SÁBADO DOMINGO E SEGUNDA FEIRA VIII
A HORA DO SORRISO
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Tendo a vida virada do avesso
E estando já tão perto da partida,
Tenho, afinal, aquilo que mereço
Porque assim se define a própria vida
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E, se a glória vier, caso demore,
Que nunca tenha pressa de chegar,
Só para que, depois, ninguém me chore
Apenas por fingir saber-me amar.
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Agora, se sorrir, estarei mentindo
Porque me dói, no corpo, a alma inteira,
Porque me assumo humana e pensadora
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O que me irá, decerto, permitindo
Ir-me reinventando. A brincadeira
Não me imporá sorrir a toda a hora.
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Maria João Brito de Sousa - 2010
UMA TAREFA LENTA...
Não tenho tempo, irmãos, que o Tempo voa;
Quem vê, na Poesia, distracção,
Não é poeta e nunca foi senão
Alguém que por aí verseja à toa…
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Lá longe, muito ao longe, o verso ecoa,
Aproxima-se mais, pede atenção
E não lhe posso já dizer que não
Quando, vindo de longe, em mim ressoa.
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Flutua e vai pousar. Quedo-me atenta
E espero o exactíssimo momento
Em que consiga ouvi-lo e dar-lhe voz.
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Pode a tarefa parecer-vos lenta,
Mas esta simbiose exige tempo,
Por mais que o Tempo, assim, fuja de nós.
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Maria João Brito de Sousa - Março, 2010
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O QUE TU QUEIRAS
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Vá, faz de mim - de nós… - o que tu queiras!
Inventa mil passados, mil futuros,
Constrói mil pontes ou derruba muros,
Diz de tua justiça em mil maneiras.
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Cresceste aprisionado entre fronteiras,
Numa urgência de ver claros-escuros
Bem própria dos que vivem (in)seguros
E tentam fazer bem, fazendo asneiras.
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Sonha à tua maneira e sê feliz;
Futuro é um passado por passar
Por um presente que nem mesmo existe
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Aquilo que mais queres, nunca eu o quis;
Houve um dia em que a vida quis parar
E eu só reparei que estavas triste.
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Maria João Brito de Sousa - Março, 2009
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"L`IMPORTANT C`EST LA ROSE", Maria João Brito de Sousa, 1999