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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
08
Mar09

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL

Maria João Brito de Sousa

Saiu da agência de viagens arrumando, na malinha a tiracolo, a papelada que escrevera nos intervalos dos telefonemas dos muitos turistas que pediam o apoio da sua “hostess” depois do check-in no hotel. Eram quatro e meia de uma tarde de Verão e as palavras do chefe do Foreign Department soavam-lhe, ainda, aos ouvidos:

- Maria João, gostaríamos de tê-la no nosso próximo Grupo da Getaway Adventures, desde Espanha, acompanhando o grupo desde lá.

Não respondera logo. Esboçara um sorrisinho “polite” e murmurara meia dúzia de palavras que não queriam dizer coisa nenhuma. Aquele momento seria supostamente especial. Era-o. Não da forma que seria para as suas colegas que viviam e trabalhavam de olhos postos na primeira viagem. Na inesquecível primeira viagem.

Para ela era muito diferente. A palavra fazia-lhe despontar raízes por dentro e por fora. Não era medo. Não era falta de ambição. Era uma ausência de medos e um desvio real das ambições… as dela ficavam-se mais por ali, pelas escadinhas da estação do Rossio onde os alfarrabistas de rua espalhavam os exemplares semi-novos e muito antigos onde, inevitavelmente, ficava a viajar durante horas. Colega que a acompanhasse

Acabava por desistir da companhia e rumar sozinha aos Porfírios enquanto ela, esquecida de horas e desoras, se eternizava nas escadinhas, entre páginas de velhos alfarrábios.

Tomava sempre como própria da sua pouca idade aquela excentricidade que tentava dissimular, quantas vezes da forma mais desastrada…

Deixou, em troca de dois exemplares de Nefrologia Clínica, uma boa parte do que ganhara no “transfer” do dia e rumou à estação de comboios, remoendo ainda as palavras do chefe. O raio da viagem estava-se-lhe a tornar incomodativa, colava-se-lhe às páginas do livro, consumia-lhe as letras num rodopio constante que lhe tirava o prazer da leitura… ou da interiorização das palavras que lia. Impedia-a, inclusive, de saborear as cores e os paladares das ideias que se lhe começavam a enredar nos vês, nos iis e nos gês das viagens. Fechou o livro enquanto evitava, com a habilidade de uma longa experiência, um encontrão no senhor que vinha em sentido contrário e que parecia mais interessado nas pedras da calçada do que ela na porcaria da primeira viagem.

Quase, quase a chegar à estação dos comboios perdeu o olhar no céu que escurecia. Parou por instantes e olhou os pombos sedentários que por ali debicavam invisíveis migalhas. Abriu a carteira, retomou o percurso num passo mais decidido e anotou na agenda… “Amanhã – avisar a Benilde de que se vá preparando para tomar o meu lugar na viagem”.

Guardou a agenda enquanto entrava no comboio, pronta para retomar a leitura sobre o diagnóstico precoce das nefropatias.

 

 

 

Recordado para http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/ 

 

07
Mar09

O RIO E A VIDA

Maria João Brito de Sousa

O RIO
*

 

Mede-se a vida no fio

De uma linha equidistante

Entre a nascente de um rio

E a sua foz, a jusante…
*

 

Às vezes o rio, teimoso,

Quer subir uma montanha

Que não pode e, furioso,

Lança-se em fúria tamanha
*

Contra pedras e arribas,

Que acaba por ir passando:

Encontra as alternativas

Que antes não estava encontrando...
*

Flui depressa ou flui sereno,

Mas prossegue a caminhada

E constrói sobre o terreno

Um simulacro de estrada...
*

Já mais calmo, encontra a foz,

O ponto no qual, espraiado,

Vai mergulhar… como nós

Quando o fim tiver chegado
*

 

Mas lá em cima, a montante,

Continua inda a caminho…

Tudo é mudança constante,

Nenhum rio morre sozinho!
*

 

Mª João Brito de Sousa

Março - 2009

***

06
Mar09

AGORA E DEPOIS

Maria João Brito de Sousa

 

Se, agora, fico fraca, se antevejo

Momentos que me irão magoar ainda,

Mais tarde serei forte e será linda

A colheita que, agora, vos desejo

 

E, se, neste momento, pouco faço,

Se o meu tempo é tão pouco pr`a cuidar-vos,

Terei eternidades pr`abraçar-vos

E tomar-vos, depois, no meu abraço.

