SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA
ORIGENS
Dêem-me verde e sol e água e ar!
Dêem-me as formas mais desconcertantes,
Os ínfimos vazios, locais distantes,
E tudo enfrentarei sem me negar!
Dêem-me a liberdade aleatória
Ou a prisão mais negra e improvável
E eu sempre seguirei, embora instável,
Contando a minha inacabada história!
Não vos negueis à força que em mim trago!
Mesmo que me sondeis, de modo vago,
Eternamente estranha vos serei…
Procurai, no entanto, eternamente
Porque eu estarei em vós, sempre presente,
Na força e na fraqueza que vos dei!
Maria João Brito de Sousa - 2009
VIDA
Sou pólen e suor de brancas flores
E frágil, mas possuo imensa força;
Haverá quem me quebre e não quem torça
O caule que me eleva aos meus amores.
Trago em mim e comigo essa vontade
Que não encontra nunca a explicação
E entrego a minha vida, de caução
A quem souber amar-me de verdade.
Quem sou, se nem quem escreve sabe quem?
Consolai-vos, senhores, não sou ninguém...
(ou sou, mas não vos conto o meu segredo!)
Serei, talvez, uma invenção de alguém
Ou, do sopro da vida, a própria mãe,
Mas não vos farei mal. Não tenhais medo...
Maria João Brito de Sousa - 2009
MORTE
Eu sou a Morte. Sou uma passagem
Difícil para vós, eu sei-o bem,
Mas tenho uma função; sou quem detém
O segredo final desta viagem.
Só de mim nasce a Vida, essa voragem
Que agora existe em vós e que contém
Outra razão secreta; o que lá vem
Sempre que, em mim, se alcance essa paragem.
Sem mim nada haveria neste mundo,
Nada seria verde nem fecundo,
Só fogo rasgaria a escuridão,
Nem o Espaço e o Tempo existiriam
E os próprios cometas só seriam
Um grito a povoar a imensidão.
Maria João Brito de Sousa - 2009