Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

poetaporkedeusker

poetaporkedeusker

UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
08
Set24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXXII

Maria João Brito de Sousa

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXXII

*

Onde acharei lugar tão apartado,

E tão isento em tudo da ventura,

Que, não digo eu de humana criatura,

Mas nem de feras seja frequentado?
*


Algum bosque medonho e carregado,

Ou selva solitaria, triste e escura,

Sem fonte clara, ou placida verdura;

Em fim, lugar conforme a meu cuidado?
*

 

Porque alli nas entranhas dos penedos,

Em vida morto, sepultado em vida,

Me queixe copiosa e livremente.
*


Que, pois a minha pena he sem medida,

Alli não serei triste em dias ledos,

E dias tristes me farão contente.
*

Luís de Camões
***


Vinde comigo e eu vos mostrarei

O espaço pelo qual dizeis ansiar,

Fugi porém senhor que um tal lugar

Jamais agradará a servo ou rei
*


É um espaço do qual fugido hei

E ao qual desejaria não voltar,

Mas voltarei, senhor, pra vos mostrar

E porque mo pedis lá voltarei
*


Tem a aridez marmórea de um deserto

Que nunca houvesse visto Sol nem Lua

E nem os mortos andam lá por perto
*


É qual clareira imensa, negra e nua

Que em nós vai gangrenando a céu aberto

Como uma chaga purulenta e crua
*

II

*
É um local do qual a própria morte

Se esquiva como um bicho ou um humano,

É o vazio medonho, inerte, insano

De quem se encontra entregue a alheia sorte
*


Por lá nunca achareis quem vos conforte,

Tudo é igual a nada, ano após ano,

E se por lá ficardes ao engano

Não mais encontrareis algo que importe
*


Perdoai se vos nego o prometido

Mas não vos levo lá nem por favor

Pois temo que fiqueis por lá perdido
*


Que sintais a vertigem desse horror,

Ou que por vossa dor sejais traído

Já que alli nada medra além da dor.
*


Mª João Brito de Sousa

08.09.2024 - 21.00h
***

A FERIDA...

Fotografia de minha autoria

*

Soneto de Camões retirado do Blog Sociedade Perfeita

07
Set24

PEQUENAS FONTES/GRANDES CATARATAS

Maria João Brito de Sousa

TRÊS MULHERES NA FONTE - Picasso.jpeg

"Três Mulheres na Fonte" - Tela de Pablo Picasso

***

PEQUENAS FONTES/GRANDES CATARATAS
*


Pequenas fontes, rápidos, cascatas...

Assim a água emula a Poesia

Que às vezes se despenha em cataratas

Quando a Musa se exalta ou se extasia
*


E inunda as planuras, pastos, matas

Que nascerem da tua fantasia

Até que, enfim, naufragas e resgatas

Parcos salvados na maré vazia...
*


Qual é que à outra emula é o mistério

Que não desvendarás porque, em verdade,

Não é esse o teu grande desidério:
*


Esse virá na onda que te invade

Mal se desdobre em espuma o verso etéreo

Que te arrebata e leva à saciedade.
***

 

Mª João Brito de Sousa

07.09.2024 -21.05h
***

 

 

 

 

15
Jun24

O IMORTAL SONETO ALEXANDRINO

Maria João Brito de Sousa

Homem Vitruviano - L.V. (1).jpg

Homem vitruviano

Leonardo da Vinci

*

O IMORTAL SONETO ALEXANDRINO
*


Abre-se em leque extenso, amplia-se e seduz

Como raio de luz em nevoeiro denso...

Por vezes surge tenso, em fogo se traduz,

Mas é um ai-jesus tão suave quanto incenso
*


Jamais houve consenso entre quem lhe faz jus,

Mas ninguém o reduz pois jus faz ao bom senso

E quando um ódio intenso o quer levar à cruz,

Levanta-se e reluz, mostra-se infindo, imenso!
*


Ou suscita paixões, ou raivas e desprezo,

Mas lá renasce ileso imune às agressões

E prenhe de ilusões, vivo, brilhante, aceso!
*


Tem forma sem estar preso às velhas convenções,

Resiste às tentações, sustenta-lhes o peso...

