Maria João Brito de Sousa
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AMOR II * Coroa de Sonetos *
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa *
1. *
Amor é um desejo que se sente
De ter junto de nós a nossa amada
Um só até chegar a madrugada
E, vindo o dia, não se vai da mente *
Amor conjuga amor eternamente
É bem que se transforma na jornada
Em ânsia de ter tudo e não ter nada
Que culpe a nossa vida impenitente *
Se sofres tu não sentes amargura
Espelho dum amor que traz candura
E também, cada dia, um novo alvor *
Abris de primavera a florescer
Em ti eu tenho tudo a renascer
Transformo tudo em mim com teu amor *
Custódio Montes
10.7.2024 ***
2. *
"Transformo tudo em mim com teu amor"
Dizia o vate enquanto a mão beijava
Da bela Ninfa que então recuava,
A doce face tinta de rubor *
"Não sei que responder-vos, meu Senhor...
Jamais alguém me disse que me amava
E receio de amor vir a ser escrava,
Eu, que nasci do húmus como a flor, *
Que nada sei da dor nem do desejo,
Sinto na mão o ardor do vosso beijo
E só posso dizer-vos que jamais *
Senti algo que fosse semelhante...
Deixai, Senhor, que vos passe adiante,
Devo ir cuidar das flor`s e animais!" *
Mª João Brito de Sousa
03.07.2025. 22.30h ***
3. *
“Devo ir cuidar das flor’s e animais”
Do meu jardim à beira mar plantado
Sobranceiro a Oeiras instalado
Ao lado de frondosos canaviais *
Por entre árvores piam os pardais
E sente-se o mar muito animado
Um barco nele ao lago fundeado
Com risos de crianças, mães e pais *
Eu sei que vive aí bem junto ao mar
Onde há jardins de flores pra cheirar
E que aqui pelo Norte é só calor *
Que inunda a pradaria e a minha serra
Mas mesmo assim é bela a minha terra
À qual desde criança tenho amor *
Custódio Montes
4.7.2025 *
4. *
"À qual desde criança tenho amor"
Tal como eu, desde muito pequenina,
Amo o cravo, a giesta e a bonina
E tudo, tudo aquilo que abra em flor... *
Sim, vivo junto ao mar cujo esplender
Caminha ao lado desta minha sina
De cuidar das marés, da areia fina
E de tudo o que viva em seu redor ... *
Desta vez, porque em ninfa transmutada,
Estou de cuidados sobrecarregada
Pois sou de mar e terra cuidadora *
E vós, Senhor, cuidais da vossa serra
Que sei ser das mais belas sobre a Terra
Que de todas as serras é escultora *
Mª João Brito de Sousa
04.07.2025 - 12.20h *
5. *
“Que de todas as serras é escultora”
Ao alto encimada pela alvura
E cada rocha aumenta em altura
Que desta minha terra é protectora *
E quando é gabada hora a hora
A serra lança à volta só ternura
Com fetos e giestas de alma pura
A minha serra aqui é uma senhora *
Quem ama a minha serra a mim me ama
Comigo ao leme aumenta a sua fama
E o mar ao longe fica iluminado *
As praias com as ondas e a areia
Encontram junto a si uma sereia
À qual digo daqui muito obrigado! *
Custódio Montes
4.7.2035 * 6.
"À qual digo daqui muito obrigado!"
"Mais grata fico eu", respondo então
Sorrindo muito elevantando a mão
Para tentar mostrar-lhe o meu agrado *
Sereia sou agora, que há bocado
Tímida Ninfa era e vós, varão...
Mas se quiserdes, posso ser Dragão,
Fada, Duende ou mesmo um ser alado *
Escolhei, Senhor, a minha natureza
Que eu juro obedecer-vos com presteza
E tranformar-me no que mais agrade *
À vossa ideia e ao vosso capricho:
Faço um sinal à Musa e passo a bicho,
Faço outro e passo a ser um deus de jade. *
Mª João Brito de Sousa
04.06.2025 - 15.50h ***
7. *
“Faço outro e passo a ser um deus de Jade”
Um deus muito importante a oriente
Mas fica muito longe aqui da gente
E para o ver não há facilidade *
Encontre um outro aí pela cidade
Que possa ser também eloquente
Mais próximo de nós que frente a frente
Possamos ver a sua majestade *
E não fica em vão nosso poema
Que toda a divindade é um bom tema
Se a sentirmos bem próxima de nós *
E quem nos ler também se delicia
Apegado ao enredo aprecia
Que sem haver leitor ficamos sós *
Custódio Montes 4.7.2025
8. *
"Que sem haver leitor ficamos sós"
E nem o jade de uma estatueta
Que já nem sei se deus ou se profeta,
Pode fazer seja o que for por nós... *
Ao longe, muito ao longe, um albatroz,
Que quase confundi com um cometa,
Desce à velocidade de uma seta
Sobre o corpo indefeso de um caboz *.
