Maria João Brito de Sousa
Angra do Heroísmo, eu vi-te agora
Num casario bordado a verde e mar!
O sol, por entre as nuvens, vem beijar
Casinhas onde o branco se demora...
Angra, eu não sei sequer como te vi
Se aqui, no Continente, sempre estive,
Se o meu corpo por cá resiste e vive
Sem ter tido a ventura de ir aí...
E, no entanto, vi-te, eu sei que sim!
Cidade recortada a branco e céu
E a afundar-se no verde de colinas
E sei que agora vais morando em mim,
Que me corre nas veias sangue teu
Por obra de outras mãos bem mais divinas...
Maria João Brito de Sousa - 22.02.2008 - 13.31h
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Feito agorinha mesmo, a pedido da AZORIANA, com o Alto Patrocínio do Grande Arquitecto...
ANGRA DO HEROÍSMO Angra é pérola nascida do mar, É ventre verde beijado p'lo céu, Rosário de estrelas a c'roar O bravo da ilha, o nosso ilhéu. Do casario desvio o olhar P'ro Monte Brasil de cratera ao léu E lá do alto eu posso avistar Toda a beleza do azulado véu. Ilha de Nosso Senhor Jesus Cristo, Descoberta por ilustres navegantes Que da memória não são distantes. De louvar-te - Angra - nunca desisto! Em dois mil e oito de forma tão grata Chamas o mundo num «ABRAÇO DE PRATA»!
Rosa Silva ("Azoriana")
publicado às 13:31
Maria João Brito de Sousa
ALMA DE MAR
*
Eu quero esta minh`alma como o mar;
Lucidamente líquida, abissal,
Mas nunca tão salgada porque o sal
É mais denso e pesado do que o ar.
*
Quero a alma que anseio vislumbrar;
De uma leveza imensa e tão total
Que ascenda pelo céu universal
Como se fosse um raio de luar.
*
Quero ver a minh`alma feita em espuma,
Como as ondas do mar a dar na areia;
Eu, náufraga-perfeita de quem sou,
*
Quero a minh`alma esparsa, como bruma,
Abstracta, intraduzível, como ideia
Que no mar quis perder-se e se encontrou.
*
Maria João Brito de Sousa - 22.02.08 - 12.00h
publicado às 12:31
Maria João Brito de Sousa
Razão de ser quem sou, voar mais alto,
Fronteira de mim mesma em contra-mão,
Razão desta loucura sem razão
De indómita vontade em sobressalto.
Minha vontade: - Sabre de aço puro
Temperado noutra forja; a dos sentidos.
Minha fé: - Mar imenso, intempestivo,
Que inunda as enseadas do futuro.
O fogo de criar que me incendeia
As horas de dormir, já desprezadas,
Desperta-me sentidos ignorados
E a luz que deles emana e me encandeia,
Constrói poemas longos como estradas
Que eu hei-de percorrer de olhos fechados!
Maria João Brito de Sousa 21.02. 2008 08.47h
publicado às 08:47
Maria João Brito de Sousa
Amigos, sou aquela que tocou
Por um segundo, só por um momento,
A túnica de luz que iluminou
A morte que ditara o meu tormento.
Nesse breve segundo, o sofrimento
Que meu humano corpo trespassou,
Passou de dor a paz e deu alento
À nova vida que essa luz gerou.
Agora que me escrevo entre dois mundos
Que invento entre morrer e acordar,
Como "ponto" que lê quanto estribilha,
Sou, qual cenário, qual pano-de-fundo,
O actor que sempre teima em não calar
A gratidão imensa da partilha.
Maria João Brito de Sousa - 20.02.2008 - 11-25h
publicado às 11:25
Maria João Brito de Sousa
Agora é que começo a conhecer
Este eu que um dia fui e reneguei
Perdida noutro espanto a que entreguei
Um milhão de poemas por nascer
*
Mas esse humano amor... tinha de ser;
Fui amante, fui mãe e... já voltei.
Hoje recordo o muito que criei
E sei que nunca me hei-de arrepender.
*
Agora a filha pródiga voltou
Nas asas dum poema, ou dum cometa,
Fechada como um punho, ou como um nó
*
E quanta poesia ela criou
A abraça e vai pedindo que prometa
Que nunca mais a torna a deixar só.
