Maria João Brito de Sousa
COMPOSIÇÃO FIGURATIVA LINEAR A PRETO E BRANCO
*
Trazia os olhos negros afundados
Em órbitas profundas como poços
E nos lábios carnudos, grandes, grossos,
Restos mortais de sorrisos negados.
*
Alto, de ombros estreitos e curvados,
Parecia mais jovem que os mais moços
E, embora magrito e fraco de ossos,
Sobressaía dentre os encorpados.
*
Uns jeans, uma t-shirt e um blusão,
Já sem sombra de cor por tanto uso
Recobriam-lhe o corpo há tanto tempo
*
Quanto o tempo que dura uma ilusão.
Tinha o olhar perdido, algo confuso,
De quem personifica o desalento.
*
Maria João Brito de Sousa - Dezembro, 2009
COMPOSIÇÃO FIGURATIVA LINEAR A PRETO E BRANCO II
*
Não fora o choro triste, convulsivo,
Silente, por pudor, mas que me vem
Macular esta paz que me mantém
E que, serenamente, em mim cultivo,
*
Não foram essas lágrimas salgadas
E as mãos que se te crispam sobre o rosto,
Apontando, frontais, o teu desgosto,
Dir-te-ia entre as mais afortunadas
*
Mas oiço-te chorar. Um grito mudo
- um gemido, talvez… - mas, sobretudo,
A negação de um medo que é só teu
*
Não sei por que negar as evidências;
O medo morre face às transparências
Depois de se saber por que nasceu.
*
Maria João Brito de Sousa - 14.12.2009
O MEU PINHEIRINHO LINDO
Procedo aos rituais do meu pinheiro;
Há bolinhas de cor, tantas luzinhas!
Há mil fitas douradas e estrelinhas
Que um dia me custaram bom dinheiro.
*
Mas, que importa? É Natal, celebração,
Tempo de partilhar, de ser feliz!
Eu continuo, como sempre fiz,
A ajeitar as bolinhas de algodão.
*
Faz frio lá fora. O vento zune e canta
Açoitando as vidraças, querendo entrar
Como se achasse poder ser bem-vindo
*
Vou buscar o aconchego de uma manta,
Abro a janela e acabo por notar
Que vem beijar o meu pinheiro lindo.
*
Maria João Brito de Sousa - 2009
Imagem retirada da internet
publicado às 11:48
Maria João Brito de Sousa
Não fora eu ser poeta por inteiro
E “Poetar” um verbo transitivo
E talvez a miséria em que me vivo
Desse lugar a muito bom dinheiro…
Mas… seria `inda eu? `Inda poeta?
Ou apenas mais um que se vergou?
Dar-vos-ia, `inda assim, o que vos dou
Tendo só Poesia como meta?
Sei bem que se me impõe [?] sobreviver,
Entrar noutras rotinas e esquecer
Este meu sonho de nunca mentir…
Mas isto que aqui faço exige tempo
E, se me organizar, vai-se o talento!
Poeta "atinadinha" ou... "a fingir"?
Prendinhas de Natal - Tem estado a decorrer, no Centro Social Paroquial de Santo António de Nova Oeiras, uma venda de Natal cujo lucro reverterá a favor das famílias menos favorecidas desta Paróquia.
Venham até cá e aproveitem para fazer as últimas compras de Natal!
Amanhã, não faltem!
publicado às 10:51
Maria João Brito de Sousa
Nasci em berço de ouro; a toda a parte
A que então fosse, para me encontrar,
Descobria, entre raios de luar,
Mil livros, mil pincéis, mil obras de arte…
Não era rica, mas podendo dar-te
Muito do que pudesses precisar,
Sobrava de fartura, no meu lar,
Mais do que poderia saciar-te…
Naquela grande sala onde escrevia
O meu avô – meu émulo perfeito –
Tudo ganhava a estranha dimensão
Da perfeição, segundo a entendia...
Assim nasci, cresci, ganhei direito
À minha mais inata aspiração…
Maria João Brito de Sousa - 10.12.2009
Imagem de presépio artesanal, retirada da internet
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publicado às 13:54
Maria João Brito de Sousa
SENTIDO DA VIDA
E se a vida, afinal, não faz sentido?
