Maria João Brito de Sousa
Ó minha madrugada imaculada
Em crescendos de luz e de cansaço...
P`ra ti eu quero o tempo e quero o espaço,
P`ra ti, a quem me dou sem pedir nada.
De ti, lembrança viva, inalcançada,
Vou colhendo os poemas que te faço
E que depois devolvo ao novo abraço
Que em luz desvenda a nova madrugada.
Ó minha madrugada pendular,
Meu ensejo de enfim ressuscitar
Nesse recomeçar das horas novas,
Tu abres os teus braços aos meus dias
E renovas-te em dores e alegrias
Sobre as nenhumas coisas que reprovas...
Maria João Brito de Sousa - 30.06.2008 - 14.47h
publicado às 14:47
Maria João Brito de Sousa
Humano corpo-escravo, a quanto obrigas!
Quantas vezes limitas quanto prendes...
Bem sei que não conheces, nem entendes,
Os meu voejos d`alma, estas cantigas.
Pobre corpo mortal! Quem tu abrigas
É um`alma invencível a quem estendes
Uma âncora-grilheta. Compreendes?
Pouco lhe importa, a ela, quanto digas.
Neste equilíbrio instável sobrevivo
Entre um corpo imprestável e cativo
E um` alma de poema, insatisfeita.
Nesta dicotomia, o meu arquivo,
Amontoo os mil versos que cultivo
No seio dessa amálgama (im)perfeita.
Maria João Brito de Sousa - 29.06.2008 - 13.26h
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Dicotomia - Aguarela e pena 67x47cm
Maria João Brito de Sousa 2002
publicado às 13:26
Maria João Brito de Sousa
Sei de um mundo de luz onde os poetas,
Despidos dos humanos preconceitos,
Viajam pelo espaço entre os eleitos
Como estrelas do céu, como cometas.
É por aí que a alma, essa inquieta,
Etérea como a luz, esquece os defeitos
E rodopia em círculos perfeitos
De fórmula geométrica e secreta.
Eu sei de um mundo mágico e seguro
Onde cada presente é um futuro,
Onde a terrena dor não faz sentido.
Sei desse mundo porque já lá estive
E a imagem del ´inda em mim vive
Dentro de mim. Cá dentro e tão perdido.
Maria João Brito de Sousa - 27.06.2008 - 22.32h
Imagem retirada da internet
publicado às 22:32
Maria João Brito de Sousa
Cego de medo e dor, já nada vê.
Confuso e humilhado, o bicho é cego.
Roubam-lhe a liberdade, o aconchego
De amar a vida sem saber porquê.
Corre o sangue no dorso. Já não é
Da natureza o seu desassossêgo.
Da vida que viveu com estranho apêgo
Pressente o culminar... [Olé,olé!]
O público, em histeria colectiva,
Estremece inebriado e grita: -Viva!
Mas é morte que quer e a morte vem...
Ajoelhou o touro e vai morrendo
E eu, que nada fiz mas compreendo,
Ajoelho com ele, morro também.
Olé...
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Maria João Brito de Sousa - 2008
publicado às 11:17
Maria João Brito de Sousa
Fotografia retirada do blog lavaflow.blogs.sapo.pt
Todos morremos um dia, mas ocorre-me pensar que o poderemos fazer com a dignidade possível e natural do momento. Não me agradaria nada morrer desta forma...
Muitos pensarão: - Está preocupada com os touros e esquece-se dos homens mulheres e crianças que, a cada minuto, morrem em idênticas circunstâncias...
Nada disso. Eu preocupo-me com os touros E com os homens, mulheres e crianças. Preocupo-me com tudo o que vive, sente e sofre.
Preocupo-me e ocupo-me. E é preocupando-me e ocupando-me que me ocorre ter algumas certezas. Uma delas é que há mil e uma maneiras do ser humano (que ainda não morreu nestas ou noutras circunstâncias) ocupar o seu tempo e que torturar animais não é, seguramente, a mais saudável...
Há quem se debruce sobre este assunto com maior eloquência e objectividade, por isso vos remeto para trapezio.blogs.sapo.pt/23338.html - MARRADAS
publicado às 13:12
Maria João Brito de Sousa
Um abraço, um sorriso, um beijo breve,
Um poema a nascer desse momento,
Numa manhã que traz um novo alento
A quem, de tanto dar, já nada deve...
À força de sonhar, quem tanto escreve,
Alimenta de sonho o seu talento
E distribui depois esse alimento
Como se a própria dor lhe fosse leve
E nasce um novo dia, uma promessa,
Nessa flor de ideais que recomeça
Na estranha imposição da nova ideia
Na palavra engendrada - uma raiz -,
Floresce, desabrocha, é tão feliz
Quanto a força que a fez e que a norteia!
