Maria João Brito de Sousa
GENETICAMENTE INSPIRADO *
Vou pincelando, a ocres e vermelhos,
Este soneto oval que me fascina
E iludo os meus anseios de menina
Nesta ressurreição de cacos velhos *
Desminto a evidência dos espelhos!
Deste enlevo renasço, pequenina,
Crescem-me asinhas de feição divina
E fico invulnerável a conselhos *
Engendro, moldo e pinto a "obra-prima"
Que vou solicitando aos meus sentidos
Sem que me sinta, nunca, arrependida *
Porque, a cada segundo, o que me anima
É toda a profusão de coloridos
Que há nesta sensação de criar vida! *
Maria João Brito de Sousa
31.01.2008 - 10.15h ***
In Poeta Porque Deus Quer, Autores Editora, 2009
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Imagem processada pelo ChatGPT
que, desta vez, nem a meu pedido
conseguiu completar a asinha direita da pequena pintora
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Nota - Este soneto foi ligeiramente modificado para a reedição
no Blog
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publicado às 20:14
Maria João Brito de Sousa
Eu, fotografada por Luísa Ribeiro
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NA MÃO DE DEUS *
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita. *
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita. *
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente, *
Selvas, mares, areias do deserto…
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente! *
Antero de Quental
In Sonetos Completos de Antero de Quental - Pensador *
SONETO/MISSIVA
A
ANTERO DE QUENTAL *
Lá nesse não sei onde onde repousas
Todo cinzas e pó mas livre enfim,
Não saberás quão vivas trago em mim
As palavras que, morto, já não ousas *
Passam-se os anos, surgem sobre lousas
Gravados novos nomes num jardim,
Inda que nem pra todos seja assim
E só alguns aspirem a tais cousas... *
Tu, é na mão de Deus que enfim descansas,
Eu, que te lia quando usava tranças,
Escrevo-te agora, neste fim de vida *
E em verdade te digo, companheiro:
Revirei, pedra a pedra, o mundo inteiro
E a nenhum deus achei de mão estendida. *
Mª João Brito de Sousa
10.10.2025 ***
publicado às 16:16
Maria João Brito de Sousa
RABISCO *
Neste Outono que manso avança ainda
Busco-me e não me encontro. Onde estarás
Meu cavalo-de-fogo? E vou atrás,
Vou sempre atrás de quanto não`prescinda *
Pra prolongar, bem sei, a busca infinda
Que comigo nasceu. E tanto faz
Que de alcançá-lo seja, ou não, capaz:
A busca, por si mesma, é já bem-vinda! *
Vislumbro um vago rasto de poeira?
Talvez seja o cavalo que me escapa
Ou o prenúncio de uma outra cegueira... *
De olhos perdidos num pretenso mapa
Sou como o bico de uma lapiseira
Que em branco deixa o livro e risca a capa. *
Mª João Brito de Sousa
09.10.2025 ***
Imagem processada pelo ChatGPT
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publicado às 20:32
Maria João Brito de Sousa
CANDEIA ACESA *
Se o mundo do presente houver futuro
E a Paz vencer a Guerra, essa doença
Que de tão poucos vai sendo pertença
E a todos ameaça, não vos juro, *
Mas eu creio num mundo bem mais puro,
Caso a Paz, por que anseio, a Guerra vença...
Bendito seja o que partilha a crença
De um futuro mais justo e mais seguro! *
Por mais difícil que isso possa ser,
Impossível não é, tenho a certeza,
Cantar a Paz até a Paz vencer *
E mantê-la depois, candeia acesa
Iluminando tudo o que vier
Pra que possamos ver com mais clareza. *
Mª João Brito de Sousa
08.10.2025 - 2015 ***
Imagem processada pelo ChatGPT
publicado às 21:11
Maria João Brito de Sousa
Voltei, ainda que sem tempo e, muito provavelmente, só para vos deixar um poema meio maluco...
Tenho saudades de todos vós e esta é a mais pura das verdades. Ainda que não possa visitar-vos hoje, nem amanhã que é dia de consultas, querem ter a bondade de vir aqui comigo?
Abraços para todos!
publicado às 21:07
Maria João Brito de Sousa
Por favor, confirme a avaria
publicado às 23:41
Maria João Brito de Sousa
imagem processada pelo ChatGPT
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MUNDO III *
Amo imperfeitamente este esférico amor
Que agora olho com dor e a ânsia emergente
De ser não mais que gente e ousar esforço e suor
Para o tornar melhor, que o melhor quer-se urgente... *
Falo, naturalmente, embora com rigor
Do mundo em meu redor. E atrás e à frente...
Será conveniente usar restaurador
Pra lhe dar brilho e cor quando ele assim, doente *
Ao rodar se apresente um tanto agoniado,
Tonto e angustiado ao ver-se do avesso?
Ao "contrário", confesso achar exagerado *
Mas posso estar errado e não haver excesso
No singular processo em que, invertido o estado,
O pino faz, coitado, o mundo que conheço. *
Mª João Brito de Sousa
01.08. 2925 - 10.40h *** Soneto em verso alexandrino com rima entrançada
publicado às 11:29
Maria João Brito de Sousa
Imagem gerada pelo ChatCPT
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SE O CHICOTE DO RAIO ME ILUMINA *
Se hoje escrevo com alma de trovão
E o chicote do raio me ilumina,
São as minhas memórias de menina
Que, debruçadas no meu coração, *
Me acendem, das razões que há na razão,
A improvável vela que, à bolina,
Singra agora, indomável peregrina
Dos ventos fortes, rumo ao furacão *
Lembras-te, avô poeta, desses dias
Das grandes chuvas e de ventanias
Que saudávamos sempre fascinados? *
Das vergastas de luz que ribombavam,
Colorindo as rajadas que sopravam
Nos nossos rostos mudos, assombrados? *
© Maria João Brito de Sousa
Julho, 2020
(no dia a seguir à grande trovoada de Verão)
publicado às 14:41
Maria João Brito de Sousa
Tela de minha autoria
*
Venha comigo, por favor
publicado às 17:32
Maria João Brito de Sousa
Aqui, por favor
publicado às 01:34
Maria João Brito de Sousa
Levante, por favor, a tampa do meu baú
publicado às 14:24
Maria João Brito de Sousa
Imagem Pinterest
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NINGUÉM PASSA NA ALAMEDA *
Silenciada esquina, eterno vento,
Ninguém cruza a alameda, ninguém passa,
Apenas uma pomba que esvoaça
Lhe imprime alguma vida e movimento. *
Um homem sobe agora, sonolento,
Os degraus com que a escada me ameaça:
Caí na escadaria da desgraça
E, devendo arriscar, nem mesmo o tento! *
Sopra o vento. Mais zune e mais fustiga
As casas desta esquina de que é dono...
Por detrás da vidraça que me abriga *
O bocejo das pedras faz-me sono,
Induz-me esta dormência que me intriga
Tanto ou mais do que a rua, ao abandono. *
Maria João Brito de Sousa
22.07.2018 – 11.11h ***
publicado às 00:09