Maria João Brito de Sousa
Antes de mim, só sonho e, porventura,
Aquilo que haveria de existir.
Depois uma envolvência, cio, ternura…
Rituais que estar vivo faz surgir.
Viver é, sobretudo, uma aventura
E ainda aventura o persistir
No perpétuo mistério da procura
E na glória imperfeita de o sentir.
Antes de mim, antes de cada vida,
Um vazio por encher talvez esperasse
Mais um outro qualquer procriador
Pois cada vida deve ser cumprida
Tanto quanto se possa e tudo nasce
Por obra e graça de um poder maior…
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada da internet
publicado às 11:10
Maria João Brito de Sousa
Eu visto este insepulto simulacro
Do corpo a que estar viva me condena
E rasgo, véu a véu, o gosto amargo
De tudo o que nascer da minha pena…
Quantas vezes luzi por entre os astros?
Em que órbitas se traça a estranha cena
Da colisão estelar, nos céus mais vastos,
Quando a nossa visão se torna plena?
Ah, que estranhos caminhos nos apontam
A morte e o nascimento de uma estrela
E esse imenso caos do seu confronto!
Majestosos titãs, quando se encontram
- de uma grandeza absurdamente bela! –
E, à vista desarmada, um mero ponto…
Maria João Brito de Sousa – 29.07.2010 – 00.02h
Imagem retirada da internet
publicado às 11:17
Maria João Brito de Sousa
Nos olhos desvendados de quem chora
Moram novas razões… quem o não sabe?
Antes que a luz se vá, que o dia morra,
Antes que o próprio choro se lhe acabe,
Antes do repensar de uma demora,
Antes desse soluço que os invade,
Antes que vá chegando a sua hora
E antes da razão que lhe não cabe,
Nos olhos de quem chora se desvenda
Um mar, todo inteirinho e revoltado
Por ondas gigantescas que só morrem
Quando houver quem ensine e quem aprenda
Que o mar que vem dos olhos é escusado,
Tal como o sal das lágrimas que escorrem.
Maria João Brito de Sousa
publicado às 11:24
Maria João Brito de Sousa
Hoje não há sonetos! Hoje vou preparar-me para, amanhã, estar na TVI, nas Tardes da Júlia, a falar sobre estes - e outros... - amiguinhos. Estes que comigo partilham, há tantos anos, os bons e o maus momentos.
Os sonetos voltam depois de amanhã, se Deus quiser.
publicado às 15:16
Maria João Brito de Sousa
Eu canto este animal que existe em mim;
Pacífico, leal, vocacionado
Para não desistir, antes do fim,
Do que quer que tivesse começado.
Canto este bicho que descreve, assim,
Momentos do que em si foi já passado
E o enfeita com hastes de alecrim
Consciente de um fim sempre adiado…
Canto, em boa verdade, a minha vida;
Os meus cinco sentidos – e algo mais… -
Sob a teia lunar de uma envolvência
Aleatoriamente traduzida
- como a de tantos outros animais –
Naquilo que a que chamamos de vivência…
Maria João Brito de Sousa – 23.07.2010 – 00.32h
publicado às 15:18
Maria João Brito de Sousa
Como posso eu escrever seja o que for
Se, hoje, esta insegurança me venceu,
Se o tal subsídio, desfeito em vapor,
Se faz tardar... ou desapareceu?!
Ninguém me diga nada, por favor!
Eu já pensava tê-lo como meu
E, de repente, some-se um valor
Que eu- julgo... - o meu trabalho mereceu!
As contas que não esperam por ninguém
Não vão dar-me um segundo de sossego
E um desabafozinho é admissível...
Se agora eu não escrever assim tão bem
É porque estou zangada e não o nego!
[raramente sou má, fico irascível...]
Maria João Brito de Sousa - agora mesmo, sem grande vontade e com uma pitada de "zanga"
IMAGEM - Caricatura de António de Sousa nos seus tempos de Coimbra
publicado às 14:43
Maria João Brito de Sousa
Não sei o que fazer… nem um soneto,
Por mais pobre que seja- ou menos bom… -,
Por mais “de pé quebrado” ou incompleto,
Se digna bafejar este meu dom!
Portanto, saia lá o que sair,
Por pura teimosia, eu vou escrevendo
E se não for soneto, este “sentir”
É, ao menos, aquilo que eu pretendo…
Papagueada a métrica insegura,
Agrupados os versos dois a dois,
Vou preparando os tercetos finais
E, não estando impecável a estrutura,
Não vos posso jurar que vá depois
Dedicar-me a escrever uns versos mais…
Maria João Brito de Sousa – 21.07.2010
A precisar de férias…mesmo!
publicado às 17:24
Maria João Brito de Sousa
Há dias em que a luz é tão brilhante,
Que as coisas tomam tons muito dif`rentes
E nada pode ser mais importante
Do que essas mutações quase aparentes…
Nesses dias, o brilho do diamante,
Fica a dever aos verdes inocentes
Daquele pinheiro bravo - esse gigante… -
Que pr`a mim ergue os braços rescendentes.
