Maria João Brito de Sousa
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Foram abandonadas nove vidas
Na aridez de uma serra milenar
Que é bela mas que não lhes pode dar
O consolo da água e da comida...
A Arrábida chorou, sentiu-se ferida
Por esses pobres cães que estão sem lar
E pede a quem os possa ir ajudar,
A quem os cuide, a quem lhes dê guarida:
- Nove seres indefesos, vitimados
Por quem um dia amaram com fervor,
Ao abandono, sem terem abrigo...
Venham buscá-los, dar-lhes os cuidados
Que eles merecem, dar-lhes esse amor
Que só lhes pode dar um grande amigo...
NOTA - Este soneto corresponde a uma situação infelizmente bem real. Por favor visitem http://prosa-poetica.blogs.sapo.pt/
publicado às 16:20
Maria João Brito de Sousa
A primeira pessoa nem sempre é
O narrador da história que é narrada;
É, por vezes, difr`rente e não há nada
Comum entre esses dois, senão a fé.
A segunda pessoa pode até
Não ter a ver contigo e, afastada,
Limita-se a ser ela, a que é contada,
A afastar-se de si pelo seu pé.
A terceira pessoa abrange o mundo!
Pode ser qualquer um, não ser ninguém,
Ser um mero exercício de ficção…
Exercendo a ficção até confundo
Uma qualquer pessoa que lá vem
Com as outras que tais que já lá vão…
Imagem retirada da internet
Por favor visitem http://prosa-poetica.blogs.sapo.pt/
Um pequeno artigo sobre um caso de abandono foi publicado no http://premiosemedalhas.blogs.sapo.pt/
Obrigada!
publicado às 12:12
Maria João Brito de Sousa
A LUZ QUE VEM DEPOIS
Sou, a cada manhã, o novo dia;
Do meu manto de luz amo e senhor,
Trago, em mim, mil promessas de calor,
Vislumbrados prenúncios de alegria.
Já decomposto em brilho e harmonia,
Vou-vos iluminando. O meu amor
É manifestamente redentor
Da vossa universal melancolia.
Eu sou, do novo dia, o Sol nascente
Que forma e dá cor aos vossos passos,
Que dá sentido a tudo o que vós sois.
Venho lá do meu mundo incandescente
Para vos dar a benção dos abraços
Que antecipam a luz que vem depois
*
Maria João Brito de Sousa - Agosto, 2009
Nota - Só agora cheguei do hospital. Se não conseguir responder-vos pessoalmente, considerem estas palavras um agradecimento pelos vossos votos de melhoras. As transaminases baixaram, mas terei de voltar na 4ª Feira.
Um bom fim-de-semana para todos vós!
publicado às 16:54
Maria João Brito de Sousa
Nessas mãos intocadas, intocáveis,
Retalhadas por longos sulcos fundos,
Desenham-se as promessas de mil mundos
Sobre a ausência de afectos mais duráveis.
Há medos, nessas mãos, há insondáveis
Abismos que prometem ser profundos,
Segredos dos mais duros, mas fecundos
Projectos, ambições, sonhos prováveis...
São essas mesmas mãos, assim magoadas,
Tão cobertas de rugas e memórias,
De tudo tão vazias, `stando cheias,
Que se erguerão, embora decepadas,
Para se revelarem nas mil glórias
Das mais surpreendentes epopeias…
Maria João Brito de Sousa, 2.08.2009 - 14.08h
(reformulado - Setembro, 2016)
Imagem retirada da internet
publicado às 14:08
Maria João Brito de Sousa
Olha o comboio-das-desilusões!
Vai agora a passar à nossa porta…
Pode descarrilar… a linha é torta
E as carruagens vão aos abanões…
É desastre eminente! As aflições
Daquela pobre gente meia-morta!
Não gosto dessa imagem! Corta! Corta!
É melhor esvaziar já os vagões!
Vai filmando o comboio-de-ideais
Que passou mesmo agora e não parou.
Olha! Não estás a ver? Ali ao fundo…
Mas, se ainda o não vês… não filmes mais!
O primeiro `inda não descarrilou
Nas retorcidas linhas deste mundo…
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publicado às 13:32
Maria João Brito de Sousa
A ZANGADINHA
(Sonetozito de meia tigela)
Eu hoje estou zangada c`os poemas!
Pudera! Estou com tal dor de cabeça
Que não sei onde acaba, nem começa,
A causa bem real dos meus problemas!
Por hoje nada faço, ou faço apenas
Uma coisa qualquer moldada à pressa,
E ainda que nenhum de vós mo peça,
Dir-vos-ei que não estou pra ir em cenas,
Porque hoje estou zangada! Tão zangada
Que já não me apetece fazer nada,
Que fiquei sem qualquer inspiração,
Que grito e barafusto e, já cansada,
Pergunto-me; estou mesmo amargurada,
Ou estou apenas sem disposição?
