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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
12
Mar10

A MULHER INTERROMPIDA

Maria João Brito de Sousa

Não foi assim tão antigamente...

Foi há cerca de um tempo

Mais duas metades de dois tempos meios.

Uma voz amiga, certamente,

Embora longínqua, perguntou por mim

E eu, tão confusa, não me conhecia...

Sou mulher de um homem,

Respondia.

E a voz insistia:

- Mulher, quem és tu?

- Sou a mãe de um filho que não mora cá

E de três meninas que me querem muito,

Apesar da culpa, apesar de tudo...

E a voz repetia:

- Mulher, quem és tu?

 

E eu iria jurar que não mentia

quando respondia:

- Eu sou essa mãe, apesar do luto!

 

A voz não cedia quando perguntava

Do Espaço, do Tempo e outras coordenadas:

- Ó mãe dos teus filhos, diz-me quem és tu!

Onde moram as tuas horas carnais?

Onde guardas o corpo quando sais

E voas em busca do filho perdido?

Que fazem essas tuas mãos?

Que estrelas tão negras trazes no olhar?

Que morte tão estranha te veio buscar

E esqueceu teu corpo entre os teus irmãos?

 

E eu respondia

Sem me aperceber

Que me descrevia sem me conhecer:

- Sou a mulher do meu homem

E a mãe das minhas crias!

Procuro o que se perdeu, o que morreu mal nasceu

E não alcanço encontrar...

 

Mas a voz não se calava no seu calmo perguntar:

- Mulher, que é feito de ti?

Só a ti tens de encontrar!

 

Então procurei-me em mim

E vi que não estava lá...

Procurei-me em todo o mundo,

Do abismo mais profundo à montanha mais escarpada,

Fui ao Nilo, fui ao Ganges,

Procurei-me em cada ventre

Das grutas mais ignoradas...

 

Devo ter percorrido o universo inteiro

Quando, de repente,

Encontrei um corpo que me não era alheio

E uma alma ardente

Onde cabia, exactamente,

A chama tão acesa do meu peito!

 

E juro

Que foi a primeira vez,

Em toda a minha vida,

Que aceitei a minha imagem denegrida,

Que me não importei de não ser entendida

E me orgulhei da estranha condição

De ser UMA MULHER INTERROMPIDA!

 

.

Poema convictamente reeditado para http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/

 

Imagem - O Nascimento de Vénus - Boticelli

11
Mar10

TALVEZ

Maria João Brito de Sousa

 

Talvez nas ilusões  deste hemisfério

A lua seja toda em Camembert,

Eu seja um mineral quando quiser

E o meu Ego o centro deste império…

 

Talvez seja exequível não sonhar

Com esta humana essência em desatino

E talvez, no futuro, o meu destino

Seja aquele que uma fada me apontar…

 

Talvez seja “talvez” todos os dias

E nem por um momento haja certezas,

Razões pr`a caminhar ou convicções…

 

Talvez das ilusórias ironias

Surja um castelo cheio de princesas

Guardadas por maléficos dragões…

 

10
Mar10

OS MERCADORES NA FEIRA

Maria João Brito de Sousa

 

 

 

São dias de ir ao banho e pôr os laços

Os tais dias de feiras e mercados,

Em que homens e mulheres, engalanados,

Irão vender o fruto dos seus braços…

 

Já se trocam batatas por nabiças

E há beijos mordidos pelos cantos…

[no meio da balbúrdia caem mantos

às cachopas que vendem hortaliças…]

 

São os dias de Feira nas aldeias.

O mulherio esforçado só se anima

Quando o coreto arrosta em sinfonias

 

Com os pregões acesos nessas veias.

À tardinha o poeta acende a rima

E afogam-se, no vinho, as “valentias”…

 

09
Mar10

CADA VERDADE

Maria João Brito de Sousa

 

 

Agora que os milénios se passaram

Sobre as glórias do império de uma infância

Recordo, debruçada na distância,

O muito que esses tempos me ensinaram.

