Maria João Brito de Sousa
SEREI POETA!
Ó mundo, serei sempre o que eu quiser!
Serei como souber, seja o que for,
Enquanto me não chega essoutra dor
Que me há-de vir buscar quando eu morrer.
Sei que serei tão "eu" quanto puder,
Que me não pintarão de alheia cor,
Que em tudo o que fizer porei amor,
Que sempre serei mais, sendo mulher.
Sou espectro de mim mesma em disfunção
Cumprindo a minha humana condição
Embora insatisfeita ou incompleta...
Escreverei, do passado, o amanhã
Da mãe Eva a sonhar com a maçã
E irei muito além! Serei poeta!
*
Maria João Brito de Sousa - 31.03.2010 - 10.10h
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publicado às 10:10
Maria João Brito de Sousa
Ele há tantas maneiras de estar vivo
E tanta vez julgamos t udo ter
Quando, no fundo, só podemos ver
Através deste estranho, imenso crivo...
Por vezes, quando penso que me privo
De coisas que talvez pudesse ter,
Descubro que o que quis foi aprender
A transmutar-me em acto criativo…
Muitas vezes encontro outras maneiras
De estar viva num mundo de incertezas
E sei-me, então, feliz, realizada;
Umas vezes arrisco e faço asneiras
Perdida entre despojos das riquezas
Em que os demais nunca encontraram nada…
Maria João Brito de Sousa - 30.03. 2009
Tela de Vincent Van gogh
Imagem retirada da internet
publicado às 11:10
Maria João Brito de Sousa
Um dia, num futuro `inda distante,
Num amanhã qualquer que está por vir,
Um qualquer homem que ouso pressentir,
Caminhará ainda, embora errante…
Os mesmos velhos sonhos, o semblante
Eternizando a busca, o descobrir…
Os passos vacilantes, sem dormir,
A procurar no sonho o semelhante…
Um dia, no futuro… e só mudou,
Desse homem que outro tempo em si gerou,
O nome e essa vontade que cresceu!
E quem me manda a mim ser futurista?
- A esperança de que o Homem não desista
Do mesmo eterno sonho que o perdeu…
Antecipado para a http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/ :)
publicado às 09:01
Maria João Brito de Sousa
Queria-se assim, tal qual, em transparências!
Queria-se mesmo assim, em desatino,
Sem raízes, sem pátria nem destino,
Coberto de ilusões, de incoerências.
Proclama-se justo entre inclemências
E supunha-se ascético ou divino...
Ingénuo, imprevisível, qual menino,
Ascendendo à mais nobre das essências.
Julgou-se, sempre, eterno e morreu novo,
Ignorando as calúnias do seu povo,
Desprezando os insultos. Impoluto!
Pensou ser emissário e não chegou
A divulgar os sonhos que sonhou
E ninguém o chorou ou fez o luto.
publicado às 11:56
Maria João Brito de Sousa
No palco de mim mesma, invento um mar
E estendo a alma qual pano de fundo...
Da minha lucidez eu crio um mundo
E a peça será tudo o que eu sonhar!
Na areia eu hei-de pôr branco-lunar
E o resto é desse azul de que me inundo
No transe criativo em que me afundo
Antes desta função recomçar...
Eu, peça de teatro inacabada,
Dar-vos-ei tudo sem pedir-vos nada.
Calai-vos porque o pano irá subir!
Alguém aplaude? Alguém pede um "encore"?
Alguém que queira mais? Alguém que adore?
[nem uma alma, sequer, veio assistir...]
No Dia Mundial do Teatro
Imagem retirada da internet
publicado às 11:08
Maria João Brito de Sousa
…tão louca por ouvir novas palavras,
Palavras segredadas ao ouvido,
Daquelas que, por serem murmuradas,
Adquirem mais rigor, maior sentido
E, louca por ouvir palavras soltas
Por dentro de mim mesma numa dança,
Vou-vos deixando as minhas, tão revoltas
Quanto os cabelos soltos duma trança...
Daquelas que ninguém pode calar,
Que, tontas, impensadas, são loucuras
Chorando ou rindo pr`a provar que sentem
Os versos que o meu estro ousou gerar
E que, mais que palavras, são figuras
Do estilo em que as moldar, quando não mentem...
Maria João Brito de Sousa -26.03.200 - 10.19h
(Reformulado a 15.12.2015)
publicado às 10:19
Maria João Brito de Sousa
Descobre os amanhãs que estão por vir!
Relembra a solidão – esse aconchego
Lá no fundo de ti, esse sossego –
Retoma essa ilusão do teu sentir…
É esse o teu caminho! É só sorrir…
É tocar mais além, onde eu não chego,
É este imenso e estranho desapego
Das plantas que se dão, sempre a florir!
Encontra a tua paz, o teu caminho…
É lá, dentro de ti, que está o ninho
Onde tudo começa. O original.