Há dias em que a luz tem mais calor
E esse estranho sabor de uma alegria
Que ainda recordamos… nesses dias.
Por vezes, cheiro a luz na própria cor
Pensando que essa luz me bastaria,
Que tudo o mais são meras fantasias…
Maria João Brito de Sousa – 19.07.2010 – 19.09h
Imagem retirada da internet
publicado às 14:10
Maria João Brito de Sousa
NUM MOMENTO DE PAUSA
Foi nas margens de um lago virtual
Onde, às duas por três, quis descansar
Que encontrei um estranhíssimo animal
Que por ali andava a vaguear…
Não pude adjectivá-lo de normal,
Arquivei-o na pasta de “Invulgar”
E, sem que eu lhe fizesse nenhum mal,
Acabou, afinal, por “pôr-se a andar”…
Não se sabe o que pode acontecer
Quando um estranho animal nos desafia,
Desmentindo esse pouco que aprendemos…
Este fugiu de mim, que o queria ver,
Outro talvez pareça que confia…
Mas fujamos daquele que nunca vemos!
Maria João Brito de Sousa – 04.07.2010 – 18.32h
CONVERSAS DE MÃE PR`A FILHO
Correste encosta abaixo e não paraste
Senão quando chegaste à beira mar;
Decerto te esqueceste de abrandar
E na espuma das ondas mergulhaste…
Ainda me recordo que choraste
Quando sentiste a dor a penetrar
Tua fronte molhada, a gotejar
Da mesma espuma em que te aventuraste.
E lembro um outro dia, há tantos anos,
Em que sofrendo muito poucos danos
Me vieste, a correr, pedir miminhos
Mostrando uma equimose que passou...
Dias depois, quando algo te assustou,
Cobri-te a rosto inteiro de beijinhos…
Maria João Brito de Sousa
DANÇA COMIGO!
Anda dançar comigo, bailarino,
Nas asas de luar da melodia
Que redesenha, em rasgos de magia,
O mais perfeito rumo de um destino…
Das voltas que tu dás, desde menino,
Dos teus passos, de um gesto de harmonia,
Irrompem sucedâneos de alquimia
Multiplicando o espaço em desatino.
Anda dançar comigo a noite inteira
Depois do pôr-do-sol, quando o luar
Tomar pr`a si as rédeas deste céu
E, tanto quanto lembro, verdadeira,
Virá, então por nós, pr`a nos chamar
Quando ele estiver já escuro como breu…
Maria João Brito de Sousa
publicado às 12:02
Maria João Brito de Sousa
Ouvi o teu rugido. O teu percurso,
A lonjura polar de um mar qualquer…
Depois, interrompendo o teu discurso,
Olhaste e viste em mim uma mulher...
Muito embora assustado, eras um urso
E eu, que vinha em paz, sem já saber
Como explicar-te o que nem mesmo um curso
Poderia ajudar-te a perceber…
Pensei, então, dizer-te que nem todos
Os bípedes primatas, como eu sou,
Te irão desrespeitar ou destruir
Mas em vez de o dizer, chorei a rodos…
Por trás de mim, alguém que disparou,
Calou-te sem te dar tempo a fugir…
Maria João Brito de Sousa
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
publicado às 14:07
Maria João Brito de Sousa
Depressa/devagar se chega aonde,
Depressa ninguém chega e, devagar,
Também nenhum de nós pode chegar
Porquanto o horizonte em si o esconde…
Depressa… e tudo fica mal esboçado.
Tanto erro cometido e tanto engano
Que, mais tarde ou mais cedo, trará dano
A quem, passando, venha descuidado.
Devagar, tantas vezes por cansaço,
Outras vezes porém… puro desleixo!
Depressa e devagar, sempre alternando,
Conforme a prontidão do nosso braço,
Prevendo, com clareza, outro desfecho,
Pr`a quem vai construindo e "poetando". ..
Maria João Brito de Sousa
publicado às 11:43
Maria João Brito de Sousa
“Tem asas pr`a voar!”, pensava então,
Considerando o Espaço Virtual…
Depois tomei pr`a mim quanta ilusão
Surgira desse Espaço e, afinal…
Esse Espaço tornou-se habitação
E, sempre que engrossava o seu caudal,
- fruto de uma imprevista reacção-
Cresciam-lhe umas asas de cristal…
Estas coisas da química da vida
Podem, por vezes, ser surpreendentes
E trazer-nos tão estranhos resultados
Como esta reacção tão desmedida,
Tão ímpar, talvez tão sem precedentes
Quanto as asas reais dos seres alados…
Maria João Brito de Sousa -12.07.2010 – 22.49h
publicado às 07:00