Maria João Brito de Sousa - 23.06.2008 - 12.26h
(Agora mesmo, directamente no post)
Imagem - Gestação Floral - 100x70cm
Pastel de Óleo e Acrílico - Maria João Brito de Sousa 1999
publicado às 12:26
Maria João Brito de Sousa
Ó lírios deste campo, quem teceu
Nesse terceiro dia a vossa alvura?
E que sagrada mão vos preencheu
Puros perfis em traços de brancura?
Quem foi esse que soube em vós erguer
A vossa perfeição serena e casta
Sem macular, fiar, entretecer,
Esse pálio subtil que vos encastra?
Só vós, humildes filhos destes campos,
Conheceis dessa vossa criação
A mais concreta, ou vã, simbologia,
Pois nós somos os tais que tecem mantos,
Nós, os que desdenhamos da razão
Da vossa perfeição e harmonia…
Maria João Brito de Sousa - 21.06.2008 - 16.21h
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publicado às 16:21
Maria João Brito de Sousa
NOTA DO COMPUTADOR-VELHINHO:
A Poeta deu cabo de mim na Festa do S. João Virtual!
Encontro-me em greve e o anti-vírus está em coma...
Até amanhã, após negociações com o Poder-Central.
publicado às 12:22
Maria João Brito de Sousa
NUNCA DESENCANTES UM SAPO! *
Quebra-se a magia do beijo assombrado
Que magicamente fez, do sapo, humano...
Fico entristecida! Quanto desengano
Pra quem fora um simples sapo descuidado! *
Vá lá!, nunca beijes um sapo encantado,
Lembra-te que podes causar-lhe tal dano
Que o pobre batráquio, de sapito ufano,
Passe a ser humano. Coitado, coitado! *
Pobre desse sapo que estando inocente
De culpa, de intriga, de ódio e de traição,
De repente entende quantas falhas tem *
Quando, por um beijo, se transforma em gente
E perde inocência. Que desilusão...
Tu, quando o beijaste, sabia-lo bem! *
Maria João Brito de Sousa
19.06.2008 - 08.53h
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NOTA - Descobri que foi este o meu primeiro soneto em verso hendecassilábico, o que não deixa de ser curioso pois nem sequer fazia ideia de o ter escrito. Está reformulado, claro, mas foi mesmo escrito em verso hendecassilábico, no seu original.
15.01.2016
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Ao SAPO, porque o prometido é devido e eu sempre gostei de sapos!
publicado às 08:53
Maria João Brito de Sousa
A ti me entrego, ó lucidez suprema!
Eu, pequenina luz do teu feitiço,
Minha última morada e compromisso,
Eu ínfima pecinha do teu esquema,
Tão lúcida que vejo além de olhar,
Eu que, embora confusa, já vislumbro
Razões que tenha para andar no mundo
Buscando o que não devo nem sonhar...
E brinco ainda!? Nem sei bem porquê...
Vestida de palavras que são tuas,
Descubro outras palavras que são minhas
E agora que me dispo e ninguém vê,
Vão-me ficando as frases todas nuas;
Assim me entrego a ti que me adivinhas.
Maria João Brito de Sousa - 18.06.2008 - 12.29h
Imagem retirada da Internet
publicado às 12:29
Maria João Brito de Sousa
Ainda a minha fome era criança,
Ainda olhos perdidos nas lonjuras,
Ainda não na espera, que as procuras
Se sobrepunham sempre à própria esp`rança.
Inda a vida girava numa dança,
Inda o corpo pedia outras doçuras,
Inda as formas instáveis, inseguras,
Inda os cabelos presos numa trança,
Já as mãos, incansáveis, me guiavam,
Entreteciam estrofes, desenhavam,
Perdidas na missão que lhes cabia
E, à noite, já meus olhos se cansavam
Sobre as palavras que os desafiavam
Como se fossem tudo o que eu pedia...
Maria João Brito de Sousa - 16.06.2008 -22.38h
publicado às 22:38
Maria João Brito de Sousa
Aos medos que venci, ao desamor,
Mudei-os em poemas, dei-lhes traços
E há sempre um amanhã cheio de cor
Que me vem abraçar estendendo os braços ...
Se me julgarem triste, na aparência,
Por dentro, eu serei Estrela da Manhã,
A que anuncia a luz nas refulgências
Da coisa prometida - e não foi vã... -
Amo, também, a graça das estrelas
E a bruma que é a mãe de outra magia
Que estua sobre um mar de caravelas
As ondas que te embalam no seu canto
E encontro, a cada hora desse dia,
Teus versos que me envolvem como um manto...
Maria João Brito de Sousa - 15.06.2008 - 11.57h
À Ki, que hoje festeja o seu aniversário, e ao Poeta António de Sousa que escreveu o poema REFLUXO.
Imagem retirada da Internet
publicado às 11:57