SÁBADO, DOMINGO, FERIADO MUNICIPAL E TERÇA FEIRA
PALAVRAS SEM PALAVRA
Ele há tantas palavras traiçoeiras…
Palavras que prometem mas não dão
E outras tantas palavras prisioneiras
Das outras que prometem dar-lhe pão…
Palavras, como o fogo das fogueiras,
Consumidas, quais achas de carvão
Que nada pedem, que se dão inteiras,
Que acreditam ser úteis – e que o são! -
E as outras que, enganando, as entretêm
Nesse nunca acabar da sua entrega
Tendo humílimo lucro em tanta lavra,
Que dela vão bebendo e que não vêem
Que a palavra, em se dando, fica cega…
Falo-vos das palavras sem palavra.
Maria João Brito de Sousa – 30.05.2010, 12.22h
PALAVRAS COM RAIZES DE EMBONDEIRO - Espólio e Escólio
Das muitíssimas coisas que não sei,
Umas há que me chamam, que me prendem,
Que apenas vislumbrando aprenderei
[isto é o que alguns nunca compreendem…].
Haja Sol sobre a Terra e se gorei
Algumas expectativas… que pretendem?
Jamais admitirei que vos não dei
As coisas que vos faltam [ mas não vendem…].
Falei-vos de” projectos para a morte”;
Ninguém levou à letra – espero eu… –
E acreditou que eu era suicida…
Falava-vos da História, do meu Norte,
Da Arte que em mim trago e que me deu
Raízes de embondeiro nesta vida.
Maria João Brito de Sousa – 06.06.2010 – 16.10h
SOLUÇÕES E DISSOLUÇÕES
Devagar, fecho a porta entreaberta,
Cerro os dentes com força e, decidida,
Retomo o meu lugar na estrada incerta
Do rumo original da minha vida.
Exactamente aqui, na descoberta
Do sentido, do rumo e da medida,
Pressinto, neste abraço que me aperta,
A salvação que penso garantida…
Mas salvar-me de quê?[ pergunto agora
que, de repente, entendo um pouco mais...]
Se tudo é relativo e, cá por dentro,
Sinto que a salvação está na demora
Deste estar como estou, entre os demais…
Salvar-me, então, de quê, se me não rendo?
Maria João Brito de Sousa – 29.05.2010 – 15.11h
FAZ CHUVA NO MEU SOL
Faz chuva nos teus olhos de poeta…
No debulhar das horas mais cansadas
Não há raio de sol que te prometa
Um dealbar de claras madrugadas
E escreves, no entanto… uma caneta
Nas tuas mãos nervosas, apressadas,
Traça-te os sonhos numa linha recta
Sobre papéis estendidos como estradas…
Ribomba outro trovão e tu, escrevendo,
Deixas-te iluminar por nova luz
Que o relâmpago traz no seu lampejo.
Mas, chova o que chover, eu bem te entendo;
É nas mãos que essa chuva te traduz,
Te converte num sol que quase invejo…
Maria João Brito de Sousa – 29.05.2010, 14.55h