SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA V
AMOR TAMBÉM É
Amor é também este latejar
Das asas invisíveis do meu peito,
Das asas de cristal com que me enfeito
Quando faço um poema e sei voar.
É também este estar sem nunca estar
E esta aspiração ao Ser Perfeito,
Quando a noitinha vem, quando me deito
Debaixo das cobertas do luar.
E tudo quanto vive e me rodeia
Se vem deitar comigo e, num abraço,
Nos recomeça o sono e viajamos.
Todos os rituais desta alcateia
São feitos desse amor, como se um laço
Unisse árvore mãe aos filhos ramos.
A TEORIA
Já vos contei das almas pequeninas Que há por detrás de cada ser vivente? Já vos falei do que é mais transcendente No vislumbrar das almas clandestinas? A vós que acrescentais obras divinas A tudo o que acontece e, de repente, Esqueceis o que, no fundo, é mais urgente Por ser inseparável destas rimas, Vou contar um segredo tão secreto Que é bem possível que me não escuteis, Que penseis que tudo isto é fantasia… Mas faz parte do mundo, é bem concreto E existe para além do que entendeis Embora o apodeis de “teoria”…
OUTRAS ENXADAS...
A insinuação vem de mansinho Sob um anonimato relativo… É com os seus disfarces que convivo Ao longo desta estrada em que caminho. Sei bem quando ela vem porque a conheço, Porque sei bem daquilo que é capaz, Sei que mesmo fingindo vir em paz Traz consigo traições que não mereço… Talvez a minha enxada – a minha escrita – Não escave, como a grande maioria, O alimento ou mesmo a construção… Talvez não seja óbvio o que suscita, Mas escava as fundações da Poesia, Tal como as outras vão cavando o pão.