Maria João Brito de Sousa
UM OUTRO MAR, TAMBÉM PORTUGUÊS... II
Aqui, no "blogomar", já fui feliz!
Acreditei. Fui eu. Ousei sonhar
E naufraguei por não saber nadar
Onde quase ninguém é o que diz...
Quanto me dei ao mar! Quanto lhe quis!
Quanto de mim pensei poder-lhe dar!
Este inconstante mar quer-me afogar
Por algo que nem sei dizer se fiz...
Meu cansaço é imenso, indescritivel.
Atónita, sondando o invisivel
Até aonde a alma alcança em mim,
Não vejo, em vislumbro uma resposta,
Evito a tempestade e dou à costa
À espera de que o mar me aceite assim...
JULGAR... Ao Mestre António Aleixo
De quanto erro se faz por este mundo,
Talvez seja o pior julgar errado
E saia o julgador mais mal-tratado,
Se tiver consciência, lá no fundo...
Eu nem penso em julgar, porque confundo
Aquilo que sei ser c`o que é julgado...
Por isso nunca julgo! Isso é pecado,
Pura perda de tempo, algo infecundo...
Prefiro acreditar! Acreditando
Sobrevivo à mentira e, não sei quando,
Hei-de chegar ao fim do meu caminho...
Quem mais julga, mais erra, com certeza;
Eu, escrava da verdade e da beleza,
Prefiro não julgar, nem o vizinho...
AINDA/EMBORA
Ainda os amanhãs que estão por vir,
Ainda a madrugada abrindo em flor,
Ainda acreditar e SER amor
Neste Luso jardim, todo a florir...
Ainda ir mais além, poder sorrir
Em cada dia-a-dia... (embora a dor...)
Seguir em frente e, sem sentir rancor,
Ser mar (embora EU...) não desistir...
Ainda bem que sou porque deus quer
Poeta (embora o corpo de mulher...)
Em Jangada de sonho e maré alta!
Ainda eu (embora o recolher...)
Poeta porque Deus me quis `scolher
Ainda/Embora NADA eu faço falta!
Imagem - "Anunciação do Cristo Amarelo a Paul Gauguin"
Maria João Brito de Sousa (Pastel de Óleo e essência de
terebentina sobre madeira, 2006)
publicado às 16:00
Maria João Brito de Sousa
Um poema é um nobre missionário
Gerado pelo sonho em movimento...
Ecoa pelo espaço e pelo tempo
Sem pedir alimento nem salário
E sempre é casto, sendo libertino...
Seduz, fascina, ensina uma uma lição
E parece incansável na missão
De ser parte integrante do destino
Se ri, se chora, abraça sem escolher
E nesse seu abraço faz saber
Que um sonho nunca morre; é infinito
Poema, ao dar-vos tudo o que tiver,
É quem vos dá, no fundo, a conhecer
O que, dentro de vós, há de bendito...
Ao Mário Quintana (li alguns dos seus poemas na minha mais remota juventude e recordo-me de que o meu avô falava muito nele. Suponho que fossem amigos ou, pelo menos, correspondentes e reencontrei-o no blog http://escritosdeeva.blogs.sapo.pt/ )
Ao Freddie Mercury.
Imagem - "L`Important c`est la Rose" - Acrílico e pastel de óleo
Maria João Brito de Sousa - 1999
publicado às 11:39
Maria João Brito de Sousa
A casa do poeta é oficina,
É estaleiro de versos e de ideias,
Volúvel como o vento nas areias,
Imensa, embora seja pequenina...
Tem algo que nos prende e nos fascina,
Como se fosse urdida por sereias
Que nela tecem, líquidas, as teias
Da sua condição semi-divina...
A casa do Poeta, como a vida,
Está cheia de surpresas, novidades,
Nunca teve a ambição de ser maior
E, mesmo que não esteja prevenida,
Encontra um lugarzinho pr`às saudades
Que o tempo vai urdindo em seu redor...
