A GRUTA DAS TREZENTAS CINQUENTA E SEIS PALAVRAS E UMA MEMÓRIA
Era uma vez uma gruta pequenina, escavada nas rochas da praia, quase coberta pelo mar na maré-cheia. Diz a lenda que, há muitos anos atrás, essa gruta foi uma mulher igualzinha a mim, igualzinha a nós todas… consta que tinha longos cabelos negros, daí as longas algas que, há uns anos, inevitavelmente assinalavam a entrada da pequena reentrância rochosa.
Talvez vocês nunca tenham reparado nela, mas eu conheci-a pessoalmente há quase cinquenta anos, quando eu e o meu pai brincávamos aos espeleólogos em plena costa do Sol…
“Diz a lenda…”, digo eu, que era diferente das outras grutas. Não porque fosse maior, mais profunda ou muito diferente de todas as outras… mas era uma gruta tão especial que nunca a consegui esquecer. “Diz a lenda…”, digo eu, que era uma gruta fêmea. Mulher, sem dúvida, e indubitavelmente solitária por opção. De forma aparente, claro está, pois recordo-me muito bem de, tanto eu como o meu pai, sabermos, com sabedoria de experiência feita, que era a gruta mais habitada de todas as praias da costa. Porém, quem passasse, num passeio muito banal de reconhecimento ou recreação e, casualmente, reparasse na grutinha, seria esse o adjectivo que utilizaria para a descrever, de tal forma ela se parecia com uma pequena ilha isolada das dezenas de outras grutas que constituíam uma boa parte da orla marítima daquela zona… há cinquenta anos atrás.
A lenda não diz, mas digo eu, que a gruta era Poeta. Que a gruta é Poeta, porque eu reconheci-a quando voltei à praia, há poucos dias.
Mudámos as duas, sem dúvida! Estamos ambas envelhecidas, marcadas pelo tempo que nos cavou algumas rugas na face e nos foi mudando a cor das algas-cabelos…
Agora a lenda passa a dizer, porque sou eu quem lhe está a dar voz, que a grutinha irá ficar para a posteridade num blog de fundo azul escuro, ao lado da poeta humana que um dia a amou e que todos os pequenos seres a quem ela proporcionou espaço e abrigo estarão, para sempre, no coração destas trezentas cinquenta e seis palavras gravadas a negro sobre um suporte virtual branco como cal. :)
Imagem retirada da internet
"Dito" para http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/ às 16h 30m do dia 10.11.09 :)
CONVITE - Na próxima sexta feira dia 13 de Novembro, às 14h 30m, vou estar no edíficio da Cruz Vermelha Portuguesa da Parede a dar o meu melhor por uma palestra sobre "soneto formalmente clássico". Porquê "formalmente" e não apenas "clássico"? Bom, isso eu vou fazer o possível por tentar explicar durante a palestra...
Todos os leitores do Poetaporkedeusker estão convidados!
CRUZ VERMELHA PORTUGUESA
Delegação Costa do Estoril
Rua Vasco da Gama, 243
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S. MARTINHO - Que ele me perdoe este quase esquecimento... desta vez não se proprcionou um post dedicado a ele, mas o espírito de dádiva e partilha está sempre presente!