prometidos,
Meu leito, derramando em terra ardente
O abraço da vontade que não morre
Do riso que descrê, mas não desiste,
Meu líquido poema omnipresente
Nas águas de um futuro que dele escorre
E à qual, embora querendo, não resiste.
Maria João Brito de Sousa – 24.05.2011 – 15.17h
publicado às 11:14
Maria João Brito de Sousa
PR`ALÉM DO MAR
*
Pr´além do mar havia um outro mar
E, pr`além desse mar, outro também
E outro e outro… era um nunca acabar
Dos mares que dele nasciam, mais além.
Havia um mar ainda por explorar
Quando por um dos mares passava alguém
E cada mar tentava em vão chamar
Todo o que, olhando o mar, não visse bem
Tanto mar! E ninguém acreditava
Pois todo aquele que o via procurava
Olhar só para o mar perto de si
E, apesar do mar que vislumbrava,
Não diria, jamais, que acreditava
Nos mares pr`além do mar que havia ali.
Maria João Brito de Sousa – 21.05.2011 – 15.00h
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http://www.raizonline.com/radio/ Não perca a boa poesia online!
publicado às 12:18
Maria João Brito de Sousa
Quando o sol vem mostrar que bem-me-quer,
Tal como quer aos melros e pardais,
Respondo-lhe que o quero ainda mais,
Que, às vezes, sou mais ave que mulher…
Mas, se uma lua cheia acontecer,
Redonda em seus abraços vesperais,
Aceno-lhe a sorrir, faço sinais
Para que ela, ao espreitar, me possa ver…
Tão ave quanto as aves, mas sem asas,
Fico a vê-las voar por sobre as casas
Enquanto estes dois astros, impassíveis,
Iluminando todos por igual,
Não diferenciam homem de animal,
Nem cuidam quais banais, quais intangíveis…
Maria João Brito de Sousa – 19.05.2011 – 10.05h
publicado às 14:26
Maria João Brito de Sousa
Fala das coisas que eu não sei esquecer
Se, mais do que eu, souberes falar de mim;
Fala da casa velha e do jardim
Onde eu plantei a alma e quis crescer…
Fala de mim, menina, a querer saber
Dos anseios do pé do seu jasmim,
A interrogar-me sempre, até ao fim,
Sobre ele saber-me, ou não, compreender,
Da gata adormecida aos pés da cama,
Do velho avô, vestindo o seu pijama,
A “poetar” até de madrugada,
Da avó que vinha ver se eu já dormia
- sem nunca descobrir que eu só fingia -,
Se, pr`ouvi-lo melhor, estava acordada…
Maria João Brito de Sousa – 15.05.2011 – 15.48h
publicado às 16:22
Maria João Brito de Sousa
Nasceu-me, hoje, um soneto descuidado,
Fazendo ouvidos moucos à razão,
E todos vão pensar que veio em vão
Pois jamais gostará do nosso Fado
*
Mas o que aconteceu foi que o estouvado,
Não sabendo fingir, nem dizer não,
Mal ouve os mil acordes da canção
Corre a abraçar-se a ela, alvoroçado…
*
Coitado do soneto… Apaixonou-se
Por um fado qualquer que então passava
Nos lábios de um fadista, nas vielas,
*
E nem sabe dizer quem foi que o trouxe,
Que guitarra, trinando, assim chamava,
Que estranhas vibrações eram aquelas…
*
Maria João Brito de Sousa – 21.01.2011 – 19.01h
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http://poesiaemrede.no.sapo.pt/
publicado às 12:21
Maria João Brito de Sousa
GANHEI O V PRÉMIO POESIA EM REDE !!!
http://poesiaemrede.no.sapo.pt/
ABRAÇO GRANDE!
publicado às 17:49
Maria João Brito de Sousa
Olho este povo cansado
De ver a vida a passar,
De viver das aparências
Na mais dura das carências
A que o vão fazer chegar
Para o terem bem calado…
Meu povo tão criativo
De poetas e cantores,
Gente com caule e raiz
Que nunca será feliz
Nas mãos dessoutros senhores
Que o querem manter cativo
Vejo a gente nas canseiras
Das noites sobressaltadas
Pelos dias sempre incertos
E nos olhos, muito abertos,
Mil perguntas formuladas
De mil e uma maneiras…
Ah, povo, se fores dormir
E eles tentarem sufocar
O cravo que tens no peito
Ao roubarem-te o direito
De viver, de trabalhar
E, até mesmo, de sentir…
Oiço a gente que murmura,
Que duvida e quer respostas,
Que não consegue entender
Porque é que há-de acontecer
Que as regras sejam impostas
Como eram na ditadura
Povo de garra, com garras,
Que rosna sob um chicote
Que a muitos soube calar
Mas que recusa aceitar
As loucuras de um Quixote
Que nunca vestiu samarra!
Não cales, povo que sofres,
A tua revolta imposta
Por amos que não quiseste!
Mostra-te indómito, agreste,
Diz que Portugal não gosta
Que disponham dos seus cofres
Ou da força dos seus braços
Cansados de não saber
Se, amanhã terão trabalho,
Se lhes fica, ou não, retalho
Do que puderem colher,
Do fruto dos seus cansaços!
[este povo inda tem garra
pr` a derrubar os chicotes
que o tentarem subjugar
e recusa-se a aceitar
ordens vindas de Quixotes
sem burrico e sem samarra!]
Maria João Brito de Sousa
publicado às 12:09
Maria João Brito de Sousa
Meu país da liberdade,
Desse Abril que há tantos anos
Escreveu a sua vontade
Com cravos florindo em canos
De espingardas sem idade
Nas mãos erguidas, sem amos,
Que em nome de outra verdade
Negaram velhos arcanos!
Desnuda-se hoje a raiz
Desse sonho inacabado
Na fome de quem o fez!
Ó jovens do meu país,
Ergam-lhe um cravo encarnado,
Façam-lhe Abril outra vez!
Maria João Brito de Sousa
SONETILHO DE ABRIL
publicado às 17:35
Maria João Brito de Sousa
Tropeçou, o Poeta, no seu manto…
Quem lhe procura a voz que está caída
Nas pedras do caminho, em qualquer canto?
Poeta que caiu, tem voz perdida
E de nada lhe serve sê-lo tanto
Se não encontra a voz que é, à partida,
O único bordão do seu encanto…
Se a voz se lhe perdeu, está desmentida!
Poeta, encontra a voz que te caiu
Ou nunca chegarás a ser Poeta
Neste mundo de quedas e tropeços!
E, se alguém te empurrou, ninguém o viu;
Foste tu, nessa cauda de cometa,
No teu vaivém de eternos recomeços…
Maria João Brito de Sousa – 30.04.2011 – 14.12h
publicado às 12:18