Maria João Brito de Sousa
No meu posto. Estou sempre no meu posto!
Só devo abrir a porta a quem bem quero,
Mas vou-a sempre abrindo e já nem espero
Ouvir-te a voz, ou divisar-te um rosto...
Estou no meu posto. É este o meu lugar!
Quem me adivinha a dor de ser feliz?
De sonhos me alimento e da matriz
Das mil e uma formas de os sonhar,
Porque o sonho é subtil como os conceitos;
Ensina a (pre)sentir, a acreditar,
Germina tal e qual como a semente
E ao descer sobre ti, tem mil direitos,
Mas também o dever de te acordar
De quanto te adormeça inutilmente.
Maria João Brito de Sousa - 13.10.2008 - 17.28h
Imagem - " A Sesta" - Almada Negreiros
publicado às 17:28
Maria João Brito de Sousa
Há um planeta inteiro p´ra salvar!
As Musas deste céu que me ilumina
Deram-me esta missão quase divina
Numa noite de estrelas e luar...
Assumo esta missão, sem hesitar,
E encontro outro Quixote em cada esquina,
Mas é Sancho, afinal, quem me fascina
Ao vir lembrar-me a hora do jantar...
Viro costas às Musas, já rendida
(a carne é poderosa, quando chama...)
E volto ao aconchego do meu quarto.
Talvez noutro amanhã... talvez a vida
A traga, de bandeja, à minha cama,
Quando saciado esteja o corpo... e farto.
Maria João Brito de Sousa - 30.10.2008 - 14.57h
(Imagem retirada da internet)
publicado às 14:57
Maria João Brito de Sousa
São dívidas, são contas, prestações,
Infernizando o fim de cada mês
Nas horas pontuadas por: - Talvez...
Ao pedir emprestados uns tostões...
É a bolsa, é o "spread", são os balcões
Onde uma longa espera cede a vez
Aos eternos rosários dos "porquês?"
Do desatento ouvinte das razões...
O dinheiro, afinal, é a medida
Que quando falta a todos torna iguais;
Nunca medindo a fome a cada qual,
Se a um, em vez de pão, faltar bebida,
Nem esse tem mais sorte que os demais
No dia em que lhe falte o "vil metal"...
Maria João Brito de Sousa -29.10.2008 - 22.31h
Imagem retirada da internet
publicado às 22:31
Maria João Brito de Sousa
Maria-Sem-Camisa nunca trai.
Pode, às vezes, zangar-se, "olhar de lado",
Mas guardará consigo o que contado
Lhe possa dar razão. Mas cala e sai.
Maria-Sem-Camisa está zangada?
Foi porque alguém tentou manipular
A forma de "se ser", de "se sonhar"
Porque o resto a não toca quase nada...
- Maria-Sem-Camisa, olha-me o gato
Que ao perpetrar tamanho desacato
deixou a casa inteira em desalinho!
Mas Maria desata à gargalhada;
- Deixá-lo! Mesmo assim, desarrumada,
Há-de ter sempre a dimensão de um ninho...
Maria João Brito de Sousa - 28.10.2008 - 17.03h
"Ashes" - Edward Munsch
Imagem retirada da internt
publicado às 17:03
Maria João Brito de Sousa
Eu tenho um coração que dizem d`ouro,
Mas que é músculo, sangue e muito ardor,
Batendo a descompasso. Ao seu redor,
Palavras, cores... seu único tesouro...
Eu tenho um coração descompassado,
Pequeno como um punho ou um nó-cego.
Humano coração a que me entrego
Apesar de ser tão desacertado...
Um coração rebelde, em sintonia
Com horas de tristeza e de alegria
Num percurso de vida como tantos...
Um coração que, exposto em "Galeria",
Se transforma em humana alegoria
Da vida, com seu mal e seus encantos...
Maria João Brito de Sousa - 27.10.2008 - 13.33h
À Helena, com um grande abraço, pela criação da
Galeria http://mariajoaobritodesousa.synthasite.com/
publicado às 13:33
Maria João Brito de Sousa
Exímia a vasculhar entre as memórias,
Descubro mil tesouros manuscritos!
E são tesouros mesmo! E são benditos!
São os antigos traços de mil histórias.
E é sempre o acaso (ai, o Acaso...)
Que vem trazer-me às mãos o que eu encontro.
Tudo isto que vos digo, o que aqui conto,
É a razão do meu eterno atraso...
As coisas deste tempo vão esperando...
Eu sei que encontro mais, mas não sei quando,
Desta matéria-prima muito minha.
Atraso-me ao sabor destes meus dias
No acaso de antigas companhias.
Atraso-me por nunca estar sozinha.
