Maria João Brito de Sousa
Morderei todo aquele que me morder!
Sou bicho que ninguém domesticou,
Que invadiu, doa lá a quem doer,
História(s) da Vida que ninguém contou.
Meu ideal? Tão só sobreviver
Neste astro azul que o homem dominou
Porque tudo o que faz – ou quer fazer… -
É sobrepor-se a excessos que engendrou
E, no entanto, também eu sou vida,
Exactamente como ele sempre o foi
Desde o momento exacto em que sentiu
Que aquilo a que aspirava, na subida,
Era ao protagonismo de um herói
Que a própria natureza desmentiu…
Maria João Brito de Sousa
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publicado às 17:08
Maria João Brito de Sousa
No prólogo da nova cantilena,
Urrando, a arrepiante criatura,
Deixava vislumbrar estranha melena
E ferozes dentes, d` uma imensa alvura…
Do alto do penhasco, em noite amena
Que aquela lua nova tornou escura,
Rompendo dessa imensidão serena
De uma forma brutal, tremenda, impura,
Um urro inconformista e desconforme,
Tão incomensurável, tão enorme,
Que arrepiava mesmo o mais valente,
Mostrava, a quem velando nunca dorme,
Que pode nem haver quem se transforme
Mas que, num pesadelo, há sempre um “dente”…
Maria João Brito de Sousa – 19.04.2011 -19.44h
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publicado às 12:29
Maria João Brito de Sousa
Sei que me passo, sim, de quando em vez,
Porque o meu dia-a-dia está composto
Por mil dúbias respostas aos porquês
De quem plantou, mas só colheu desgosto
*
Pois sempre se passa um português
E a ira vem, de vez, turbar-lhe o rosto,
É provável – bem mais do que um talvez –
Que a causa seja juro ou seja imposto…
*
Mas… que posso fazer senão passar-me
Quando a sobrevivência irá custar-me
Mais do que vou ganhando em cada dia?
*
Entrar em depressão? Chorar? Calar-me?
Não é comigo, não! Sinal de alarme!
Cada verso me estua a rebeldia!
*
Maria João Brito de Sousa
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publicado às 11:36
Maria João Brito de Sousa
Nasceu-me agora Abril, quando sonhava…
Mas não é por Abril me ter nascido
Que eu deixarei morrer o que me é querido
Ou que me esquecerei do que cantava
Nasceu-me de uma corda que vibrava
Num trinado qualquer, mal pressentido,
De um verbo a vacilar no desmentido
De outro que era menor mas que o calava.
E o que é feito de Abril no novo Abril
Em que se redefine outro perfil
Para este meu país tão castigado?
E vibra-me outra corda… e já são mil
As cordas que, vibrando em tom subtil,
Me falam desse Abril sempre negado.
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada da internet
publicado às 17:12
Maria João Brito de Sousa
Eu sei lá s`inda sei falar, sequer,
Das coisas sem ter fim que há por aí,
Que se vestem das cores com que eu as vi
E que, através de mim, se dão a ver…
Do muito qu`inda possa acontecer
A partir desse tanto que escrevi,
Não posso adivinhar, ou já esqueci,
Se é possível, ou não, vê-lo nascer…
Mas dou ainda um passo! Um passo incerto,
Sem saber se estou longe ou se estou perto
Do que sei ser a última fronteira
Do que de mim sobrar, tendo por certo
Que esta vontade escreva em desconcerto
Com tudo o que é banal ou "pasmaceira"…
Maria João Brito de Sousa – 12.04.2011 – 14.53h
publicado às 16:03
Maria João Brito de Sousa
Só aves, saltitando nas ramadas
Dos arbustos, em torno das palmeiras,
Me falarão das coisas derradeiras
Que há por dentro das frases desgastadas
Só essas escutarei quando, escusadas,
Me impuserem palavras altaneiras,
Que eu tentarei esquecer-me das canseiras
Das horas que nem foram convidadas…
E agora, que reparo no que digo,
À hora em que os pardais se vão deitar
E o céu se vai vestindo de outra cor,
Cada rima, a voar, vem ter comigo,
Já preparada para pernoitar,
Como faz qualquer pisco ou beija-flor…
Maria João Brito de Sousa
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raizonline@hotmail.com
Esta noite, entre as 22 e as 24.00h, oiça boa poesia no programa SABOREANDO de Joaquim Sustelo -
publicado às 15:57
Maria João Brito de Sousa
Ó Musa de luar e de alfazema,
De sândalo, nos dias de chorar,
De sol, nas minhas veias de poema
E em cada novo verso que eu criar
Cada ave que lá vem, em cada pena,
Traz as velhas canções de me embalar
E a tarde, mesmo agreste, emerge amena
Das mil penas dos versos que eu cantar
Criar por te sentir aqui, tão perto,
Por dentro de quem sou, ter descoberto,
Contigo, o meu sentido para a vida,
É, abraçando um novo rumo incerto,
Criar raiz no tempo em que desperto
E renovar-me, embora desmentida
Maria João Brito de Sousa – 03.04.2011 – 12.20h
raizonline@hotmail.com
Esta noite, oiça boa poesia na RÁDIO RAIZ ONLINE, com Arlete Piedade
publicado às 12:03
Maria João Brito de Sousa
Vou falar de operações e de parcelas,
De contas de somar, ou de… sumir,
Tendo o cuidado de fazer com elas
Um soneto menor que faça rir.
Terei de me munir de mil cautelas,
Pois ambos têm leis pr´a se cumprir;
Técnica pura e regras paralelas
A que poeta algum deve fugir!
Soneto é mesmo assim. Provas reais
Não poderão faltar, nem são demais,
Devendo repetir-se à exaustão
E distar algum tempo, pois se vais,
Alguns dias depois, rever totais…
Os erros sem ter fim que pr`ali vão!
Maria João Brito de Sousa Abril, 2011
publicado às 12:09
Maria João Brito de Sousa
Havia um mar algures, num tempo incerto,
Gerando a vertical deste meu querer…
Mar galvanizador, sempre a crescer
Por dentro de mim mesma, a descoberto,
Galgando quanto havia ali por perto,
Subindo mesmo o que era pr`a descer,
Um mar em mim, essência do meu ser
Transformada, que foi, em livro aberto...
Genuíno mar com ondas e marés
Em que liberto a escrava das galés
E onde me encontro, sempre em maré cheia,
Com esse mar que, às vezes, também és
Sempre que desço pr´a molhar os pés
Num mar, algures em nós, galgando a areia.
Maria João Brito de Sousa – 01.04.2011- 09.16h
publicado às 11:14