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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
30
Set10

CANTO DE UMA ANTIQUÍSSIMA MEMÓRIA

Maria João Brito de Sousa

 

 

Lembras-te dos caboclos, já cansados,

Enchendo a escadaria de queixumes?

Dos carregos dos móveis, mal atados,

De arestas afiadas como gumes?

 

 

E lembras-te de mim que, aos castigados,

Enchia de perdões, dando perfumes?

A pena que eu senti dos desgraçados

A quem tu foste impondo os teus costumes…

 

 

Lembras-te do escritório, dos teus quadros,

Da enorme cozinha onde as mulatas

Preparavam segredos culinários

 

 

E cantavam baixinho aos seus amados?

Lembras-te do brilhar das velhas pratas

Por cima da janela e dos armários?

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa

 

 

Imagem retirada da internet

 

 

"Le philosophe, lorsqu`il n`a pas de motif pour juger, sait rester indeterminé"

 

DIDEROT

29
Set10

A CADA FARINHA, SUA SACA

Maria João Brito de Sousa

 

 

“Não tentes comandar-me. Eu vou sozinha!”

Entendo-te a surpresa; não conheces

O exacto teor das minhas preces

Nem aceitas que a escolha seja minha…


Põe sempre em cada saca uma farinha

Senão, mais valeria que as perdesses

Ou que as não cozinhasses nem comesses

Porque a mistura é sempre uma adivinha;


Quase nunca uma espiga dá um grão

Que seja exactamente igual a outro,

Pois mesmo sendo grãos de um mesmo trigo,


Pode um servir pr`a bolo, outro pr`a pão…

Não queiras misturar pois, se és tão douto,

Decerto o teu estará bem dividido…

 

 


Maria João Brito de Sousa

 

 

 

"Materialisme et spiritualisme sont les deux pôles de cette même absurdité qui consiste à croire que nos pouvons savoir ce que c`est la matière ou que l`esprit."

 

Huxley

28
Set10

O NASCIMENTO DA NORMA

Maria João Brito de Sousa

 

Escreve-me uma cartinha pessoal

- meia dúzia de linhas bastarão -

E eu talvez te escreva uma outra igual,

Ou talvez, afinal, nem escreva, não.

 

 

Possivelmente irás levar-me a mal,

Mas, quase nunca tenho um só tostão

E  a essa situação, por ser,  normal

Não lhe presto, sequer, muita atenção,

 

 

Mas quero que, no fim, te identifiques

E, sabendo que eu sou muito esquecida,

Te tornes mais preciso e que me indiques

 

 

Referências de espaço, tempo e forma,

Ou nem respoderei, por estar perdida

E porque a recorrência gera a norma...

 

 

 

Maria João Brito de Sousa- 28.09.2010

27
Set10

SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XIX

Maria João Brito de Sousa

 

 

FICCIONANDO

 

 

Eu amo a Poesia e a Verdade

E o meu pior pecado é não mentir…

Ficcionar? Tudo bem, se permitir

Que a ficção venha a ser realidade.

 

 

Se ficcionando  alcanço a liberdade

- tanto quanto eu a posso pressentir... –

Já dela não me quero redimir,

Nem dela me afastar pela vontade.

 

 

Veloz, a poesia, me precede

E seguindo atrás dela nunca hesito

Em chegar onde alcança um simples verso;

 

 

Uma mesma vontade nos concede

Tentar ir `inda além do infinito

E vir a conhecer outro universo…

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 26.09.2010 – 15.32h

 

 

 

"I`M EVERY WOMAN..."

 

 

Eu sou cada mulher que vai morrendo

C`o filho adormecido nas entranhas,

Cada gesto do grito em que me acendo

E em que ensanguento os cumes das montanhas.

 

 

Por cada uma delas me apedrejam,

Por cada uma delas ressuscito,

Por cada uma exijo que me vejam

E reafirmo aquilo em que acredito.

 

 

Eu sou cada mulher. Ela também.

Sou filha, companheira, amante e mãe

De cada pulsação desse teu peito.

 

 

Sou quem te complementa e te ultrapassa,

Bicho moldado dessa mesma massa

De que, afinal, também tu foste feito...

