Maria João Brito de Sousa
Amigo silencioso e ondulante
Que me adormeces sempre que adormeces,
E entendes as razões das minhas preces
Onde ninguém veria algo importante,
Macio, aveludado… és um mistério
Que transcende este humano entendimento...
Quisera eu conhecer-te, lá por dentro,
Tomar posse ilegal dessoutro império…
Que estranhíssima química nos traça
Caminhos ideais, cheios de graça,
E nos funde e confunde tantas vezes?
Quando o teu grito ecoa pelas ruas
São estas mesmas veias, minhas, tuas,
Que me enchem de irreais luas acesas…
Maria João Brito de Sousa - 2009
NA FOTO - Sigmund, Minerva e E.T. (estas duas últimas faleceram em Março e Maio deste ano)
publicado às 10:00
Maria João Brito de Sousa
Por vezes faz-me falta um quase-nada …
[que absurda sensação de quase-ausência
me devolve, inteirinha, à procedência
da raiz da memória antecipada?]
Um estranho quase-nada, é bem verdade!
Um algo indefinido, indefinível,
Que sendo bem real é intangível
Mas nada tem a ver com liberdade…
É algo por nascer! Algo incompleto,
Algo que ainda está por construir
Erguendo-se da sua incompletude
Como se fosse um corpo, um estranho objecto
Que, querendo ser, está quase a conseguir
E que não muda nunca de atitude…
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publicado às 11:31
Maria João Brito de Sousa
Curvai-vos! Os poemas são batalhas,
São rios por inventar de espadas cegas,
Causas que desconheces - mas não negas -
Isentas do bolor de humanas falhas!
Abri alas pr`a eles, os combatentes,
Que avançam sobre as hostes de insensíveis!
Deixai-os avançar como invencíveis
Porque deles se erguerão causas urgentes!
Reparai… a batalha não termina!
[nunca se sabe ao certo quem domina
neste caos que as vontades vão esgrimindo…]
Mas, no ponto mais alto da colina,
Nasceram mais poemas que a vermina
Desvaloriza porque estão sorrindo…
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
publicado às 15:20
Maria João Brito de Sousa
A PALETA
(A minha paleta, à luz da Biopsicografia)
Em azuis e magentas me descrevo.
Em verdes e castanhos vou vivendo
Porque o sol se levanta num crescendo
Aspergindo outros tons sobre este enlevo
E nunca sei se devo ou se não devo
Cobrir-me desse negro a que me prendo...
Mas, enquanto não sei, eu vou sabendo
Que mesmo sendo cor, eu sempre escrevo
Pois sou uma paleta das ideias:
Sou apenas um leito de grafismos
E a matriz da palavra em gestação!
É som, o que me corre pelas veias,
O que vai dando cor aos silogismos
Que nascem porque bate um coração...
Maria João Brito de Sousa - 2009
A VARANDA DE DEUS
Deus tem uma varanda junto ao mar.
Eu, que nela nasci, vou descrevê-la;
Essa varanda é como uma janela
Onde Deus se debruça p`ra sonhar.
E é, essa varanda, um doce lar
Para que possa qu`rer descansar nela.
É pequena, a varanda, mas é bela
E cabe nela o mundo... se mudar.
Caberá nela quem vier por bem,
O que foi perseguido e quer abrigo,
Aquele que já pecou e quer perdão,
O que venha sonhar como Deus vem,
O que venha esquecer cada castigo
E o que jamais condene o próprio irmão.
Maria João Brito de Sousa - 2009
UM BRILHOZINHO NOS OLHOS DE UM COMETA
Era um brilho nos olhos de um cometa
E eu, que partilhava tudo, tudo,
Rodei sobre o sofá, num gesto mudo,
Fugindo à posição da linha recta.
E sorri, eu também, enquanto ouvia
O que disseste em tom coloquial
Naquela peçazinha cultural
De um minutinho, só, de Astronomia.
Foi o deus dos acasos? Foi a vida?
Já não pergunto mais e tudo aceito
Sem me sentir, sequer, muito intrigada,
Como se a história fosse então cumprida,
Como se tudo ali fosse perfeito
E eu fosse finalmente retratada.
Maria João Brito de Sousa - 2009
O PRESÉPIO II
Que frio que estava ali, que frio fazia…
E, no entanto, a luz que então brilhava,
Aquecia, por dentro, e semelhava
Um sol pequeno e pleno de magia.
Nas palhas, um menino que sorria…
Era p`ra ele que a luz se desdobrava
Como se tudo, tudo o que ali estava,
Nos enchesse de súbita alegria.
Tantos meninos, tantos, já passaram.
Tantos viveram e nos cativaram
Com obras geniais, vidas notáveis
E é, no entanto, aquele menino pobre
Que a luzinha, brilhando, nos descobre,
Quem nos desvenda as coisas improváveis.
Maria João Brito de Sousa - 2009
NOTA - Peço desculpa por esta anarquia gráfica que não consigo remediar de forma nenhuma... acho que a minha pen se incompatibilizou de vez com o 2008... hoje nem sequer consegui copiar os sonetos do fim de semana e tive de usar alguns que eu penso (?) ainda não ter publicado e que estavam, por acaso, na dita pen...
publicado às 14:21
Maria João Brito de Sousa
Já estás quase a nascer, meu Deus Menino,
Simbolizando a Vida em todos nós…
Já oiço, antecipada, a tua voz
Na luz da Estrela-guia, em cada sino.
Quem me dera saber-te bem seguro
Por todo o humano tempo que te resta,
Amado, eternizando uma só festa,
Por todas as etapas do futuro...
