Maria João Brito de Sousa
Neste deslumbramento de andorinha
Que a génese da vida gera em mim,
Vislumbro o recomeço de outro fim
Num vai-vem sazonal que é coisa minha
E neste infindo ciclo se adivinha
Uma urgência maior que vai assim
Renovando destinos de Arlequim
Que não sabe viver sem Colombina.
E tudo o que germina se avizinha
Desse deslumbramento que me impele,
Dessa força sublime e imparável
Porque um desejo-alado me encaminha
Urgindo um universo que revele
O seu deslumbramento inenarrável.
Ao FreeStile porque vai ser avô.
Imagem - Pormenor da tela "O Filho do Homem"
Maria João Brito de Sousa, 2006
publicado às 11:39
Maria João Brito de Sousa
Dois séculos de "Res"! Um quase nada
Em termos de outra imensa eternidade...
`Inda agora se enfrenta a tempestade,
`Inda há pouco foi terra conquistada...
Dez séculos de História, ó Pátria amada,
E apenas dois de "Pública" igualdade...
E se Pátrias `inda és, se for verdade
Que perduras enquanto "Res" sagrada,
Estarás, Pátria-menina, a percorrer
Agora o teu caminho de mulher,
Madura, coerente, amante e mãe.
Pequenino jardim beijando o mar,
Ainda com mil sonhos por sonhar,
Porto de abrigo a quem vier por bem...
Imagem- Alegoria da Républica Portuguesa
publicado às 15:17
Maria João Brito de Sousa
O caso da Mulher-Que-Traz-Cometas
(porque assumiu a sua condição
e vive nesta humana dimensão
sonhando o Paraíso dos Poetas)
É um caso verídico, actual
E nada, mesmo nada, a mudará.
Será cometa enquanto andar por cá
(embora o mundo seja virtual...)
A Semeia-Cometas sempre o foi...
Por mais que o mundo toque onde lhe dói,
Tem o seu testemunho pr`a passar.
A mulher traz cometas nos seus braços
E alheia a confusões e a cansaços
Continua entre nós a semear...
(continuação)
Continuação do caso verdadeiro
Da Mulher-Dos-Cometas-Virtuais:
- A história já vendeu tantos jornais
Que acabou por correr o mundo inteiro!
Tanta tinta correu por causa dela
E tantas edições foram esgotadas,
Que até duas velhinhas entrevadas
Vieram a correr para a janela!
Procura-se a Mulher-Que-Traz-Cometas!
Consta que, em tempos, teve tranças pretas
E veste sem requinte e sem cuidado.
Procura-se por excesso de verdade.
Procura-se por falta de vaidade.
Procura-se por estar no mundo errado!
(epílogo)
A Mulher foi julgada em tribunal.
Acusada de "porte de cometa",
A ré dá pelo nome de Poeta
E mantém a postura marginal.
Não nega nem confessa o que já fez,
Sorri quando a confrontam c`os lesados
E trouxe mil cometas pendurados,
Tentando semear, mais uma vez!
O Caso dos Cometas decorreu
Na arena deste nosso Coliseu,
Numa sessão de porta bem fechada.
Dois milénios de pena, em domicílio.
Não pensa em recorrer, recusa auxílio,
Não está arrependida e não diz nada.
Ao Fisga com o desejo de rápidas melhoras.
Ao Carlos Magalhães porque me faz lembrar
Hércule Poirot.
Ao Sapo que, há mais de um mês, se debate com a terrível pandemia da "caixa de correio fulminante".
(imagem retirada da internet)
publicado às 13:38
Maria João Brito de Sousa
Quantas vezes passei, quantas perdi
O rumo desse Céu tão prometido...
De novo uma passagem. Que sentido
Faria eu se não estivesse aqui?
Por isso vou passando e aprendendo
E semear a espr`rança é o meu rumo
Porque me ergo e desenho a fio-de-prumo
E em verso, traço e côr é que me acendo.
Vou de passagem. Tudo, tudo passa,
Excepto o que nos move. Essoutra Graça
É perene, constante, inevitável...
Quantas vezes cheguei, quantas parti,
Melhor por cada corpo que "vesti",
Mas ainda imperfeita, ainda instável...
À Velucia
(Imagem retirada da internet)
publicado às 10:52
Maria João Brito de Sousa
De passagem me vivo e me acrescento
E, ao partir, estarei multiplicada
No eco dos meus passos nesta estrada
Que percorro sem sombra de lamento.
De passagem me sei e me procuro
Semeando de mim por terra e mar.
Por quanto recebi vos quero dar
Um pouco do que sou... enquanto duro.
De passagem. Estou sempre de passagem
E quase a terminar esta viagem
Que a última estação é logo ali...
Adeus! Talvez: - Até ao meu regresso!
A vós qu`inda ficais, eu nada peço
Senão quanta ilusão de vós bebi...
Imagem - "Pã e a Gravidade da Maçã Verde"
Acrílico sobre prancha
76x57cm
Maria João Brito de Sousa, 1999
publicado às 13:51
Maria João Brito de Sousa
É devagar. É sempre devagar
Que a cada amanhecer se segue um dia
E devagar se exalta essa alquimia
Porque o dia se fez para exaltar.
É sempre devagar que o sol se põe,
Segundo este conceito muito nosso
(e mais não vou dizer porque não posso...),
E a noite se desdobra e se compõe
É sempre devagar que a tarde morre,
É devagar que a lua se descobre
E devagar, ainda, o mar se estende
Na areia preguiçosa de uma praia.
Devagar o cometa, antes que caia,
Deixa o rasto no céu e não se rende...
À Linhaseletras
Imagem - "Mátria" (obra adquirida)
publicado às 14:38