NO SILÊNCIO EM QUE TO DIGO
Leia aqui, se faz favor
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Leia aqui, se faz favor
Leia aqui se faz favor.
JANELAS II
*
Uma janela aberta, outra fechada,
Outra que sobre o nada se abre, incerta...
Cada qual descoberta, ideia alada
Que à mente estremunhada lança alerta,
*
Deixando-a, enfim, desperta e acordada
Pois nela debruçada se liberta
E colhe a sua oferta, alvoroçada,
Para lançar-se em estrada agora certa.
*
Deu fruto, esta janela. Que colheita!
Alguém que dela espreita encontra nela,
À chama de uma vela, a fenda estreita
*
Sobre um mundo que a aceita e, já sem trela,
Sem arreios, nem sela, desta feita
A cama em que se deita é escolha dela.
*
Maria João Brito de Sousa – 15.11.2019 – 10.58h
*
Soneto em decassílabo heróico com dupla rima encadeada (interna)
O MEU SONETO DE HOJE III
*
O meu soneto de hoje é dedicado
A quem me veio dar os parabéns
E se gagueja um tanto embaraçado
É porque nunca fez de vós reféns,
*
Nem mesmo crê haver-vos conquistado
Mais do que alguns bocejos e desdéns...
Alma, Soneto! Diz “muito obrigado”
Com toda a garra qu`inda em ti conténs!
*
Por mim, não fico tão surpreendida;
É a ti, afinal, que eu devo a vida,
Bem como a quem te lê, ou já te leu.
*
Recebe a saudação e agradece,
Porque a minha alma toda se enternece
Sempre que alguém saúda um filho meu.
*
Maria João Brito de Sousa – 04.11.2919 – 12.53h
NOTA - A fotografia já deve ter perto de duas décadas, mas é a unica que tenho alusiva a um aniversário.
O MEU SONETO DE HOJE II
*
Se os pássaros pousassem nos meus dedos,
Talvez novos segredos revelassem
E as musas acordassem sem mais medos
De que os alheios credos não gostassem
*
Dos sonhos que sonhassem quando, ledos,
Meus dedos em brinquedos transformassem
E em versos que vibrassem, mesmo quedos,
Nuns tantos arremedos que hoje ousassem...
*
Que pássaro pousou sem que eu sentisse
E sem que eu lhe pedisse aqui cantou?
Um sopro o despertou, sem que dormisse
*
Bastou que o pressentisse e conquistou
Versos que modulou com tal meiguice
Que em nada contradisse o que almejou.
*
Maria João Brito de Sousa – 28.10.2019 – 11.39h
*
Nota - Soneto em decassílabo heróico com rima encadeada interna.
Imagem retirada da net sem autoria identificável
O MEU SONETO DE HOJE
*
Trazia a face f`rida, o corpo gasto
E a vista maltratada pelos anos,
Mas embora o esmagassem desenganos,
Ainda vinha firme, inteiro e casto.
*
Atrás de si deixava o longo rasto
De quanto lhe causara tantos danos...
Foi, porém, a nobreza dos decanos
Que hoje me quis servir como respasto.
*
Entrou-me em casa e já não quis partir;
Havia tanto mundo a descobrir
Neste pequeno mundo franqueado
*
P`la velha porta que eu lhe ousara abrir...
Agora, consolada, vou dormir.
Zela por nós, soneto hoje encontrado!
*
Maria João Brito de Sousa – 11.10.2019 -10.10h
IMAGEM - "Le Berceau", Berthe Morisot
JÁ NÃO HÁ SETEMBRO QUE ME ENCANTE
*
Não, já não há Setembro que me encante.
Ele é prenúncio de outro longo inverno
Que a experiência de vida me garante
Não ser amável, nem gentil, nem terno.
*
Passa Setembro - e passa num instante...-
Para que jogue Outubro o jogo eterno
Do beijo frio que entrega de rompante
E ao qual temo bem mais que ao próprio inferno.
*
Bem sei! Bem sei que o ciclo é natural,
Por isso nem sequer o levo a mal,
Apenas me limito a ser sincera.
*
Se afirmo que este mês me não fascina
É porque estou tão frágil, tão franzina,
Que temo pela vida. E fico à espera.
*
Maria João Brito de Sousa – 03.09.2019 – 11.00h
Imagem retirada daqui
EMBONDEIROS
*
Parecem-me dedos, estes ramos vivos
Saídos de mãos que se erguem expectantes
E encimam pulsos/troncos criativos
Que tudo condensam no espaço de instantes.
*
Sim, semelham dedos mas nunca cativos
Porque porta-vozes de seres verdejantes
Que vivem milénios, serenos, altivos,
Pouco se afastando do que foram dantes.
*
Sempre que vos olho, humildes/soberbos,
Assumo a cadência da ausência de verbos,
Também emudeço ante a vossa grandeza,
*
E vós, tão mais sábios do que isto que sou,
Falais sem palavras do mundo em que estou,
Dos grandes caprichos da mãe natureza.
*
Maria João Brito de Sousa – 15.08.2019 – 11.50h
NOTA - Soneto hendecassilábico criado para um desafio poético no site HORIZONTES DA POESIA (ligeiramente modificado)
Imagem retirada daqui
DO NADA QUE TENHO AO POUCO QUE SOU
*
“Perdi a esperança, perdi a vontade”...
Tudo, na verdade, perdi da abastança
Vinda da bonança após a tempestade.
Mas tudo se evade que a vida é mudança
*
E a ponta da lança é de ferro e saudade...
Mas urdi-me em jade, com perseverança.
Desfiz-me da trança, gritei; Liberdade!,
Da trivialidade moldei a pujança.
*
Pouco me sobrando, por dentro me sondo
E vou recompondo do duro, o mais brando,
Até não sei quando, num gesto redondo,
*
Janelas que rondo, assim me franqueando
Se sigo teimando, tal qual marimbondo*
Zumbindo e compondo, juntar-me ao meu bando.
*
Maria João Brito de Sousa – 01.08.2019 – 10.03h
*
NOTA – O primeiro verso é da autoria de MEA no seu soneto DO POUCO QUE QUERO, QUASE NADA TENHO
* Marimbondo (do kimbundo, Angola) – Vespa, vespão
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.