 

Se, agora, nada tenho e sei amar,

Se nem este cansaço me curvar,

Depois, nem sei porquê, fico segura

 

De que serei bem menos imperfeita.

[talvez seja esse o fruto da colheita

ou - quem sabe... - um prenúncio de loucura...]

 

 

The Rose Garden - Paul Klee

imagem retirada da internet

 

06.03.09 - 19.30h

 

05
Mar09

O MAR NA MINHA MÃO

Maria João Brito de Sousa

Eu fiz nascer o mar da minha mão!

Nasceu-me destes dedos inquietos

Entre mil versos e outros sonetos

Que vos deixo em partilha e comunhão...

 

Tanto mar me nasceu, tanta canção,

Me vai brotando em mil grafismos pretos,

Que surgiram mil códigos secretos

Flutuando ao sabor da criação...

 

O mar na minha mão e eu não sei

Como dela nasceu, quem o pôs lá...

Nasceu da minha mão, posso jurar!

 

Poder de decisão, nunca lho dei!

O mar que a minha mão aqui vos dá

É o mesmo que a morte há-de levar.

 

 

Imagem retirada da internet

 

Publicado com pré-datação

04
Mar09

PEÇO DESCULPA

Maria João Brito de Sousa

Peço desculpa se não puder postar mais nada hoje. A E.T. acaba de morrer e não me sinto em condições de publicar nada. Não estou a lamentar-me. Estou a reportar um facto que doeu muito. A ET não foi recolhida por mim. Foi a minha mãe que, antes de morrer, a trouxe para cá, ainda com os olhos fechados, cordão umbilical e tudo. Tinha - e tenho - um carinho muito especial por esta pequena sobrevivente e preciso de fazer o meu luto.

Lamento muito que ela tenha morrido. Não me lamento muito.

 

Peço desculpa. As mulheres felizes também choram.

03
Mar09

CAMINHADA (ainda online...)

Maria João Brito de Sousa

De súbito estremece e já não sabe

Se fez mal ou fez bem em desistir.

Irá aonde Deus lho permitir,

Até que estoutro tempo  se lhe acabe.

 

De súbito não sabe se ali cabe,

Se o mundo que o rodeia irá servir...

Será, até à hora de partir,

O que o mundo deixar... conquanto aldrabe.

 

Será o que puder até poder,

Será até um dia já não ser,

O produto da sua caminhada.

 

Será enquanto Deus o entender

A soma das passadas que ali der

Até se descobrir noutra morada.

 

 

03
Mar09

MARIA SEM CAMISA XVI

Maria João Brito de Sousa

 

Maria-Sem-Camisa nunca mente

Nem entende, sequer, porquê mentir…

Se não quer responder desata a rir,

Não regista o que ouviu e segue em frente.

 

Talvez Maria seja impertinente,

(Sinceridade a mais pode até ferir...)

Mas não pode nem deve permitir

Que uma mentira surja, impenitente,

 

E passe a comandar a sua vida.

Porque a mentira tem pernas pequenas

E é a mãe de toda a infelicidade,

 

Com Maria a verdade é assumida

E tudo o que disser será apenas

O fruto que nascer dessa verdade...

 

02
Mar09

CARAVELAS. TANTAS CARAVELAS...

Maria João Brito de Sousa

caravelas.jpg

 

TANTAS CARAVELAS...
*

Ergue-se o pano e surge outro cenário

Vindo de uma matriz que mal denota

O virtual do qual emerge a frota

Dos sonhos com aroma de incensário
*

 

A multidão, em sentido contrário,

Retoma, paulatina, a sua rota

E os que não trouxerem espada e cota,

Boicotarão o vosso imaginário…
*

 

Não será de estranhar que, no futuro,

Se (re)erga uma ponte sobre o muro

E um outro entendimento sobrevenha
*

 

Nem será de esperá-lo. O que vos juro,

É que a tela que pinto e que emolduro

Se vai esfumando ao longe. E ninguém estranha...
*

 

Maria João Brito de Sousa

02.03.2009 - 22.30h
***

 

01
Mar09

FORA DO SISTEMA...

