TRÊS SONETOS DA SALA DE ESPERA DO HEM
A CONSULTA HOSPITALAR I
É neste espaço amorfo em que, sentada,
Aguardo uma consulta que me espera
Que a doença piora... quem me dera
Não ter doença alguma, não ter nada!
Aqui fico pior! Muito pior
Do que o mal que já estava antes de vir
Porque nada me impede de sentir,
Cada vez mais intensa a minha dor!
A esmola que pedi - porque eu pedi
Dinheiro pr`a me fazer transportar -
Faz-me peso demais, torna-me inútil...
Quem me dera poder não estar aqui!
Tão só pudesse eu, já, daqui voar,
Ir fazer qualquer coisa menos fútil!
II
Nesta infinita espera, quantas horas
Se passam num crescendo de impaciência...
Afinal eu sei bem que nem a ciência
Pode justificar-me estas demoras...
Para quê tanto vai-vem se não há cura
Para um cansaço tão insidioso?
Se o mal que aqui me traz é tão p`rigoso
E a vida que me espera pouco dura...
Nesta infinita espera em que adoeço
Um pouco mais e mais cada segundo,
Em que gasto os tostões que nunca tenho,
É segundo a segundo que eu me meço
No quase desespero em que me afundo
De cada vez que cedo e que aqui venho...
III
Oiço, por fim, chamar pelo meu nome!
Levanto-me num pulo, exulto, corro!
Não será desta vez que eu aqui morro
Não sei se da doença ou se de fome...
Boa tarde, doutor! Melhor estaria
Se não fossem as horas que esperei
E os muitos, muitos euros que gastei
Para vir à consulta neste dia...
O médico é simpático e prestável,
Também se ri de mim, o "jogo" pega
E a consulta decorre entre sorrisos...
Que raio de doença tão instável!
Que estúpidas partidas ela prega!
Exames - muitos mais! - serão precisos...
A brincar, a brincar...