Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
Este poema em nada se assemelha a um soneto, mas foi ele que me nasceu para comemorar e agradecer a minha recente entrada na Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores e decidi dar-lhe honras de blog principal. É dedicado a todos os poetas que "cantam" a língua portuguesa.
Não. A maioria das pessoas não entendia – nem podia entender – as verdadeiras consequências de um “apagão” energético. Ele, ali, na UCI do hospital, rodeado por convalescentes temporariamente monitorizados, lembrou-se de se lembrar daquilo… depois deu azo a que o momento se espraiasse por toda a sala e deu-lhe uma continuidade lógica. Este, este e este morreriam, sem sombra de dúvida. Claro que havia o gerador de emergência, mas esse funcionaria durante um curto período, devido à sobrecarga, e acabaria, também por se “apagar”. Contudo era evidente que a esmagadora maioria se rendia à hipótese revivalista de ficarmos sentados à lareira… conversas mais íntimas, mão na mão, jogos de cartas à luz das velas, famílias que haviam deixado de o ser, refeitas de um dia para o outro, num passe de magia… talvez fosse melhor pensar assim. Logo a ele lhe ocorrera prognosticar, naquela noite, o que realmente se passaria com aqueles seus doentes caso a energia se interrompesse assim, sem mais nem ontem!
Três dos pacientes que estariam irremediavelmente condenados eram ainda jovens e tinham um bom prognóstico de recuperação… mas precisariam de utilizar o suporte de vida durante alguns dias. Largos dias, pelo menos um deles… e isto era ali, naquela UCI, daquele determinado serviço do seu muito específico hospital… muitos mais hospitais com muitas mais UCIs se potenciariam em muitíssimos mais doentes condenados, caso o tal “apagão” viesse a dar-se.
Não podia ser pacífico pensar naquilo. Há alguns anos atrás nenhum daqueles acidentados teria sobrevivido. Esse era um daqueles factos que só poderiam ser mudados por um milagre daqueles muito, muito milagrosos e ele aprendera que esses só acontecem de quando em vez… por isso sabia bem que aqueles seus doentes iriam morrer, tal como teriam morrido se tivessem nascido três ou quatro décadas antes e tivessem passado por aquilo que haviam efectivamente passado… e qual seria a diferença? A diferença estaria exactamente na variável tempo. Única e simplesmente na variável “Tempo”. Há quarenta anos atrás, nenhum apagão poderia pôr em risco a vida dos três jovens acidentados… porque eles não teriam sobrevivido. Agora – e ele sabia muito bem que este “agora” pressupunha a passagem de quatro décadas – eles teriam ainda uma vida pela frente… e ele lembrara-se de pensar num eventual “apagão”! Quem o mandava, a ele, ser médico e, ainda por cima, um ser “pensante”?
No final destes sonetos que hoje dedico aos meus amigos de quatro patas e penas, deixo-vos alguns links que permitirão a vossa entrada na Academia Virtual de Poetas e Escritores, de que passei a ser membro desde o dia de hoje, por amável convite da Presidente Fundadora, a poetisa Efigênia Coutinho.
É com muita honra que aceito fazer parte deste maravilhoso grupo de Poetas e Escritores Lusófonos.
Um enorme abraço para todos vós!
O REINO DA ETERNA PRIMAVERA
Se um dia eu tiver fome… eu terei fome,
Mas “Eles” só a terão depois de mim!
Eu distribuo o pão até ao fim
Por estes que me sabem mais que o nome.
Esta norma absoluta, urgente, enorme,
Faz com que tudo seja sempre assim
No reino onde semeio o meu jardim,
Onde nasce o poema e o corpo dorme…
E tanto falta! Tanto vai faltando,
Que quem por aqui passe e não me entenda
Pode pensar que só a fome impera…
Mas tanto afecto a nós nos vai sobrando,
Quanto amor nasce assim, sem encomenda,
Neste reino onde sempre é Primavera!
AQUILO QUE NUNCA MUDA
Serei sempre obstinada em meus afectos!
Aquilo em que acredito, nunca muda
E não há teoria que me iluda
No que toca aos amores que são concretos.
Eu amo esta família construída
Sobre alicerces de aço bem temperado
E se algum deles partir, será chorado
E eu ficarei mais pobre nesta vida.
São animais, bem sei… são cães, são gatos,
São pombos que deixaram de voar,
São pedaços de mim que a mim voltaram…
Não serão nunca meros artefactos,
Nem “peças” que eu usei p`ra descartar
Quando as conveniências mo ditaram…
A MAIS QUERIDA DE TODAS AS MÃES
Nunca me falta essa ternura mansa
Das horas do carinho e brincadeiras
Em que reinventamos mil maneiras
De mudar a miséria em abastança…
Nunca me faltam as cumplicidades
Nem a dedicação de um meigo olhar
Nas horas que dedico a partilhar
Carícias que alimento de verdades…
Sorrio, então, feliz! A plenitude
Está nesse eterno amor que não se ilude
Pois é constante ao longo de uma vida…
Falo-vos dos meus filhos não-humanos
Que vivendo comigo há tantos anos
Me fazem sentir sempre a “mãe” mais querida.
MEMÓRIAS DA ALVORADA DOS MEUS DIAS
São coisas da alvorada dos meus dias…
Nesse tempo em que andava no liceu
Eu descobri que poucos como eu
Sabiam praticar as teorias…
Ah! Todos tinham mil filosofias!
Segundo muito bem me pareceu
Todos sabiam desse Prometeu
Que havia procurado as mais valias…
Mas quando questionar-se era punido,
Já “fiava mais fino” e tinham medo,
Abafavam de pronto esses anseios…
[Não fosse Zeus, irado, ter prendido
O pobre Prometeu ao tal penedo
Onde concretizou seus mil receios…]
Sonetos dedicados aos meus “filhotes” de pêlo e penas que tanto têm colaborado no meu crescimento e amadurecimento enquanto pessoa.