O MEU MANTO LUNAR BORDADO A OURO
… mas se eu perder o extremo privilégio
Da estranha solidão deste meu lar,
Perco o melhor de mim; perco o sonhar
E a vida vai parecer-me um sacrilégio.
Perco toda a magia e o sortilégio
Genuíno e natural de Poetar
E fico a ser banal, fico vulgar
Como um pobre lacaio em paço egrégio.
Ah! Doce solidão de que o poeta
Sempre necessitou, desde a raiz,
Sempre, ávido, guardou como um tesouro…
Sinto, já, que me foges, incompleta…
E perco tudo aquilo que mais quis;
O meu manto lunar com estrelas de ouro.
Disse David Mourão Ferreira acerca da obra de António de Sousa ; "Cada vocação é uma ilha, cada poeta um habitante solitário."