Maria João Brito de Sousa
De passagm se vive e se combate
E se constrói a paz, se encerra a luta,
De passagem se chora e se desfruta
A vida, antes que a vida em nós nos mate...
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De passagem se sonha e se erguem pontes,
Se prolonga o momento passageiro,
Se muda, se transforma o mundo inteiro
Tal qual água a nascer de eterna fonte
Porque, nesse jorrar, se aprende o mundo,
Se faz bem, se faz mal, se segue em frente,
Se grita a nossa dor, se exalta a vida...
Quantos anos se vivem, num segundo,
Sabendo que ele é tanto mais urgente,
Quão mais próxima a hora da partida?
Maria João Brito de Sousa - 30.04.2008 - 11.53h
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Ao meu amigo Jangadadecanela, pois foi um post dele e alguns comentários seus
que o fizeram nascer.
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publicado às 11:53
Maria João Brito de Sousa
Passagem! Eu, por cá, estou de passagem!
Passo por esta vida e vou deixando
Sementes do que for congeminando,
Porque assim se me cumpre esta viagem
E passo até por ti, que adivinhaste
Meus versos de semente abrindo em flor
Pois assim deve ser enquanto for
Preciso semear no que sonhaste...
Passagem! De passagem se semeia,
De passagem se colhe esse sonhar
A despontar em nós que o semeámos,
De passagem se vive uma epopeia,
Se rasgam novas rotas pelo mar,
Se sobrevive ao sonho que sonhámos!
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II
Eu passo pelo mar, passo por terra
E é no ar que construo o meu poema
Enquanto, lá de baixo, a vida acena
Com todos os mistérios que ela encerra
E desconstruo o sonho e volto à vida,
Vou decifrando mais e, deslumbrada,
Retomo a minha eterna caminhada
Em direcção à Terra-Prometida
Pois passo e no passar é que desvendo
Os segredos do mundo, o que ele murmura
Enquanto o tempo passa como eu passo
E quanto mais passar, mais eu aprendo;
É viagem de estudo à sepultura,
Mas nunca passará quanto aqui faço...
Maria João Brito de Sousa - 29.04.2008 - 12.27h
publicado às 12:27
Maria João Brito de Sousa
Pequena, alegre e sempre sonhadora,
Nunca fui importante... isso que importa,
Se o vosso olhar me vem bater à porta
E fica preso a mim, se em mim demora?
De muito pequenina, eu passo agora
Ao fio d`água que galga uma comporta
E é sempre o vosso olhar quem me conforta,
O vosso meigo olhar quem me enamora...
E fico, embora vá... nem sei explicar...
Sou una e dividida em vidas mil,
Ou força que se apressa e segue em frente,
Que o destino, afinal, é sempre um mar
Tão extenso quanto um céu de azul-anil
Que abraça a terra em flor, enxuta e quente...
Maria João Brito de Sousa - 28.04.2008 - 11.15h
Na foto - Ribeira da Lage, junto ao Palácio Marquês de Pombal - Oeiras
publicado às 11:15
Maria João Brito de Sousa
Com estas minhas mãos eu ergo um mundo,
Com estas mesmas mãos, planto-lhe amor
E reinvento em mim, pleno de cor,
O mesmíssimo mar em que me afundo...
Com estas minhas mãos que não descansam,
Que morrem devagar, mas que não param,
Eu escrevo os mil poemas que ficaram
Enredados nas mãos que aqui os lançam...
Com mãos cheias de vida e de certeza,
Com estas duas mãos que Deus me deu,
Reabro uma janela, afasto a dor
E exijo, ao próprio sonho a que estou presa,
Quanto, por minhas mãos, se reergueu,
Quanto nelas cresceu de humano amor...
Maria João Brito de Sousa - 27.04.2008 - 12.22h
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publicado às 12:22
Maria João Brito de Sousa
UM DIA... FEZ-SE ABRIL!
Um dia eu fui poema e fui palavra!
Um dia eu floresci nas carabinas
E semeei canções pelas esquinas
Como quem enfim colhe o que em si cava!
Um dia eu fui mais longe e mais além
E acendi minh` alma e cantei mais!
Um dia eu fui dif`rente entre os demais...
Um dia... fui feliz como ninguém!