Vejo-te pequenino, aconchegado
Num presépio de barro, bafejado
Pelo inusitado dos presentes,
Mas, mais tarde ou mais cedo, renegado,
Tremo por te saber crucificado
Por quem nunca aceitou homens diferentes.
Maria João Brito de Sousa -2009
UM FELIZ NATAL PARA TODOS VÓS!
Peço desculpa a todos os que não consegui contactar nestes últimos dias, quer por email, quer por visita e comentário. O tempo é escasso e muitos dos emails vieram devolvidos...
mas fica a intenção! Um enorme abraço para todos vós, em todo o mundo!
Maria João, poeta porque Deus quer
publicado às 23:00
Maria João Brito de Sousa
Em teu nome acendi incenso e velas
E o raio de luar desta oração
Que aqui teço e devolvo à devoção
Da minha evocação das causas belas.
Em teu nome e no nome do teu nome
Lavrei estas palavras que te entrego
E tudo o que em palavras eu delego
É esta causa imensa como a fome.
O meu último esteio foi quebrado
E oiço um estranho silêncio inacabado
Perpetuando, sempre, a voz do tempo.
Cravo então, em silêncio, o meu arado
E sigo pela vida, sem cuidado,
Porque a Vida, afinal, é um momento.
Maria João Brito de Sousa - 23.12.2009
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publicado às 11:58
Maria João Brito de Sousa
Ó gato! `Inda te chamam altaneiro!
A ti que te dás todo em marradinhas,
Que me olhas bem nos olhos, que adivinhas
O que é e o que não é bem verdadeiro,
Que queres ver-me feliz, que me procuras
Para me dar, de ti, o que em mim falta,
Que derramas, em mim, a maré-alta
Das tuas brincadeiras e ternuras?
Traiçoeiro? Que ideia! És mais leal
Do que essa gente louca que te insulta
E que te desconhece por inteiro!
Tu és, como qualquer outro animal,
Um pequenino ser que a vida exulta!
Jamais serias falso ou traiçoeiro!
publicado às 14:46
Maria João Brito de Sousa
UM POETA NA ESQUINA
Poeta numa esquina, sem alento,
Que não choras nem pedes a quem passa
A esmola da atenção ou essa graça
Do merecido pão do teu sustento
[As asas que perdeste... esse talento
Que o mundo destruiu, como uma traça
Que devorando tudo te desfaça
E te não deixe mais que desalento...]
E, cruelmente alheia, a populaça
No seu vaivém, correndo contra o vento,
Não percebe, sequer, quanta desgraça
Te prende àquela esquina, desatento
Das coisas deste mundo e desta raça
Que assim te condenou não te entendendo...
MISTÉRIO
Que mistério em teu corpo se engendrou,
Maria, se não foste de ninguém?
Que mistério, Maria, te fez mãe
De um menino que tanto nos marcou?
Que Maria foi essa que alcançou
Honra tão grande e tão imenso bem?
Maria e só Maria foi alguém
Em quem o próprio Espírito encarnou…
E terá sido assim que aconteceu?
Terá sido o menino que nasceu
Igual a todos nós, nascido em dor?
Porque se assim não foi… quem serei eu
Para inquirir sobre quem já morreu
E em tudo vive ainda em puro amor?
QUE PENA...
Que pena, meu amor! Eu sei lá quando
As hostes da vontade irão render-se
E o corpo, desistente, converter-se
A escravo, meu amor, do teu comando…
Eu sei lá, meu amor… mas juraria
Que a linha que percorro, vertical,
Não há-de quebrar nunca… este ideal
É jamais desistir de uma ousadia!
Tantas vidas na vida! `Inda há pouquinho
Percorria, na estrada, outro caminho
E, no palco, um papel numa outra cena…
Agora, bem mais longe e tão mais perto,
Termino estes acordes do concerto.
[e, às vezes, tenho até alguma pena… ]
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publicado às 16:16
Maria João Brito de Sousa
Ali soprava ainda um vento agreste
Chicoteando os ramos inocentes
Que as árvores estendiam, descontentes
Com essa fúria súbita e celeste.
Rodopiavam folhas arrancadas
Ao maternal abraço dessas hastes
Que balouçavam gerando contrastes
Com as casas imóveis e caiadas.
Era a Nortada fustigando a aldeia,
Cavando remoinhos na charneca,
Levando tudo, tudo pelos ares…
Por trás das nuvens brilha a lua cheia.
Deita-se o bom medronho nas canecas
E acende-se a lareira em nossos lares…
Imagem retirada da internet
- A nossa amiga Maria Luísa, do http://prosa-poetica.blogs.sapo.pt/ , encontra-se doente, com dores na coluna, e não poderá estar entre nós durante algum tempo. Pediu-me que vos avisasse a todos e vos transmitisse os seus votos de um muito FELIZ NATAL!
publicado às 14:39
Maria João Brito de Sousa
Gela a branca geada. Branca, gela
E tudo se arrepia em seu redor
Como se nos mostrasse o seu melhor
Nas construções de gelo que revela.
Assim o Inverno chega e se desvela
Na criação de mil cristais sem cor,
E sem sequer olhar, seja o que for,
Agreste, toca, esculpe e remodela…
Silencioso e breve, este escultor
Das obras transparentes e espelhadas,
Vai transformando tudo em catedrais
De onde roubou o sopro do calor…
[depois, na Primavera, derrotadas,
tornam-se o verde pasto de animais…]
Imagem retirada da internet
publicado às 14:17