Maria João Brito de Sousa - 27.07.2008 - 01.56h
Imagem - "O Pequeno Mundo dos Criadores de Afectos", 120x70cm
Acrílico sobre tela
Maria João Brito de Sousa, 2006
(Obra adquirida)
publicado às 01:56
Maria João Brito de Sousa
LACUNA SOCIAL
*
Por mais que seja um trunfo a inocência,
Sei bem que ela é lacuna social
(talvez o meu pecado capital...)
E fruto desta minha incoerência,
*
Pois já não tenho tempo nem paciência
Para me dedicar a obra tal
Que passe a desonesta ou desleal
A minha inata e mais profunda essência!
*
Eu sei que o mal é meu. Faço cedência
A quantas ilações tirar queirais
E faço ouvido mouco ao que for dito,
*
Pois nunca me importou ter aparência
E bendigo as virtudes naturais
Do que, profundamente, em mim está escrito.
*
Maria joão Brito de Sousa - 26.07.2008 - 02.42h
Imagem - "Menina em Monocromia Rosa" (um dos quadros da
"Trilogia da Oferenda", dedicada a Manuel Ribeiro
de Pavia) - obra adquirida
publicado às 02:04
Maria João Brito de Sousa
Nas horas irreais que aqui te prendem
A este espaço-tempo em que acreditas
Imaginas-te "ser" pois coabitas
Com mundos paralelos que te entendem.
Imaginas-te ser o que te vendem
Os velhos companheiros das desditas,
És como marioneta presa a fitas
Sem sequer perceber que elas te mentem...
Outros tempos e espaços, simultâneos,
Partilham essas horas que conheces
Sem que saibas sentir que estão ali...
E todos nos quedamos, consentâneos;
Viver as horas tensas que tu esqueces,
É viver por metade o que eu vivi...
Maria João Brito de Sousa - 24.07.2008- 11.19h
Foto - "CIBERÉTICA" - pastel de óleo, 40x30cm
Maria João Brito de Sousa, 1999
publicado às 11:19
Maria João Brito de Sousa
Conjuro-vos cigarras por nascer!
Crescei, multiplicai-vos e cantai!
Sede o que sois como chuva que cai
Sobre terra que a saiba a receber.
Sede, apesar de não vos entender
O mundo, o mundo inteiro que não vai
Aceitar quanto sois porque vos sai
Da alma insatisfeita o que não quer.
Mas sede, mesmo quando injustiçados,
Pois será vossa voz pão do futuro
Que, ao erguer-se de vós, canta inquieta
Nos versos que hão-de ser justificados
Por aquilo que sois e que eu conjuro
Na exortação do próximo poeta!
Maria João Brito de Sousa - 16.07.2008 - 17.10h
In Poeta Porque Deus Quer - Autores Editora - Janeiro de 2009
IMAGEM - Gravura de Manuel Ribeiro de Pavia
(Ilustração do LIVRO DE BORDO - António de Sousa - 2ª Edição - Publicações Europa-América- 1957)
Nota - Soneto muito ligeiramente reformulado a 09.11.2015
publicado às 17:10
Maria João Brito de Sousa
O que mais nos magoa é não ter fé,
Ser cego a essa imensa lucidez
E surdo às mil razões, aos mil porquês,
De assumir-se e de ser-se o que se é,
É calar estados d`alma, é sonhar baixo,
Saber não se exceder por estar zangado,
Não se falar demais, ter-se o cuidado
Que eu tenho, neste mundo em que m`encaixo...
Durou porque durou! Fez-se memória
A paixão desigual (porque ilusória...)
A quem eu dediquei parte da vida...
Perdeu encanto, nunca teve glória
E tudo o que sobrou foi esta história
Daquela que se assume interrompida...
Maria João Brito de Sousa - 10.07.2008
ESSÊNCIA - Acrílico sobre placa cartonada - 93x73cm
Maria João Brito de Sousa - 1999
publicado às 23:46
Maria João Brito de Sousa
Nestas reviravoltas da palavra,
Onde eu encontro a luz é onde ecoa
A voz que se não cala e que ressoa
Quando o espinho da vida em mim se crava.
Adormece esta chama a arder em mim
Numa urgência de SER que me deslumbra
E emerge um novo vulto da penumbra...
O corpo de um poema nasce enfim!