Imagem retirada da internet e multiplicada por mim
com a sempre bem-vinda ajuda do Acaso.
publicado às 13:43
Maria João Brito de Sousa
Eu só faço o que sei, não sei se faço
Aquilo de que os outros necessitam,
Mas dou-lhes estes sonhos que me habitam
E ofereço-me, inteirinha, nesse abraço.
Se o faço, é porque assumo o próprio traço
Com que agradeço aos poucos que o visitam
E aos que, vindo ler-me, me creditam
Um pouco de valor por este espaço.
Um traço, um esboço, um esquiço, o meu perfil,
O meu sorriso - tanta vez subtil... -,
Que aqui se cumpre ao vosso bem-dispôr
E este pequeno mundo, (in)coerente,
Transforma-se em Futuro, no Presente
E tange em verso heróico a minha dor.
Maria João Brito de Sousa - Outubro de 2008 -
Imagem - Pormenor da tela "ESCORÇO - Grande Pintora a Lápis-de-Cor, Maria João Brito de Sousa, 2007
publicado às 12:55
Maria João Brito de Sousa
Quando o prazer me chama, eu pinto ou escrevo
E tão feliz me sinto, e satisfeita,
Que me sinto mulher-quase-perfeita
No festivo tecer do meu enlevo!
Porque é puro prazer o que descrevo!
Por isso é que eu me sinto como "eleita",
Que eu semeio e partilho esta colheita
Que ofereço a quem quiser. Ao que eu me atrevo!
Prazer! Puro prazer, pura alegria,
Colher, de noite, e semear de dia
Palavras como espigas, como pão!
Prazer é, para mim, o que aqui faço!
É derrotar a dor do meu cansaço
Enquanto me partilho em comunhão...
À Ki, porque me recordei dela enquanto escrevia este soneto.
Ao Free Style. Porque sim.
Tela de René Magritte - imagem retirada da internet
publicado às 12:32
Maria João Brito de Sousa
Habito em mil milénios de procura!
Questiono tudo e em tudo reconheço
As linhas pelas quais me traço e meço
Na memória de "ser" que em mim perdura.
Sei-me entre mil questões. Esta loucura
Que assumo, que sei minha, que agradeço,
É tudo o que já fui desde o começo
De mim, que sou humano e tão sem cura...
Com lágrimas nos olhos, com sorrisos,
Vivendo infernos, mesmo em paraísos,
Eu sou o Ser-Humano vertical!
Quantos erros, na vida, eu cometi...
Quantas coisas sublimes concebi...
Humano! Para o Bem e para o Mal!
Ao Artesão Ocioso
Imagem retirada da internet
publicado às 11:12
Maria João Brito de Sousa
Surgiu-me esta leviana compulsão
De tudo perdoar...até a mim!
A mim, que tanto errei por ser assim
Tão escrava das algemas da razão...
E foi crescendo em mim esse perdão,
Como a flor vai crescendo no jardim...
Foi esse tal perdão, que não tem fim,
Quem engendrou a minha decisão:
Tranquei-me entre paredes de cristal,
De aonde nunca saio e tudo vejo
Sem nunca saber "como" ou sonhar "quando"...
Fiquei a "viajar" nesse local
Onde sonho, construo e me protejo,
Enquanto as caravanas vão passando...
Ao Vitor porque "nasceu" de uma frase que ele, ontem, utilizou num comentário deste blog.
Imagem retirada da internet
publicado às 13:04
Maria João Brito de Sousa
Não sei de aonde vens. Não sei quem és...
Se dizes o que sentes sem mentir,
Se entendes ou se apenas te quer`s rir
Daquilo que aqui escrevo e que tu lês...
Aceito-te como és (ou dizes ser...).
Aceito-te da cor com que te pintas
E, acaso não gostes ou me mintas,
Prefiro nem sequer tentar saber...
Eu vejo-te (ou invento-te em imagem?)
E sei que és, afinal, uma miragem
Desfocada do teu original...
Mas és um ser humano que me fala
E eu afasto a voz que se me cala
Se temo que me possas tu qu`rer mal...
Imagem enviada por cateespero
publicado às 12:31
Maria João Brito de Sousa
Partícula de Cosmos. Tudo e Nada!
Sol, Lua, Mar e rosa sem jardim,
Sopro daquilo que há vibrando em mim
Numa dança irreal, iluminada...
Ar, Fogo e Terra em mil contradições
Daquilo que julgamos ser real...
E, tudo junto, "Nós", porque, afinal,
Somos feitos de carne e de ilusões.
Tanta distância, tanta... e, no entanto,
Se a Vida traz em si tão estranho encanto,
Essa mesma distância é que nos une...
Tanta distância, tanta... e tão pertinho!
Tantos passos se dão neste caminho
No qual nenhum de nós caminha impune...
"Natividade" - Wifredo Lam (pintor surrealista cubano)
Imagem retirada da internet
publicado às 12:02