 

O tanto que então lia e pesquisava,

As construções das cores e dos grafismos

E a dissecação dos silogismos

Em que uma maioria acreditava…

 

As coisas que aprendi, as que sonhei,

As que nunca pensei `inda aprender

E os sonhos construídos na vontade…

 

Hoje procuro ainda o que não sei

Nos mais fundos recantos do meu ser

Onde alcanço encontrar cada verdade.

 

 

Maria João Brito de Sousa - 09.03.2010

 

 

 

 

 

05
Mar10

UMA MORADA POR DETRÁS DO ESPELHO

Maria João Brito de Sousa

 CONVITE - Entretanto, vamos dançando o tango no

 http://www.avspe.eti.br/eventos/eventotango/lista.htm

 

 

Quase todos os homens têm

 

 

Uma morada por detrás de um espelho.

 

Nem todos se aventuram

A pernoitar nela,

Mas todos a construíram

Com maior ou menor

Grau de esforço e consciência.

 

Quando a tormenta

Abala a morada visível,

A maioria refugia-se

Na casa que o espelho protege

Embora

Em quase todos os casos

O espelho reflicta a própria tormenta…

 

Noutros, porém, a tormenta

Nunca chega a atingir

A superfície de quase todos os homens

Que se aventuraram a reflectir.

 

 

 Poema reeditado para http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/

04
Mar10

NOBLESSE OBLIGE I e II

Maria João Brito de Sousa

 

 

 

 

 

PEQUENA INTRODUÇÃO - O post de hoje nada tem a ver com os padrões a que eu ,religiosamente, venho tentando submeter este blog sobre soneto clássico. É claro que os sonetos vão estar cá, mas foram escritos apenas numa perspectiva de "noblesse oblige"... quando comecei a escrever o primeiro a única coisa que me apetecia fazer era jogar um joguinho de xadrez com o 2008, o computador... depois achei imensa graça ao primeiro e nasceu-me um segundo, mas eu não me conseguia esquecer das "tareias" que o 2008 me tinha dado sempre que eu tentara mostrar-lhe que trinta anos sem jogar me não haviam transformado na perfeita atrasadinha mental que ele insistia em transformar-me ao vencer-me tantas vezes... e consegui! Ontem à noite resolvi "roubar" um tempinho às minhas tarefas rotineiras - que são muitíssimas, por estranho que possa parecer a alguns de vós - e, em cerca de meia hora, dei xeque-mate ao 2008!

Façam favor de comemorar comigo! Agora já não me considero assim tão estúpida!

 

 

Noblesse oblige e eu … voilá, cá estou!

Não sei o que dizer, do que falar,

Mas este desafio de poetar

É o que faz de mim tudo o que sou…

 

Noblesse oblige e eu… cumpro o que digo,

Pois doa o que doer, eu tentarei…

É tão só um soneto o que farei

Na perfeição da métrica que sigo.

 

E uma atrás da outra – quantas letras! –

Lá vão nascendo os versos do costume

Na estranha dimensão da coisa-alada

 

É esta a tal magia dos poetas;

Cozinhar versos nesse brando lume

Onde ninguém cozinharia nada…

 

 II

 

Vou escrevendo um soneto “porque eu quero

Onde quis Deus deixar que eu descansasse…

Ficasse eu indiferente ou não gostasse,

Tanto a Deus lhe daria… e agora espero.

 

Espero que surja alguma coisa nova,

Que algo me surpreenda de repente…

Mas esta obediência é aparente

E o que aqui vai nascendo, a sua prova…

 

Por não ser nada fácil poetar

Sem essa inspiração que vem do alto,

Sobre essa insuspeição que Deus me exige,

 

Nasceu-me este soneto bipolar

Senhoras e senhores, este é o salto

Que me obriga a dizer; noblesse oblige!