Sabe bem quanto o prezo e, a mim, dá-me lições.
*

 

Maria João Brito de Sousa

15.06.2020 - 15.23h
***

13
Jun24

ESSÊNCIA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

young lady with cat pint (1).jpg

Imagem Pinterest

*

ESSÊNCIA
*

Mudas de espanto e sem fazer sentido

Nascem palavras, brotam sensações

Que se entrechocam num ponto perdido

Gerando prados, montanhas, vulcões
*


Trocando as voltas ao que foi pedido,

Emudecendo a voz de outras questões

Com que se tenham já comprometido,

Muito senhoras das suas razões!
*


Como ecos fundos, chegam sons distantes

Que, cá por dentro, fazem ressoar

Roucos murmúrios de ideias constantes
*


Músicas loucas, vibráteis, pulsantes

Em que o desejo se ousa decifrar

Na pauta insone de uns versos cantantes
*


Maria João Brito de Sousa

16.05.2014 – 16.54h
***

 

13
Jun24

BANDEIRA DE CORSÁRIO - Reedição

Maria João Brito de Sousa

old boat pint (1).jpg

Imagem Pinterest

*

BANDEIRA DE CORSÁRIO
*


À nuvem que crescia ordenei: - Gela!

E ela estremeceu, mas não gelou.

Quis pintar qualquer coisa e gritei: - Tela!

Mas ela fez-se surda ou nem escutou
*


Restava-me a memória, esta sequela

De um sonho (in)conquistado que passou,

Escondida onde nem eu dava por ela,

Murchando à sombra desta que hoje sou
*


Escrava da minha própria liberdade,

Jamais o burburinho da cidade

Me há-de arrancar à paz do meu estuário
*


Sobre o convés do galeão, que piso,

Disparo o meu canhão, sem pré-aviso,

E desfraldo a bandeira de corsário.
*


Maria João Brito de Sousa

19.07.2018 – 17.15h
***

Às minhas memórias de Emílio Salgari

10
Jun24

SE O CHICOTE DO RAIO ME ILUMINA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Avó Alice, avô poeta e eu - Algés.jpg

Eu com a avó Alice e o avô poeta na varanda da casa da rua

Luís de Camões

***

SE O CHICOTE DO RAIO ME ILUMINA
*


Se hoje escrevo com força de trovão

E o chicote do raio me ilumina,

São as minhas memórias de menina

Que, debruçadas neste coração,
*


Me enfunam das razões que há na razão

Essa improvável vela que, à bolina,

Singra agora indomável peregrina

Dos ventos que vão rumo ao furacão
*


Lembras-te, avô poeta, desses dias

Das chuvas fortes e das ventanias

Que tanta vez saudámos fascinados
*


P´las vergastas de luz que ribombavam

Colorindo as rajadas que açoitavam

Os nossos rostos mudos e assombrados?
*

 


© Maria João Brito de Sousa - Julho, 2020
*

(escrito no dia a seguir à grande trovoada de Verão)

 

10
Jun24

DIA DE PORTUGAL DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS

Maria João Brito de Sousa

 

 

Luiz Vaz de Camões

*

LVC (2).jpg

Olhos fermosos, em quem quis Natura

mostrar do seu poder altos sinais,

se quiserdes saber quanto possais,

vede-me a mim, que sou vossa feitura.
*


Pintada em mim se vê vossa figura;

no que eu padeço retratada estais;

que, se eu passo tormentos desiguais,

muito mais pode vossa fermosura.
*


De mim não quero mais que o meu desejo:

ser vosso; e só de ser vosso me arreio,

por que o vosso penhor em mim se assele.
*


Não me lembro de mim, quando vos vejo,

nem do mundo; e não erro, porque creio

que, em lembrar-me de vós, cumpro com ele.
*


Luís de Camões
***

16 - Mai 2024 - Cabêlo de Maria João.JPG

Eu no meu melhor ângulo, fotografada por Carlos Ricardo

*
I
*

Tal quis Natura por um breve instante

Que está Natura sempre em movimento

E nunca hesita em nos privar de alento

Se algum de nós se mostra algo ofegante
*


Ao vate juvenil, forte e pujante

Que cria versos ao sabor do vento

E que, sorrindo, a tudo esteja atento

Dá-lhe Natura o dom de ser galante
*


Porém ao que envelhece e que hesitante

Mal pode garantir o seu sustento

Rouba Natura a graça e só garante
*


Que a Morte em breve finde o seu tormento

E que o guarde consigo, enfim distante

Dos mais a quem legou esforço e talento
*

II

*
Nunca nos dá, Natura, um dom constante,

Que para tal não tem consentimento

E o maior esplendor não fica isento

De transformar-se em cinza fumegante
*

 

Que o Tempo é, de Natura, eterno amante

E ao moldar-nos o corpo é violento:

