Maria João Brito de Sousa
Olhei-te e, nesse olhar que vem de dentro,
Descobri forças e fragilidades,
Amores, desilusões, cumplicidades,
Nas mil nuances desse humor cinzento…
É nesse teu olhar que agora enfrento,
Que eu, que não sei dizer senão verdades,
Descubro o intruso gérmen das saudades
Desabrochando em verbo e sofrimento.
Mas o tempo passou. Cristalizado,
Foi ficando p`ra trás esse passado
Quando lançada à terra outra semente
E quero lá saber que o resultado
Me possa até magoar! Maior pecado
Seria andar p`ra trás, olhando em frente.
IMAGEM - MENINA LOROSAE, Maria João Brito de Sousa, 1999 (vendido)
publicado às 11:56
Maria João Brito de Sousa
Vieste tu, sarcástico e soturno,
Com essas mãos terrenas, maculadas,
Impor-me o teu amor de horas marcadas,
Claramente insolúvel e nocturno.
Não sei que madrugadas me chamavam,
Que, embora alvoroçada, desprezei
As tuas mãos terrenas e sem lei,
Mas sei que as minhas mãos se interrogavam;
Que lonjuras, que estradas lá virão?
Que abrigos, que caminhos, que desnortes
Te esperam nessas mãos que te procuram?
Eu escutei-as a elas, mas tu não…
E que me importa a mim que tu te importes
Se as palavras das mãos em mim perduram?
NA FOTO - Os meus cinco anos, na varanda da avó Maria Augusta, com a Nice.
publicado às 11:55
Maria João Brito de Sousa
Eu sei-me neste mundo e noutros tantos...
Que a Terra me perdoe e, se puder,
Que acolha este meu corpo de mulher
Enquanto eu me procuro noutros cantos...
Que me perdoe a Terra estes quebrantos,
Este voo, estas asas de aluguer...
Irei aonde o sonho me quiser
E aonde ele me aponte outros encantos...
Na minha etérea estrada, eu chegarei
Até onde alcançar e voltarei
Só para descansar, de quando em vez...
Mas voo novamente e não sei estar...
O corpo nunca muda de lugar
Mas a minh`alma alcança o que não vês!
Curiosidades - Será impressão minha ou o sorriso não mudou mesmo nada? Passaram 53 anos entre a foto de cima e a de baixo...
publicado às 11:12
Maria João Brito de Sousa
Eu escrevo Poesia. Não duvidas,
Decerto, do papel que desempenho,
Tão claro quanto o esboço de um desenho
Que pode melhorar algumas vidas.
Vou convocando as almas mais perdidas
- ou tento, pelo menos… - porque tenho
Tarefas que me deram de onde venho
E sinto que terão de ser cumpridas.
Ainda me não crês. Como Tomé
Precisas de tocar, de ter nas mãos,
Não entendes o que é ser-se escritor…
Poemas, afinal, são como a fé;
Importantes, p`ra uns, p`ra outros, vãos.
Mas experimenta, então, fazer melhor...
IMAGEM - Os meus quatro anos. Ao meu colo, um dos filhos da Nice, a Fox Terrier da avó Maria Augusta.
publicado às 11:51