Em tudo o que se mova ou que pareça
Quedar-se imóvel apesar da pressa
Com que a Terra volteia sabre si *
Encontro o tal Amor indistinguível
Do outro a que Camões chama invisível...
E eu também, que em chamas nunca o vi! *
Mª João Brito de Sousa
04.07.2025- 20.40h *
9. *
“E eu também, que em chamas nunca o vi”
Nem mesmo penso nele, veja bem
Se é deus na terra, céu ou no além
Ou descrito em livros que já li *
Mas ao falar de amor nunca entendi
Que haja um deus supremo ou mesmo alguém
Que entre nesse amor e nem convém
Porque o fogo a sentir não vem daí *
“É um contentamento descontente”
E só quem ama o outro é que o sente
E não há deus ou fada pelo meio *
Ao fazer um poema também não
Se deve ir para além do coração
Que doutro modo se anda ao seu rodeio *
Custódio Montes 4.7.2025 *
10. *
"Que de outro modo se anda ao seu rodeio"
E se procura ali, aqui, além,
Mas não se encontra nada nem ninguém,
Que Amor ergue montanhas de permeio *
Entre si e o que busca, sem receio,
Conhecer o que a Amor lhe não convém...
Julgo que possa Amor sentir desdém
Por quem, em vez do seu, busque o alheio... *
Mas volto a mim, que estive envolta em chamas
E nunca as vi, embora as outras damas
Jurassem tê-las visto e não sentido... *
Eu nelas me queimei sem tê-las visto
E, inda que seja Amor por mim benquisto,
Não mais dele aproximo o meu vestido... *
Mª João Brito de Sousa
04.07.2025 - 23.50h ***
11. *
“Não mais dele aproximo o meu vestido”
Nem deve aproximar pois se não queima
Embora sem se ver o amor teima
Que é fogo invisível mas sentido *
Esse calor aumenta desmedido
Mesmo sem se querer ele enxameia
Retorna e insiste volta e meia
Cada vez mais aumenta intrometido `*
Ao sentir-se aumentar a sua chama
Torna logo impotente quem inflama
Que de fugir-lhe já é incapaz *
Nos braços do amor então envolto
Jamais se se desprende ou fica solto
E se quiser fugir não volta atrás *
Custódio Montes 5.7.2025 ***
12. *
"E se quiser fugir não volta atrás"
Mas pode, pode sim, seguir em frente
Inda que encontre um mundo bem dif`rente
Do tal que só ardendo se compraz *
E durante algum tempo não tem paz,
Por mais que a paz procure diligente...
Só com mais tempo, uns anos mais à frente,
Se recorda do tanto que é capaz *
Por brutal que pareça essa procura,
Será nela que, enfim, encontra a cura
Para as chagas abertas pelo fogo *
E mesmo nada tendo, ou quase nada,
Não sente dor, a chaga está curada,
Passa a pobreza extrema a desafogo... *
05.07.2025 - 14.40h ***
13. * “Passa a pobreza extrema a desafogo”
Mas mesmo assim não sabe o que pensar
Se foi um perder tempo tanto amar
Ou não devia ter ido a jogo *
Que mal se ama a luz apaga logo
Só temos um lugar para se olhar
Passamos todo o tempo a contemplar
Sem ver a labareda desse fogo` `*
Mas mesmo em desafogo há a lembrança
De todos os momentos de pujança
Em que o amor passava a eternidade *
Neste constante andar do pensamento
A gente volta atrás por um momento
E o amor lembra de novo com saudade *
Custódio Montes 25.7.2025` * 14. *
"E o amor lembra de novo com saudade"
Embora a liberdade conquistada
Exija outra visão, que a tudo e nada
Eu posso amar agora, em liberdade *
Talvez deva chamar fraternidade
A este amor que sinto e que em mim brada
Contra a guerra que grassa e que em escalada
Ameaça extinguir a humanidade *
E um pouco mãe de toda a cria humana,
Mais me rebelo contra a guerra insana,
Mais desta atrocidade estou ciente *
E ao desejo de Paz, chamo-lhe Amor,
Talvez o mais urgente, o Amor Maior:
"Amor é um desejo que se sente". *
Mª João Brito de Sousa
05.07.2025 -21.00h ***
publicado às 00:26