Encontra a luz que trazes, porque és brilho,
E ilumina a vida a cada filho
Que nasça desse encontro ocasional…
Imagem retirada da internet
publicado às 12:43
Maria João Brito de Sousa
Os loucos que aqui andam… quantos são?
Fazem-te acreditar que nada tens,
A ti, que possuíste tantos bens,
A ti, que tens o mundo numa mão!
São loucos, são tão loucos! Que invenção!
Dizem muitos “senãos”, muitos “tambéns”…
A ti, que sabes bem de aonde vens,
A ti, que lhes darás o teu perdão!
Os loucos que aqui andam… tantos, tantos…
Os que vão exercendo os seus encantos
Na mansidão das coisas recatadas.
Os loucos que aqui há! Os que mentindo
Irão roubar ao Tempo o tempo infindo
De quem viu nascer tantas madrugadas…
publicado às 12:05
Maria João Brito de Sousa
A vossa indiferença é tão agreste,
Tão gélida, tão falha de calor,
Que, por vezes, perfura o que me veste
E dói-me muito mais que a própria dor.
Outras vezes, eu cubro-me de escudos,
De edredãos ou de mantas bem quentinhas,
Afundo-me na terra e ergo muros
Pr`abrigar-me de vós, ervas-moirinhas!
Mas por mais que me tape e que me aqueça,
No vento frio ecoa uma cantiga
Da memória a pregar-me uma partida...
Se vibra o ar num som que me pareça
Remoto eco ou coisas muito antigas...
Sinto, ao longe, o pulsar das vossas vidas!
Nota - Ainda de "O Livro das Horas Convergentes - Trinta e três sonetos e uma estrada".
Ainda desafios para os amigos no http://premiosemedalhas.blogs.sapo.pt/
publicado às 15:10
Maria João Brito de Sousa
Ali, aonde alcança o imaginário,
Sou senhora do tempo vertical.
Minha fé, de tão pura e tão leal
Lavrou-me neste corpo esse sudário.
Onde os demais alcançam, eu não sou
Mais do que um estro breve da loucura...
Assim se dita a sorte a quem procura
Aquilo que nem César alcançou...
O meu olhar vagueia pelo mundo
E ama e sofre e vê e é fecundo...
Do alto do meu templo de cristal,
Qual ampulheta que nunca se esgota,
Eu sou a desterrada a quem importa
A sorte dos que mais lhe fazem mal...
NOTA - Mais um soneto de "O Livro das Horas Convergentes", datado de 07.04.07, com ligeiras modificações para obter a correcção métrica.
NOTA II - À vossa espera, no http://premiosemedalhas.blogs.sapo.pt/
um desafio cansadíssimo, vindo do Free-Stile...
publicado às 20:41
Maria João Brito de Sousa
Ainda tu, serena condição,
De uma sagrada sede de harmonia:
É o sacrário, a hóstia, a homilia
E veste da sagrada comunhão.
Da verticalidade, a oração,
Percorre esse teu corpo em litania
E és quem dá o vinho e dá o pão
No culminar de cada eucaristia.
No instante em que Deus te desenhou
Os traços breves num fundo celeste,
Numa urgência da forma que sonhou,
Emudeceu um anjo que parou
Olhando a perfeição serena, agreste,
Verbo ideal do Deus que te criou...
NOTA - Soneto retirado do livrinho que registei na SPA, "O Livro das horas Convergentes - Trinta e Três Sonetos e Uma Estrada" e que contém os primeiros trinta e três sonetos que eu escrevi, durante o Período da Quaresma de 2007. Foram feitas pequenas modificações nalguns versos pois, sendo os meus primeiros sonetos, tinham algumas falhas métricas que eu não gostaria de ver publicadas no poetaporkedeusker.
A Árvore da fotografia, uma velha amiga da Alameda, foi derrubada em 2008. A minha homenagem a ela e a todas as árvores derrubadas deste planeta, neste Dia Mundial da Árvore e da Poesia... porque alguns poetas são como as árvores.
publicado às 12:05
Maria João Brito de Sousa
Serenamente fui quem já não sou,
Serenamente dei, sem nada ter,
Serenamente deixo de poder
Trilhar os trilhos do que em mim morou.
Serenamente passo, sem passar,
E digo adeus, ao longe, a quem lá vem.
Serenamente só, sem mais ninguém,
Descubro a minha ilha de luar.
Serenamente parto sem partir
E alcanço nova forma de florir…
[sei lá se isto é verdade ou se é mentira…]
Serenamente sinto, e de sentir
Encontro [ou não encontro…] o que há-de vir
Na estranha lucidez da minha lira.
Perspectiva do Estuário do Tejo retirada do Boletim INFOMAIL,
da Câmara Municipal de Oeiras.
Aproveitando esta temática dos regionalismos, convido-vos a passarem pelo http://premiosemedalhas.blogs.sapo.pt/ onde vos esperam algumas inconfidências...
publicado às 12:30