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 26.09.2010 – 14.34h

 

 

 

FADO [MUITO] MALANDRO

 

 

 

Era noite, rompia a madrugada

Com a Lua já quase a adormecer,

Quando, enfim, acordei, alvoroçada,

Porque o Sol estava já quase a nascer,

 

 

Veio a Lua encontrar-me ali deitada,

Olhando para ti, mas sem te ver,

Jurando não te querer nada de nada

Pois sempre que te quis foi só “por querer”…

 

 

Ouviam-se uns acordes de guitarra

E o dia acontecia sem saber

Se a Lua se deitara amargurada

 

 

Porque o Sol começava a enrubescer

Ou se, ao invés, se rira à gargalhada

Daquilo que ali estava a acontecer…

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 25.09.2010 – 22.39h

 

24
Set10

O POEMA QUE O CORPO ME RECUSAVA

Maria João Brito de Sousa

 

Se um poema dependesse só de mim

E não desses milhares de variáveis

Que se não sabe quando têm fim

E que jamais se tornam dispensáveis,

 

Ou se escrevê-lo fosse sempre assim,

Tão certo quanto os meus inevitáveis...

Mas não! Erva que cresça num jardim

Expr`imenta mil destinos improváveis...

 

Agora, neste alívio de proscrita

Que aqui vai renegando o seu castigo,

A tactear, como se se espantasse,

 

Deixo, enfim, um poema que acredita

E que agora mostrou ser meu amigo

Por muito que o meu corpo o recusasse...

 

 

 

Maria João Brito de Sousa

22
Set10

SEI LÁ II

Maria João Brito de Sousa

 

Sei lá se posso, ou não, continuar,

Se devo ou nem sequer devo escrever,

Se vale, ou não, a pena `inda teimar

Quando a vontade teima em não nascer...

 

Não sei! Nem sei se posso acreditar

Que amanhã ou depois me vá esquecer

E que a vontade volte a conquistar

Um dom que lhe parece não caber...

 

Perdi-me e não me encontro sem escrever-me

Mas escrever-me não sei sem me encontrar,

Por isso nada sei! Não me perguntem

 

Que estranha coisa está a acontecer-me,

Porquê este soneto a gaguejar

Nas palavras que ainda repercutem...


 

 

Maria João Brito de Sousa - agora, só porque seria perigoso para a minha permanência física não me nascer, sequer, um péssimo soneto.

21
Set10

NÃO FALES DO QUE NÃO SABES

Maria João Brito de Sousa

 

Não me venhas dizer que é este o preço

Que tenho de pagar mais uma vez!

Não me venhas falar do que não vês

Pois posso valer mais que o que pareço…

 

 

Nada tenho pr`a dar-te e nada peço.

Só quero a minha paz porque talvez

Eu tenha um bem maior que os teus porquês

Na estranha lucidez em que me meço.

 

 

Não venhas de mansinho e disfarçado

Com as falinhas mansas do costume;

Não finjas ser um nobre protector,

 

 

Porque é possível que já tenhas dado

Mais que o suficiente desse estrume

Com que tentas cobrir tudo em redor.

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 20.09.2010 – 22.02h

 

 

IMAGEM RETIRADA DA INTERNET

20
Set10

AINDA BEM QUE HÁ LOBOS SOLITÁRIOS II

Maria João Brito de Sousa

 

 

Ainda bem que há lobos solitários

E que os falsos profetas, se existirem,

Serão sempre execráveis mercenários

Capazes de exultar quando mentirem.


Ainda bem que alguns são solidários

Que, ao dar-se, não será para pedirem,

Em troca, mil favores para os cenários

Que muitos têm medo que lhes tirem.


Ainda bem que que existe um lobo assim,

Capaz de dar-se inteiro e sem esperar

Mais do que essa alegria do momento.


Depois, o solitário lobo em mim

Range os dentes, nauseado, ao constatar

Que alguns vão vendo nisso um fingimento.

 

 


M. João Brito de Sousa

17
Set10

QUINTA E SEXTA FEIRA

Maria João Brito de Sousa

 

 

CONVERSAS DE MÃE PARA FILHO II

 

 

Vens magoado e esculpido pela sorte

Que em nada bafejou a tua vida,

Revoltado, sem pouso e já sem norte,

Sondar a felicidade prometida…


E não, não era este o teu transporte.

Esta aproximação mal conduzida,

Vai deixando, em nós dois, o travo forte

Da situação que está comprometida.


De nada me serviu tanto poema,

Tanta verdade e tanta confissão;

Ninguém entendeu nada do que eu disse!


Também ninguém entende que o problema

Só se exacerba na contradição

De quem, querendo ajudar , faz mais tolice…

 

 


Maria João Brito de Sousa

 


“Il ne faut pas s`affliger de n`être pas connu des hommes, mais s`affliger de ne pas connaître les hommes."

Confucius, Entret. 1.16

 

 

 

SOPRA O VENTO

 

 

Vai o vento soprando em derredor

Deste corpo despido de ideais

E enquanto o vento sopra, mais e mais,

Vão-me esses ideais ganhando cor.