Eco de mim, suponho, eu dou-me inteira,
Memória duma vida ... eu, verdadeira,
Presumo-me inocente e sou culpada...
No tronco da palavra eu sou palmeira,
Num fruto, em cada flor, amendoeira,
Mas para muita a gente eu nem sou nada...
Maria João Brito de Sousa - 09.07.2016 - 23.00h
O AUTISTA-Pastel de Óleo, 60x60cm
Maria João Brito de Sousa - 2006
publicado às 23:00
Maria João Brito de Sousa
Rola a bola de neve numa encosta
E tudo vai levando no caminho...
Começou a rolar tão de mansinho
Que só a vemos quando o mal se mostra...
De tanto que cresceu, tudo levou,
Pois nada sobrevive ao seu rolar
E eu, sob a avalancha, a sufocar,
Pensei poder pará-la... já parou?
Se há coisas coisas que podemos evitar
Com um abraço que devemos dar
E que pode bem mais do que a tristeza,
Abrace-se a tristeza! Esse abraçar
Foi sempre a melhor forma de se amar
E a neve, então, derrete, de certeza...
Maria João Brito de Sousa - 06.07.2008 - 14.40h
A Lágrima - Maria João Brito de Sousa
Pastel de Óleo - 38x28cm
publicado às 14:40
Maria João Brito de Sousa
Não sei como gerir tanta emoção
Nem sei como vos hei-de agradecer
Tudo isto aconteceu e eu sem saber
Como expressar a minha gratidão
Se cada um de vós é meu irmão
Na nova dimensão, no renascer,
É também vosso tudo o que eu fizer,
Cada traço a nascer da minha mão...
Pr`a todos vós que não vejo, mas sinto,
(serei sempre leal pois nunca minto)
O meu muito obrigada e os meus versos!
A todos vós prometo esta partilha
De mulher inventada numa ilha
Algures entre inventados universos...
publicado às 00:04
Maria João Brito de Sousa
Pronto. Já passou muito tempo e muitas pessoas me têm perguntado como vai o mealheiro para a compra do célebre Portátil 2008. Algumas dessas pessoas nem sequer são bloggers, mas têm acesso à net e gostam de ler o poetaporkedeusker.
Aqui vai a última actualização: 310 euros.
Um dos elementos do COPROP (Comissão Pró Portátil) encontra-se, neste momento, de férias, mas mal ele regresse sugerirei que se comece a pensar na devolução dos donativos aos Mecenas que contribuíram para a causa do Soneto na Blogosfera.
A todos os que já contribuíram, a todos os que pensam ainda contribuir e a todos os que não contribuíram porque os tempos estão mesmo muito díficeis, eu deixo o meu abraço de agradecimento.
Um abraço de cometa também para todos os elementos do COPROP que têm sido incansáveis e para a equipe do Sapo que pôs em destaque o Café com Natas quando esse blog lançou um apelo em prol desta causa. Durante mais alguns dias a conta manter-se-á disponível.
Espero não ser fuzilada pelos militantes da causa, pois estou a publicar este post à revelia deles... mas há vários dias que a conta não aumenta e eu comprometi-me pessoalmente com a devolução dos montantes doados, caso não fosse possível alcançar o suficiente para a compra do 2008.
Abraços de cometa!
publicado às 14:47
Maria João Brito de Sousa
Paixão. Viver a vida sem paixão
É quase não viver, é só passar
Por este nosso mundo sem deixar
Um rasto nesta estranha imensidão,
É deixar por metade a construção
Do edifício "vida", abandonar
A razão de viver e nem sonhar
Que o mundo esteja - e está! - na nossa mão.
Viver sem ser apaixonadamente,
Passar e não olhar, ser indif`rente,
É ser mais pobre ainda, é não ter nada,
Ou, sendo "nada", ter forma de gente,
Quando se ignora o apelo sempre urgente
Da vida que nos chama, apaixonada...
Maria João Brito de Sousa - 01.07.2008 - 11.55h
Pormenor de "O Cristo Amarelo", Paul Gauguin, 1848-1903
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Soneto dedicado, a pedido, a quem me comenta com o nick "Paixão"
publicado às 11:55