Jamais vereis as rugas que ora ostento,

Nem o meu passo já cambaleante...
*


Estais muito longe e disso me contento

Porquanto não sabeis quão humilhante

Fora poder mostrar-me um só momento:
*


Tão gasta estou e tão deselegante

Que implorarieis pl`o distanciamento

Desta a quem credes bela e fascinante.
*

 

Mª João Brito de Sousa

10.06.2024 - 00.00h
***

O soneto de Camões foi retirado do blog Sociedade Perfeita

 

 

 

 

06
Mai24

NAS TUAS MÃOS - Reedição

Maria João Brito de Sousa

1972 (3).jpg

Fotografia de Abel Ferreira Simões

*

NAS TUAS MÃOS
*

 

Nas tuas mãos eu, ave, me confesso

E esvoaço e sucumbo e já rendida

Espero delas a graça de uma ermida

Onde a chama que sou não tenha preço
*


Eu, ave, tudo entrego e nada peço:

Submeto-me à carícia pressentida

Nas asas da candura em mim escondida

Que tu não sonharias e eu nem meço...
*


E que outra ave marinha ofertaria

Tão extrema e profundíssima alegria?

Que outra se te daria em seda pura?
*


Às tuas mãos, quem mais se atreveria

A desvendar-lhes sede e fantasia

Para enchê-las de espanto e de ternura?
*

 


Maria João Brito de Sousa
Maio 2007
***

05
Mai24

MÃE

Maria João Brito de Sousa

 

 

Mãe na casa da Rua João Chagas - Algés (2).jpg

Fotografia de António Pedro Brito de Sousa

*

MÃE 

*
Soneto Bordado a Linho Sobre Cetim
*


Nestes versos que engomo a ferro quente

sem uma ruga que ensombre, no fim,

este lembrar-te quando, estando ausente,

te não recordas, nem sequer de mim,
*


Neste auscultar-te como se presente

te mantivesse, eternizando assim,

doce, a memória, quando é tão dif`rente

de ver-te viva, bordar-te em cetim...
*


Neste dizer talvez nada sabendo

- suave inocência dos momentos tristes -,

nesta ilusão que sei, mas nunca entendo,
*

Te afirmo que, apesar de tudo, existes:

Estás nas palavras em que aqui te prendo

e na certeza de que em mim persistes.
*


Maria João Brito de Sousa

03.05.2015-02.48h
***


In Antologia Horizontes da Poesia VII

 

04
Mai24

NÃO HÁ FIM PARA O SONHO, NÃO HÁ FIM - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Tela de Álvaro Cunhal (1).jpg

Tela de Álvaro Cunhal

*

NÃO HÁ FIM PARA O SONHO, NÃO HÁ FIM...
*


Não há, neste planeta, mar nem céu,

Estrada longa demais, alta montanha,

Ponte suspensa sobre um medo teu

Que te trave esse sonho e, coisa estranha,
*


Um pouco desse sonho é também meu,

Um nada dessa chama em mim se entranha

E aonde chegar, chegarei eu,

Pois nisto ninguém perde. Só se ganha.
*


Não há fim para um sonho construído,

Nem haverá lugar para o vencido

Num sonho desta forma partilhado
*


Se, quando te pareça ver-lhe o fim,

Vês que mal começou dentro de mim

E que outros vão nascendo ao nosso lado.
*


Maria João Brito de Sousa

02.05.2018 – 12.54h
***

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em livro

DICIONÁRIO DE RIMAS

DICIONÁRIO DE RIMAS

Links

O MEU SEBO LITERÁRIO - Portal CEN

OS MEUS OUTROS BLOGS

SONETÁRIO

OUTROS POETAS

AVSPE

OUTROS POETAS II

AJUDAR O FÁBIO

OUTROS POETAS III

GALERIA DE TELAS

QUINTA DO SOL

COISAS DOCES...

AO SERVIÇO DA PAZ E DA ÉTICA, PELO PLANETA

ANIMAL

PRENDINHAS

EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS

ESCULTURA

CENTRO PAROQUIAL

NOVA ÁGUIA

CENTRO SOCIAL PAROQUIAL

SABER +

CEM PALAVRAS

TEOLOGIZAR

TEATRO

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D

FÁBRICA DE HISTÓRIAS

Autores Editora

A AUTORA DESTE BLOG NÃO ACEITA, NEM ACEITARÁ NUNCA, O AO90

AO 90? Não, nem obrigada!