Agora Abril é hoje, Abril é sempre!
Abril é cada dia em que eu viver
Com a alma a sorrir num sonho em flor
Pois fez-se Abril, um dia... e fui semente,
Fui sonho e liberdade a florescer,
Partilha, comunhão, renovo e cor!
Maria João Brito de Sousa
ABRIL EM NÓS
Havia tanto azul por inventar
Neste país amorfo e tão cinzento...
E um grito germinou deste lamento,
Nma voz que ninguém pôde calar...
Havia Abril em nós, mas sufocado,
Um Abril estrangulado e por nascer,
Que levedava em nós, sempre a crescer,
Pujante, inevitável, adiado...
Neste país com medo em cada voz
Onde sonhar-se um sonho era punido
Com grades de prisão, dor e tortura,
Nasceu, um dia, Abril em todos nós;
Bendito seja o sonho enfim cumprido
Por quanto desse Abril em nós perdura!
Maria João Brito de Sousa
UMA FLOR CHAMADA LIBERDADE
Aonde, ó estranha flor que em mim floresces,
Dessa tua raíz, a nova urgência?
Em pétalas da cor de outra impaciência,
Hás-de ousar ir além, sempre que cresces!
Nasceste em dura fraga, ou penedia,
Sempre em busca de um sol que te pertence
E a fraga é sempre a terra onde tu vences
Sobre uma haste de sonho e de utopia
Por ser a flor em nós que abraça Abril
Nos braços da raíz dessoutro crer
Que é feito de justiça e de igualdade,
E, onde floresça um cravo, há sonhos mil,
E há mais fraternidade a renascer
Sobre este renovar da LIBERDADE!
Maria João Brito de Sousa - 26.04.2008 - 12.35h
publicado às 12:35
Maria João Brito de Sousa
TERRITORIALIDADE
Meu altar entre concha e girassol,
Meu estro, meu luar de insenso e prata...
Tão humilde é a voz que te retrata
Quão desmedida a luz desse teu sol.
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Tua planura imensa como imagem
De uma capela erguida junto ao mar...
Eu ergo a minha voz para te cantar
Uma canção que vem dessa paisagem.
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Quem dera ir mais além, cantar mais alto,
A serena beleza que me envolve
Sobre este chão sagrado onde nasci
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Onde a terra e o mar, num sobressalto,
Justificam a paz que agora absolve
A vida de ilusões que vivo aqui...
Maria João Brito de Sousa - 2008
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E foi com a maior alegria que recebi o email da poesiaemrede.no.sapo.pt,
anunciando que o meu soneto era o vencedor ex-aequo do primeiro prémio
do 2º concurso do Poesia em Rede, "Poemas da Minha Terra".
O outro poema premiado é também um soneto lindíssimo, a que a Carla Ribeiro
(autora) deu o nome de "Casa de Solidão".
Para ela e para toda a equipa do Poesia em Rede, um abraço de parabéns!
Porque os poemas não são propriedade exclusiva dos seus autores. Pertencem também a quem os veícula e a quem os lê!
OBRIGADA! Em meu nome e em nome da Poesia Portuguesa!
publicado às 12:52
Maria João Brito de Sousa
Sozinhos por vezes estamos sós por vezes nos sentimos E tantas vezes procuramos quem nos encha de mimos Sem procurar, alguém conhecemos sem esperar, ao nosso lado fica Quando Deus acha que merecemos um poeta para nós indica Porque Deus quis, uma poetisa enviou abençoada hora que o fez a nós passou ela a ser a nossa voz Diz que somos seus amigos nunca nenhum de nós duvidou A Maria João a todos cativou! Blue Eyes, Porto, 21 de Abril de 2008________________________________ ´ Este soneto foi-me oferecido pelo meu amigo Blue Eyes num gesto de indescritível ternura. Obrigada Blue, por me estragares com mimos. Sabe tão bem sentir que somos compreendidos... também me soube muito bem receber muito mais do que realmente mereço. É que eu gosto de assumir a menina de tranças que me acompanhará por toda a vida... OBRIGADA POR LEREM OS MEUS POEMAS E OBRIGADA, TAMBÉM, PELO MUITO DE VÓS QUE ELES CONTÊM... E A TI, BLUE EYES, UM OBRIGADA IMENSO COMO UM ARCO-ÍRIS!