Se não tem solução nem tem saída
Ou, até, se na hora da partida
Soubermos que o sentido é proibido?
Se pensarmos que tudo está perdido,
Que sentido fará a nossa vida?
Antes nunca sentir que está perdida
A vida que por cá temos vivido…
Cada vida é sentido e construção
No cimento do corpo, a palpitar,
A tentar ir além sendo melhor.
Sentido nem sempre é a direcção
Programada ou prevista e linear...
É tudo o que fizermos por amor!
SENTIDO DA VIDA II
Nem sempre a vida tem esse sentido Que tu pensaste impor-lhe no começo
E cada direcção paga o seu preço
Nem sempre equitativo e bem medido…
Por vezes um sentido é dividido
Numa bifurcação que nunca meço
E surge outro sentido que não peço
Mas que pode tornar-se o prometido.
No “anda, vai, procura, aspira e faz”
Reside o tal sentido em construção
Que me há-de orientar estas passadas.
Um pouco de utopia, amor e paz
Na ponta da caneta – a minha opção –
Orienta bem mais do que mil estradas!
Prendinhas de Natal - Tem estado a decorrer, no Centro Social Paroquial de Santo António de Nova Oeiras, uma venda de Natal cujo lucro reverterá a favor das famílias menos favorecidas desta Paróquia.
Venham até cá e aproveitem para fazer as últimas
publicado às 11:55
Maria João Brito de Sousa
Aonde quer que eu vá, tu vais também;
De forma incoerente, inevitável,
Poesia, num dueto incontornável
De um sonho que nos leva sempre além…
Não é fácil de crê-lo, eu sei-o bem,
Porque este “casamento”, sendo estável,
Será, pr`a muitos, inimaginável
E, para condenar, há sempre alguém,
Mas, julguem ou não julguem, a verdade
É que a nossa inegável amizade
Não se deixa abalar e permanece.
Unas, inseparáveis, partilhamos
Corpo, alma e gestação, quando criamos
Como se a criação nos precedesse…
Maria João Brito de Sousa - 04.12.2009 -11.50h
publicado às 11:50
Maria João Brito de Sousa
O conceito de Vida, indiscutível,
Tem, no entanto, pontos divergentes
Que muitas vezes são coincidentes
Com o nosso conceito de impossível…
Quem se lembra do drama das Origens?
Da estranha evolução que, em mil milénios,
- multiplicando mais, segundo os génios,
até onde o pudermos, sem vertigens… -
Fez avançar extremófilos até
Aos répteis e aos mamíferos primatas,
No topo da cadeia alimentar?
Porque sempre assim foi – e ainda o é… –,
Nuns nasceram as asas, noutros, patas…
[Então… por que razão querê-los matar?]
publicado às 14:51
Maria João Brito de Sousa
O NASCIMENTO DE UMA GEEK...
Estou a tornar-me Geek… e não se riam!!!
Por muito que isto seja inesperado
Dou por mim nesse Tempo antecipado
Em que outras “criaturas” viveriam…
Não sei se isto é, ou não, preocupante…
No dia a dia, tornei-me diferente,
Como se este universo, e toda a gente,
Se tornasse mais lento a cada instante…
Não juro que ser Geek seja isto!
Quantas vezes não sei, sequer, se existo
Se sou um holograma ocasional…
Mas que estes Megas todos são bem poucos
Para gerar tantos sonetos loucos…
Ah! Isso é, com certeza, bem real!
A todos os Geeks da Blogosfera J
UM LONGO, LONGO CONTO...
Já não sei quantas contas tenho feitas,
Nem quantas contas mais irei fazer…
Tenho contas espalhadas pelo “ser”,
Redondas como dúvidas perfeitas…
Já não sei se me conte ou se desconte
As contas qu´inda tenho de enfiar
Porque já vai tão longo este colar
Que avança muito além do horizonte…
Enfio, então, as contas que puder
- não fora eu, cá no fundo, uma mulher… -
E fica-me o colar tão desmedido
Que mesmo que o quisera recolher,
Não teria tamanho nem poder!
[… e o conto vai ficando tão compriiiido…]
publicado às 11:43