Se enquanto o vento sopra, faz calor

Os corpos que se despem são normais

Pois surgem-lhes ideias geniais

E aprendem a despir também a dor


Mas, quando o frio aperta e já gelado

O meu corpo me pede mais cuidado

Não vá gelar também o que o anima


Peço ao vento que o deixe sossegado,

Ficam os ideais postos de lado

E é ao vento que entrego a minha sina…

 

 

 


Maria João Brito de Sousa – 16.09.2010 – 18.28h

 

 

15
Set10

VER-ME ONTEM, VER-ME AGORA

Maria João Brito de Sousa

 

Vês-me como me viste em tempos idos;

Ingénua, incauta e até perturbadora,

Rastejando nos trilhos mais escondidos…

Vês tudo o que em mim viste e vês-me agora.


Vês-me chorando os mais desprotegidos,

Amando as plantas, tal como era outrora,

Subindo enquanto desço o já subido,

Descendo se só penso em ir-me embora


E, se assim tu me vês, assim serei!

A teus olhos me moldo e pouco importa

Que eu te fale das coisas como as sinto,


Que desvende o que nunca te mostrei,

Te aponte o esconderijo ou te abra a porta,

Pois nunca aceitarás que te não minto…

 

 


Maria João Brito de Sousa

14
Set10

O DESENROLAR DOS TEUS DIAS

Maria João Brito de Sousa

 

 

Tu estavas em silêncio, os olhos postos

Na imensidão do mar dentro de ti

E, por fora de ti, estavam mil rostos

Curiosos de te verem por ali.


Teus olhos nada viam; nem desgostos,

Nem medos ou razões. Dentro de si,

Os outros, os que te iam sendo impostos,

Tremiam, tal e qual como eu tremi.


Tu estavas em silêncio, mas não estavas

Ali, onde o rugir das ondas bravas

Assustava os demais que as contemplavam


E nesse teu silêncio me bastavas,

Sem que desses por mim me conquistavas

E era assim que os teus dias se passavam…

 

 


Maria João Brito de Sousa – 07.09.2010 – 11.41h

13
Set10

SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XVIII

Maria João Brito de Sousa

 

BEM TE VI

 

Bem te vi, velho cuco que passavas

Na mira de ocupar alheio ninho

E, repleto de pão, farto de vinho,

Nem por um só segundo vacilavas.

 

 

Bem te vi quando tanto procuravas

Voando sobre a mata e, de mansinho,

Mergulhavas a fundo, tão baixinho

Que quase – temi eu… – te despenhavas.

 

 

Bem te vi, mas não disse ter-te visto

Na tua insana busca. A natureza,

Deste mesmo planeta em que eu existo

 

 

Te criou alheado das razões

Que me vão tendo, a mim, nesta pobreza…

(E não. Nenhum de nós teve ilusões.)

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 04.09.2010 – 11.29h

 

 

 

O LOUCO, O ENIGMA E A ESPERA

 

 

 

… e ria-se das coisas que não tinha

Esquecido, já, das tantas que tivera

Se, em noites de luar, descia à vinha

Ébrio do louco amor que tinha em Hera



E, a seguir, nos vinhedos, se entretinha,

Tão nu como se a própria Primavera

Da nudez lhe engendrasse uma adivinha

Que decifrasse a dor de cada espera…



Se chovia, explodia num desnorte!

Escorria-lhe esse estigma encosta abaixo,

Turbava-se-lhe a fronte em desespero



E, louco, maldizendo a sua sorte,

Sumia-se entre as pedras, cabisbaixo,

Ansiando exactamente o que eu nem espero.

 

 

Maria João Brito de Sousa  - 13.09.2010





 

 



Maria João Brito de Sousa – 05.09.2010 – 11.50h



NOTA – Soneto reformulado a 22.08.2015

 

 

 

 

 

 

HOJE

 

 

Hoje não será dia de poema

E, caso os anjos falem, só dirão

Que eu, hoje, ostentarei o velho emblema

Da minha apetecida solidão.

 

 

Hoje é um dia mudo e não há tema,

Nem motivo, nem verbo ou convicção,

Não há uma alegria, um só problema

Que possam merecer-me uma atenção.

 

 

Hoje este meu soneto não tem voz…

É estático, insondável e proscrito

E não aspira a mais do que ao mutismo.

 

 

Ato as amarras d`alma com mil nós,

Desminto absurdamente o que foi escrito,

Cerro os dentes, engulo o meu lirismo!

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 07.09.2010 – 10.08h

 

 

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