 

 

IMAGEM RETIRADA DA INTERNET

 

 

 

CONVITE - Entretanto, vamos dançando o tango no http://www.avspe.eti.br/eventos/eventotango/lista.htm

03
Mar10

TANGO

Maria João Brito de Sousa

 

 

 

 

Um tango… só o posso conceber

Num contexto profundo e passional,

Temperado de emoção quase irreal

Na descontinuidade do meu ser…

 

Entre beijos – ou ódios e traições? –

Num abraço que excede a sua essência,

Desdobra-se esse tango à transparência

Dos rostos despojados de emoções.

 

Revela-se um desejo imponderável

Na lâmina de um gesto tão preciso

Que ultrapassando a música se estende

 

Por corpo e alma  de onde, inconfessável,

Desabrocha, por fim, esse sorriso

Que, amargo e doce, o tango reacende…

 

Maria João Brito de Sousa - 03.03.2010 -11.39h

 

 

 

IMAGEM RETIRADA DA INTERNET

 

 

Soneto feito para http://www.avspe.eti.br/eventos/eventotango/lista.htm

02
Mar10

POETAS PEDEM PALMAS QUANDO MORREM

Maria João Brito de Sousa

 

Poetas pedem palmas quando morrem.

Pedem palmas e flores por ter vivido

Mesmo que nunca tenham conseguido

Ganhar, na terra, o pão que os outros comem.

 

Mil coisas comoventes nos ocorrem

Quando parte um poeta conhecido

E, ainda que ninguém o tenha ouvido,

Os versos ficarão p`ra que o não chorem…

 

Poetas pedem palmas na partida,

Pedem sorrisos e pedem poemas,

Pedem, serena, a paz de outra alegria.

 

Por isso é que eles passaram pela vida

Sobrevivendo sempre aos seus problemas

Mesmo em faltando o pão de cada dia.

 

 

 

IMAGEM DE TELA DE JUAN MIRÓ RETIRADA DA INTERNET

01
Mar10

SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA V

Maria João Brito de Sousa

 

 

 

 

AMOR TAMBÉM É

 

Amor é também este latejar

Das asas invisíveis do meu peito,

Das asas de cristal com que me enfeito

Quando faço um poema e sei voar.

 

É também este estar sem nunca estar

E esta aspiração ao Ser Perfeito,

Quando a noitinha vem, quando me deito

Debaixo das cobertas do luar.

 

E tudo quanto vive e me rodeia

Se vem deitar comigo e, num abraço,

Nos recomeça o sono e viajamos.

 

Todos os rituais desta alcateia

São feitos desse amor, como se um laço

Unisse árvore mãe aos filhos ramos.

 

 

A TEORIA

 

Já vos contei das almas pequeninas

Que há por detrás de cada ser vivente?

Já vos falei do que é mais transcendente

No vislumbrar das almas clandestinas?

 

A vós que acrescentais obras divinas

A tudo o que acontece e, de repente,

Esqueceis o que, no fundo, é mais urgente

Por ser inseparável destas rimas,

 

Vou contar um segredo tão secreto

Que é bem possível que me não escuteis,

Que penseis que tudo isto é fantasia…

 

Mas faz parte do mundo, é bem concreto

E existe para além do que entendeis

Embora o apodeis de “teoria”…

 

 

 

OUTRAS ENXADAS...

 

A insinuação vem de mansinho

Sob um anonimato relativo…

É com os seus disfarces que convivo

Ao longo desta estrada em que caminho.

 

Sei bem quando ela vem porque a conheço,

Porque sei bem daquilo que é capaz,

Sei que mesmo fingindo vir em paz

Traz consigo traições que não mereço…

 

Talvez a minha enxada – a minha escrita –

Não escave, como a grande maioria,

O alimento ou mesmo a construção…

 

Talvez não seja óbvio o que suscita,

Mas escava as fundações da Poesia,

Tal como as outras vão cavando o pão.

 

 

 

 

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