SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XII
UMA ESTRADA DE PALAVRAS
O sol nasceu de novo, quem diria?
Há, apesar de tudo, uma diferença;
Adormeceu, por fim, essa alegria
Que, estranhamente, vinha da presença.
Aprendiza da escrita, que harmonia,
De súbito quebrada, te pôs tensa,
E depois te roubou tudo o que havia
Suscitando tristeza tão imensa?
Que solidárias forças te tocaram,
Que estranhas harmonias se quebraram
E te deixaram tão desanimada?
E as horas, que em passando não passaram,
Responderam palavras que ficaram
Gravadas no papel, como uma estrada.
Maria João Brito de Sousa – 19.06.2010 – 17.20h
OS OPERÁRIOS DA PALAVRA
Enquanto a nossa escrita aqui deixamos,
Nós, eternos operários da palavra,
Seremos sempre aquilo que criamos
A tempo inteiro, nesta nossa lavra
Realidade é tudo o que engendramos
A partir desta força – a louca escrava! –
Que produz sempre mais do que esperamos
Quando o punhal da escrita em nós se crava
Será sempre uma escolha. Este salário
- Quantas vezes não mais que estarmos bem
Com a força interior de uma Vontade –
Nos diz: - Tu que escolheste ser operário
Deverás não esquecer que te convém
Ser escravo dessa mesma Liberdade!
Maria João Brito de Sousa – 19.06.2010 – 16.49h
TÃO LONGE, TÃO PERTO
Tão longe estão as estrelas e, contudo,
Tão perto podem estar do que sentimos
Quando nós, os cometas, lhes sorrimos
E quando, no sorriso, damos tudo…
Tão perto sinto a estrela e, se me iludo,
É porque eu e a estrela somos primos
Nessa família astral que definimos
Na fazenda de um velho sobretudo…
Casacas de Cometas, Luas, Sóis,
Palavras que não vergam, que se inventam
Em astros nunca dantes alcançados
Pelos descobridores que só depois
Abrirão os portões que em si concentram
Mil mundos que mal foram vislumbrados …
Maria João Brito de Sousa – 20.06.2010
A José Saramago
A António de Sousa que com ele partilha a eternidade, o amor pela literatura e Sete Luas.