Maria João Brito de Sousa - 24.08.2009
NOTA – Apeteceu-me brincar com as palavras.
Dói-me, com efeito, a cabeça, mas ainda não perdi a disposição nem a inspiração.
“O poeta é um fingidor…”
publicado às 14:19
Maria João Brito de Sousa
Ó louco, absurdo, obsceno, insano amor
Que nem sequer amor chegou a ser,
Mas que se fez cumprir no renascer
Dum tão precocemente imenso ardor.
Ah! Quantas ilusões e quanta cor,
E quanto acreditar, quanto não ver
Que já está condenado, irá morrer
Nos últimos alvores da nossa dor.
[Schopenauer escreveu – e muito bem –
Sobre este estranho amor inevitável
Tão típico de nós e tão comum
Que ao condenar-nos tanto nos convém.
Paradoxos da vida! … O improvável
É passar pela vida sem nenhum…]
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COMETAS
"Quando os aerólitos formam um grupo, vivendo em sociedade, constituem a parte principal de um cometa. O núcleo, ou seja, a parte central mais brilhante da cabeça do astro, é formado por milhões de aerólitos viajando agrupados."
In "Viagens Maravilhosas às Terras do Céu" de César dos Santos.
Lisboa, 1950
publicado às 12:25
Maria João Brito de Sousa
ECLIPSE
*
Se amanhã, por acaso, o sol nascer
E a lua, despeitada, o encobrir?
Será que Sol e Lua irão exprimir
Essa sua atracção, esse seu qu`rer?
*
E se a lua, afinal, tentar esconder
A luz que só o sol sabe emitir?
E se o sol se zangar quando sentir
Ameaçado o seu real poder?
*
Eles amam-se ou detestam-se, afinal?
Talvez nenhum o saiba ou nunca diga
Que estranha interacção os prende ao céu
*
Fantasiar é algo natural;
Eu penso que nem um, nem outro liga,
Pois questionar-se assim nunca ofendeu.
*
Maria João Brito de Sousa - Agosto, 2009
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publicado às 13:01
Maria João Brito de Sousa
Qual dono ou meio dono?! Eu quero lá
Viver a minha vida acompanhada
Fingindo que sou eu, não sendo nada
Nem podendo criar aos Deus-dará!
Eu quero lá saber do que não há!
Antes morrer sozinha, esfomeada,
Mas fazendo o que faço. Eu? Enganada?
Não, não estou enganada! É ele quem está.
Tudo tem o seu preço nesta vida.
Eu vou pagando os juros do talento
Com este rasto do que Deus me deu.
E podem crer que fico agradecida,
Que, mesmo na miséria, eu não lamento
O preço que paguei por ser só eu.
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publicado às 12:44
Maria João Brito de Sousa
Aquele aspecto estranho e desconforme,
Aquele face magra e enrugada,
Aquele rictus de quem está cansada
Da vida que parece sempre enorme…
Aquelas mãos de dedos calejados,
Retorcidos do muito que fizeram,
Os olhos afundados que lhe deram
Os dias e as noites descuidados.
Aquele estar ali e nunca estar
Aonde o corpo fica a descansar,
Porque a mente descansa noutro espaço,
Aquela imprecisão de só sonhar,
Aquela estranha forma de falar
Compondo a própria voz do seu cansaço.
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publicado às 16:13
Maria João Brito de Sousa
Não te pedi, ó lua, a lucidez
De um breve e claro raio de luar.
Antes quisera, ó lua, questionar
A minha sempre certa insensatez.
Não te pedi um sonho que, talvez
Me pudesse acolher ou consolar.
Antes quisera, ó lua, perguntar
Sobre as coisas da vida e seus porquês...
O raio de luar que me enviaste
Tem as suas razões. Eu tenho as minhas
E este gozo que assumo ao descobrir.
Deste-me a luz e não me perguntaste
Sobre os enigmas, sobre as adivinhas
Deste estranho mistério de existir...
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publicado às 16:26
Maria João Brito de Sousa
Apeteceu-me agora um malmequer,
Um raio de luar, um céu estrelado,
Um castelo de luz, imaculado,
E um vestido de rendas…de aluguer.
Apeteceu-me agora ser mulher,
Suspirar pelo príncipe encantado
Que vem buscar-me num cavalo alado…
Apeteceu-me ser outra qualquer!
Para mim, que me sei como me sou,
Antes um sapo numa poça de água,
Antes uma casinha de madeira!
Umas calças de ganga e já cá estou!
Não há sonhos reais e nem a mágoa
Fará de mim princesa e prisioneira!
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publicado às 11:34