*
Maria João Brito de Sousa
publicado às 11:24
Maria João Brito de Sousa
TERCEIRO AUTO-RETRATO
*
Meu porte de cantiga por cantar,
De ideia inacabada e já nascendo
Ainda uma outra ideia por esboçar
No poema que fui e que vou sendo,
*
Castelo de ilusões em tom lunar,
Satélite do mundo em que me centro;
Se todas as janelas dão pr`o mar,
As portas, todas, abrem para dentro
*
Meus olhos, onde a pátina do tempo
Tornou mais negro o negro do carvão,
Sabem de cor a dor e o sofrimento,
*
Mas calam, bem calado, o seu talento
De verem muito mais que outros verão,
Num olhar que vagueia, desatento
*
Maria João Brito de Sousa 18.02.2008 - 14.10h
publicado às 14:10
Maria João Brito de Sousa
UM CASTELO
DE
AÇUCENAS *
Na paz de Deus embalo os meus poemas
E desse não sei quê que vive em mim
Vem-me uma lucidez que não tem fim
E é, no fundo, a razão das minhas penas *
Na paz que delas vem, ergo as empenas
Do castelo em que abrigo o meu jardim
De versos cujas rimas de cetim
Bordei letra por letra. E são centenas! *
No pátio dos poemas que eu herdei,
Na paz que o verso em mim quis delegar,
Vi florescer nas tardes mais serenas *
O pomar dos poemas que criei...
Eu, que mendigo um pão pra mastigar
Do alto de um Castelo de Açucenas.
*
Maria João Brito de Sousa - 17.02.2008 *
In Poeta Porque Deus Quer - Autores Editora, 2009
publicado às 14:53
Maria João Brito de Sousa
Adivinho, talvez... saber, não sei!
Talvez me escape o tempo, ou falte a vida...
Esta, que agora vivo, é, à partida,
Pequena para tudo o que sonhei!
*
Quanto mais tempo e vida, mais farei,
Por isso, em adiando-lhe a partida,
Vislumbro, ao longe, a Terra Prometida
E julgo que, algum dia, a alcançarei
*
Vai-me o corpo pesando e está cansado...
Ah, quem dera a lonjura de infinitos,
Quem dera ir muito além, sendo imortal
*
Diluir-me em poemas, ao cuidado
Da transmutante essência dos escritos...
Ser tudo o que hoje sou. Mas nunca igual!
*
Maria João Brito de Sousa
16.02.08 - 13.00h
publicado às 12:45
Maria João Brito de Sousa
O PERFEITO NAUFRÁGIO
*
Decidi naufragar num mar de escolhos;
Fui ao fundo do mar, vi os tritões,
E tornando à jangada-de-ilusões
Novas verdades trouxe nos meus olhos.
*
Viver a vida em terra entre restolhos
Ou mergulhar no mar todo em canções?
Foi-me a alma cedendo às tentações
De naufragar nas ondas, todas folhos.
*
Coberto dessa espuma e dessa renda,
Eu sou pr`além de mim; sou Terra-ao-Mar
E náufrago em perfeita comunhão
*
Que em terra não encontra quem entenda
A estranha decisão de se afogar
Tendo a Linha de Terra ali à mão..
*
Maria João Brito de Sousa - 15.02.2016
Memorando António de Sousa e as suas obras "O Náufrago Perfeito" e "Linha de Terra"
na véspera do 27º aniversário da sua morte física.
15.02.08 . 13.00h
.
Vide - http://antoniodesousa.blogs.sapo.pt/
publicado às 13:28
Maria João Brito de Sousa
É neste não saber quando virá
Que o próximo poema me fascina...
Talvez quando dobrar alguma esquina,
Talvez no mar revolto... eu sei-o lá!
E é nesta incerteza que me dá
A estranha melodia que me anima,
Que cresce e se renova a minha rima
E germina um soneto ao deus-dará...
Não sei que estranho fado me comanda,
Nem que alheia vontade me norteia
Porque tão só me ocorre este improviso
Na concretização dessa demanda...
Mas queimo as asas contra uma candeia,
Quando um poema entenda que é preciso!
