Maria João Brito de Sousa
Aqui, onde me vês, não sou ninguém.
Sou átomo de vida, um quase-nada,
Quiçá uma abstracção inacabada
Das coisas irreais que o mundo tem...
Aqui, onde me vês, eu nada sou,
Ou sou este teimoso sonho meu...
Eu, Hermes mensageiro, eu, Prometeu
Que Zeus um dia, irado, castigou...
E, enquanto ilusão, eu nunca sei
Se sou por existir, se me sonhei,
Se sou realidade, ou invenção
De um Ego que a si mesmo se constrói...
O que de mim sobrar (isso é que dói!)
Talvez seja, mais tarde, um sonho em vão...
Imagem - "A Sonhadora" - Acrílico sobre C anson
30x20cm
Maria João Brito de Sousa, 2001
publicado às 09:06
Maria João Brito de Sousa
Ó meu palácio líquido e imenso
De torreões de espuma imaculada,
Todo bordado em renda recortada
Sobre esse fundo de um azul intenso,
Nas muralhas instáveis que condenso
Na imagem recorrente que, inspirada
Me surge deste olhar-te e estar calada
Na profunda atenção que te dispenso,
És berço de sereias e tritões,
A estranha fauna desse imaginário
Eterno e colectivo ou irreal
Que habitas para além desses portões
Que invento para ti, ó meu sacrário
Feito de sonhos e de água com sal.
Maria João Brito de Sousa - Verão 2008
(Imagem retirada da Internet)
(Revisto)
publicado às 22:40
Maria João Brito de Sousa
Ó lusitano mar de quem herdei
As veias dos poemas que te faço,
Eu venho-me entregar ao teu abraço
Pela mão de um soneto que criei
E tu, em cujo seio eu engendrei
A voz que trará vida ao meu cansaço,
Repara nestas linhas que te traço
E aceita, inteira, a vida que te dei...
Eu sou quem te levou a outras raças,
Quem de ti fez cavalo que galopa,
Quem ouve os mil segredos que revelas...
Eu sou a terra-mãe que tu abraças
Num ponto ocidental da velha Europa
E a nação que te encheu de caravelas!
(Imagem retirada da internet)
NOTA DE RODAPÉ -Um dos sonetos com que concorri aos Jogos Florais que não ganhei
publicado às 00:03
Maria João Brito de Sousa
Ó Mundo, eu nada sou! O Mar que o diga,
Que te fale dessoutras madrugadas,
Das tardes colorindo, em desfolhadas,
As notas terminais de uma cantiga...
Mas, mesmo nada sendo, eu sou amiga!
Percorro este meu Céu de horas doiradas,
Dispenso os aviões e auto-estradas
(e, noutras relações, detesto intrigas!)...
Vês, Mundo? Eu sou assim, conforme digo!
Não quero a fama vã, não temo o pr`igo
E moro numa casa tão imensa
Que tu cabes lá dentro (e à vontade!)
E se alguém o negar é por maldade!
É alguém que não vê ou que não pensa...
Fotografia da minha sala-atelier num típico dia de trabalho.
publicado às 12:48
Maria João Brito de Sousa
Eu quero-me da cor destas palmeiras!
Quero este tronco esguio, estas raízes,
Quero-me assim feliz entre os felizes
Vivendo as minhas horas derradeiras!
Eu quero-me primeira entre as primeiras
E, tal como tu pensas, mas não dizes,
Quero-me decomposta em mil matizes
Sendo igual ao que sou, de mil maneiras!
Assumo esta total imperfeição
De quanta perfeição em mim houver,
Sem ter falsas modéstias ou segredos!
Eu quero-me uma só, mas dividida
Por cada átomo alheio à minha vida,
Sem loucas ambições, sem dor, sem medos!
Fotografia (via mms) tirada, agora mesmo, da janela da minha sala-atelier. O cãozito lá embaixo é a minha amiga Lupa.
publicado às 13:31
Maria João Brito de Sousa
A Norte de ninguém sem coisa alguma!
O sonho. Só o sonho (ou estupidez?)
Me fazem avançar, mas, desta vez,
Como Sebastião por entre a bruma.
E vem a fúria em forma de defesa,
Pois nada mais parece ser real
E cerro os dentes como um animal
Que, de repente, se descobre presa.
Até mesmo a palavra me abandona!
Resisto ou não? Já nada me conforma
De me sentir assim tão sem saída!
Estranha sobrevivência, a dos poetas!
Seguem incertos rumos de cometas
Depois de se esgotar a sua vida...
"Auto Retrato" - Frida Kahlo
Imagem retirada da internet
publicado às 12:53
Maria João Brito de Sousa
Quero falar das coisas pequeninas
Que nos tornam a alma bem maior!
Do que nasce de nós, nos faz melhor
Do que os remédios e outras mezinhas...
Quero falar-vos das coisas singelas,
Das coisas que nos nascem destas mãos.
Quero falar-vos, mostrar-vos, irmãos,
As coisas mais sinceras e mais belas...
Quero mostrar-vos a minha caixinha,
Tão linda, tão florida e que é só minha
Porque alguém teve um gesto de bondade.
Quero dizer-vos que me sinto grata,
Que nunca esquecerei quem bem me trata
E que há gente bonita de verdade!
À minha amiga Maria do Ocaso... Ao Acaso, pela linda caixinha que me ofereceu.
publicado às 12:57
Maria João Brito de Sousa
Fotografia cedida por Jmack - http://poraquifico.blogs.sapo.pt
Aqui ando, aqui estou, por aqui fico.
Procuro nas imagens a magia
(esse estranho mistério, essa ironia...)
A que, de corpo e alma, me dedico.
E neste procurar, nada critico!
(por uma imagem mais, o que eu daria...)
Eu vivo de domar (quanta ousadia!)
Imagens deste mundo que edifico.
O Mundo. Dos meus olhos para os vossos.
(o resto, o que ficou entre os destroços,
é o que em mim sobrar dessas viagens...)
Nesta estranha pulsão que me conduz,
Que me define, inteiro, em sombra e luz,
Eu sou o domador das mil imagens!
publicado às 12:51