Maria João Brito de Sousa

 

Este post vai ser publicado com a opção “pré-datação” e constantemente actualizado em termos de horário, de forma a que, quando esteja visível possa significar que fiquei sem acesso à internet.

Tenho, com efeito, um acesso de banda larga, USB, da TMN em atraso de pagamento. Não houve desleixo. Houve apenas uma tentativa de chegar até onde pudesse e, por vezes, um pouco além. De ser profunda e intensamente “Eu mesma”… aquela qualidade da qual Deus, mais tarde, me pedirá contas…

Penso que não seja novidade para ninguém que estou a auferir de um subsídio da Segurança Social, no valor de 181,91€… foi aumentado, este ano, para 187 e alguns cêntimos de que não consigo, neste momento, lembrar-me com matemática exactidão. A Crise, – o raio da crise! – pelos vistos, anda a fazer grandes estragos em muito boa gente e as beneméritas que me auxiliavam com os animais não lhe escaparam… diminuíram consideravelmente os donativos para o “hospital veterinário” aqui do 4º Frente.

Também não é novidade – penso eu… - que de vez em quando tenho de comer qualquer coisinha. Opto, quase sempre, por uma sopa ou uma meia-de-leite no cafezinho da esquina, por razões que, a mim, me parecem óbvias… mas que talvez só o sejam… para mim. Para mim que pago, sozinha, as contas de água, de gás e de electricidade. Para mim que tenho de distribuir pelas 24 horas que os dias ainda têm – pelo menos para mim e para os animais que comigo coabitam… - o cuidado, higiene e tratamento de 15 criaturas vivas. Contando comigo.Para mim que, estando em casa, não paro um minuto para descansar porque assim o exige esta minha pequena multidão. Para mim que, de alguma forma, estou convicta de ter sido algo dotada em termos de escrita e traço e me encontro, portanto, na obrigação moral de partilhar esses dons. Para mim que, muito ao contrário do que possa parecer, até não sou estúpida de todo e considero que uma vida vale muito mais pela sua qualidade do que pela sua quantidade. Para mim que me sinto, também, na obrigação – alegre obrigação porque é com muito gosto que dialogo através da escrita – de responder aos comentários que diariamente vão deixando nos meus blogs

E, quantas vezes, não tenho de “inventar” horas sobressalentes para “colar” aos dias em que, ininterruptamente, trabalho . Todos os dias.

 

Toda esta prosa para vos dizer que o meu acesso à internet foi cortado, que tenho mais dívidas do que aquelas que gostaria, sequer, de imaginar e que não senhor. Não sou calona nem gastadora. Desenganem-se os descrentes. Não uso a internet para me divertir ou namorar. Não vejo filmes. Não jogo jogos. Não.

 

Eu tive, sempre, a certeza – ou a ilusão? – de ter usado a internet para trabalhar. Para crescer enquanto ser vivo e para, na minha opinião, contribuir para que outros pudessem melhorar um pouco. Penso ter dado o meu melhor. Penso que nada mais – e nada mais importante – se pode exigir a um ser humano. Malgré tout.

 

FORA DO SISTEMA.

 

 

 

PS - Dentro ou fora do sistema, seja qual for a minha orientação espacial ou espácio-temporal, estarei, sempre, profundamente grata a todos os que contribuíram - muito ou pouco, não interessa! - para que os meus dias online não tivessem terminado mais cedo.

Um muito obrigada e um grande abraço de cometa.

 

 

 

 

... era uma vez um cometa que passou e deixou, atrás de si, algumas centenas de sonetos, muitos abraços - todos os que tinha -, sorrisos, algum espanto e também algumas lágrimas.Porque é este, afinal, o destino de todos os cometas.

 

 

 

 

 

 

 

 

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