publicado às 01:14
Maria João Brito de Sousa
Custou mas consegui! Este é o Oscar, perdão, A Bolota Luminosa, concedida pelo
fragil-contem-poesia.blogs.sapo.pt aos bloggers que, ao abrigo do próximo acordo ortográfico, dominem o Alentejano (Xaparrês), depois de uma polémica conferência que teve lugar no Salão Nobre do Sapo, com a distinta presença da Sra. Ministra das Artes e seus onze assessores. Durante o importante debate, tiveram ainda a palavra Adnirolfpa, Cafecomnata e ZoOm.
O acordo foi aprovado por unanimidade, bem como a eleição da ilustríssima poetaporkedeusker ao cargo de Ministra das Artes,cargo do qual tomou posse às 5.00h da madrugada (hora continental).
publicado às 13:56
Maria João Brito de Sousa
Ele era o seu olhar que me fugia,
Ele era a sua voz que rareava...
Todo um imenso abismo separava
O que éramos os dois. Eu bem sabia...
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E era eu, eu só, quem percebia
Que neste amar demais tudo faltava...
A ardente chama qu`inda me queimava,
O fogo essencial, a poesia!
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Trinta anos eu vivi nessa ilusão
E tanto me anulei, mal entendida,
Que me esqueci de mim, que me neguei...
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Trinta anos eu vivi em solidão!
Foi, afinal, por mim que fui traída,
Pelo poema em mim que então calei!
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23.04.08 - 12.00h
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Fotografia - "Édipo e a Morte da Última Certeza", 60x42cm, Acrílico sobre Canson (entre vidros), 2000 - Maria João Brito de Sousa
publicado às 12:25
Maria João Brito de Sousa
Tantos anos vivi que sei de cor
As pétalas, ao tempo, a rota, à lua,
À montanha abissal, a ruga crua,
Os bocejos, ao sol... seja o que for!
Evoco mil marés em que desenho,
Nas rochas e na areia, o meu sentir;
Renovo o que teci neste ir e vir,
Ora sorrindo, ora franzindo o cenho...
Sou quase intemporal! Semeio vida
Por essa terra virgem, desnudada,
Que foi minha mulher desde o começo,
A minha terna amante, a preferida...
Eu, líquido caminho, infinda estrada
Que vós desconheceis, mas que eu conheço!
Maria João Brito de Sousa - 22.04.2008 - 13.03h
Fotografia - "A Tecedeira de Barcas", 76x64cm, Pastel de Óleo sobre
Papel Fabriano montado em tela, M. João Brito de Sousa, 2006
publicado às 13:03
Maria João Brito de Sousa
Esta parte de mim nunca tem fundo;
É um poço, um abismo, um nunca-acaba!
Se nela caio, já ninguém me agarra
Que esta parte de mim é de outro mundo...
Nesta parte de mim, quando caminho
Neste fio-de-navalha em que me vivo,
Descubro os sonhos novos que cultivo
E que cheiram a mel e rosmaninho...
É aqui, neste espelho em que me mostro,
Que sou mais eu, que sou mais verdadeira,
Que dispo outras roupagens que me cobrem
Noutra imagem de mim, quando demonstro
Que, apesar de dispersa, fico inteira,
Muito além das feições que aqui me morrem...
Maria João Brito de Sousa - 21.04.2008 - 13.19h
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Fotografia - Pormenor da tela homónima deste poema, de Georges Rouault
Paris, 1906
publicado às 13:19
Maria João Brito de Sousa
Eu matei-me de amor por te não ter
E, depois de morrer, morri de novo;
Fiz desta minha vida um só renovo
De mil dif`rentes formas de morrer...
Mas nunca me esqueci, porque esquecer
Nunca foi solução e, se te evoco
É só porque assim quero, assim provoco,
Porque já nada tenho que temer...
Foi sempre culpa minha, eu sei-o bem,
Pois amor de Poeta é sempre em excesso,
Assusta e afugenta homens comuns
E deixa tatuagens que ninguém
Lhes pode remover. Hoje regresso,
Pois não me prendem mais laços nenhuns...
Maria João Brito de Sousa - 20.04.2008 - 13.29h
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publicado às 13:29