Maria João Brito de Sousa. - 15.02.2008 - 11.31h
Imagem Fotografia recente da porta da nossa casa de Algés, na rua Luis de Camões
publicado às 11:31
Maria João Brito de Sousa
Não foi assim tão antigamente...
Foi há cerca de um tempo
Mais duas metades de dois tempos meios
Que uma voz, amiga certamente,
Embora longínqua, perguntou por mim
E eu, tão confusa, não me conhecia...
Sou mulher de um homem,
Respondia
E a voz insistia:
- Mulher, quem és tu?
- Sou mãe de um menino que não mora cá
E de três meninas que me querem muito,
Apesar da culpa, apesar de tudo...
E a voz repetia:
- Mulher, quem és tu?
Eu iria jurar que não mentia
quando respondia:
- Eu sou essa mãe, apesar do luto!
A voz não cedia quando perguntava
Do Espaço, do Tempo e outras coordenadas:
- Ó mãe dos teus filhos, diz-me quem és tu!
Onde moram as tuas horas carnais?
Onde guardas o corpo quando sais
E voas em busca do filho perdido?
Que fazem essas tuas mãos?
Que estrelas tão negras trazes nesse olhar?
Que morte tão estranha te veio buscar
E esqueceu teu corpo entre os teus irmãos?
E eu respondia
Sem me aperceber
Que me descrevia sem me conhecer:
- Sou a mulher do meu homem
E a mãe das minhas crias!
Procuro o que se perdeu, o que morreu mal nasceu
E não alcanço encontrar...
Mas a voz não se calava nesse eterno perguntar:
- Mulher, que é fe ito de ti?
Só a ti tens de encontrar!
Então procurei-me em mim
E vi que não estava lá...
Procurei-me em todo o mundo,
Do abismo mais profundo
À montanha mais escarpada,
Fui ao Nilo, fui ao Ganges,
Procurei-me em cada ventre
Das grutas mais ignoradas...
Devo ter percorrido o universo inteiro
Quando, de repente,
Encontrei um corpo que me não era alheio
E uma alma ardente
Onde cabia, exactamente,
A chama tão acesa do meu peito!
E juro
Que foi a primeira vez,
Em toda a minha vida,
Que aceitei a minha imagem denegrida,
Que me não importei de não ser entendida
E me orgulhei da estranha condição
De ser UMA MULHER INTERROMPIDA!
Maria João Brito de Sousa
publicado às 11:39
Maria João Brito de Sousa
Pois é! Este blog faz hoje um mês... "looking back over my shoulder", quem diria que, há exactamente um mês, toda esta linguagem me era completamente estranha...
Sempre gostei de fazer tudo sozinha. Pecadilho meu... acho que nasci assim. Agora excedi-me...
Lembro-me de ter metido "mãos ao blog" como quem se atira da prancha de uma piscina sem saber nadar. Passo 1. Já está! Passo 2... mas que raio é um "template"?
E um "link"? E que maluquice é esta de "tags"?
Bom. A verdade é que ainda não consegui pôr o "Hit Counter" a funcionar. Mas não é nada de tão importante assim...
Ainda estava por resolver o problema das fotos. Já tinha ouvido (e vagamente entendido...) falar de "download" mas aqui falava-se de "upload"... sabia, pelo menos, que "down" é "para baixo" e "up", "para cima". O "download" ficara, por isso, mais ou menos ligado ao gesto de carregar num botão... para baixo. Não percebia é como raio podia alguém carregar num botão para cima. Bolas! Quando se carrega num botão, é sempre para baixo!
Já têm uma pequena ideia do que foi a minha odisseia nestes primeiros dias de blogosfera?
Pois foi exactamente assim. E por aí fora...
Não conto mais nada para não correr o risco de me chamarem atrasada mental...
Tudo isto só para vos dizer que o poetaporkedeusker.blogs.sapo.pt faz hoje um mês
e que estou muito orgulhosa dele. E um bocadinho espantada com a minha persistência...
E, já agora, que muitos destes sonetos foram criados directamente da cabeça para as mãos, das mãos para o teclado e do teclado para o blog. Estou ou não estou a trabalhar bem?
Um abraço!
Maria João Brito de Sousa
publicado às 23:58