Maria João Brito de Sousa
PEQUENA INTRODUÇÃO - O post de hoje nada tem a ver com os padrões a que eu ,religiosamente, venho tentando submeter este blog sobre soneto clássico. É claro que os sonetos vão estar cá, mas foram escritos apenas numa perspectiva de "noblesse oblige"... quando comecei a escrever o primeiro a única coisa que me apetecia fazer era jogar um joguinho de xadrez com o 2008, o computador... depois achei imensa graça ao primeiro e nasceu-me um segundo, mas eu não me conseguia esquecer das "tareias" que o 2008 me tinha dado sempre que eu tentara mostrar-lhe que trinta anos sem jogar me não haviam transformado na perfeita atrasadinha mental que ele insistia em transformar-me ao vencer-me tantas vezes... e consegui! Ontem à noite resolvi "roubar" um tempinho às minhas tarefas rotineiras - que são muitíssimas, por estranho que possa parecer a alguns de vós - e, em cerca de meia hora, dei xeque-mate ao 2008!
Façam favor de comemorar comigo! Agora já não me considero assim tão estúpida!
Noblesse oblige e eu … voilá , cá estou!
Não sei o que dizer, do que falar,
Mas este desafio de poetar
É o que faz de mim tudo o que sou…
Noblesse oblige e eu… cumpro o que digo,
Pois doa o que doer, eu tentarei…
É tão só um soneto o que farei
Na perfeição da métrica que sigo.
E uma atrás da outra – quantas letras! –
Lá vão nascendo os versos do costume
Na estranha dimensão da coisa-alada …
É esta a tal magia dos poetas;
Cozinhar versos nesse brando lume
Onde ninguém cozinharia nada…
II
Vou escrevendo um soneto “porque eu quero ”
Onde quis Deus deixar que eu descansasse…
Ficasse eu indiferente ou não gostasse,
Tanto a Deus lhe daria… e agora espero.
Espero que surja alguma coisa nova,
Que algo me surpreenda de repente…
Mas esta obediência é aparente
E o que aqui vai nascendo, a sua prova…
Por não ser nada fácil poetar
Sem essa inspiração que vem do alto,
Sobre essa insuspeição que Deus me exige,
Nasceu-me este soneto bipolar …
Senhoras e senhores, este é o salto
Que me obriga a dizer; noblesse oblige !
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
CONVITE - Entretanto, vamos dançando o tango no http://www.avspe.eti.br/eventos/eventota ngo/lista.htm
publicado às 11:28
Maria João Brito de Sousa
Mal? O que é o Mal senão ausência?
Senão falta de luz e de calor?
Senão falta dessoutro imenso Amor
Em quem errou por falha ou imprudência?
O que é o Mal senão pura inclemência?
Senão a negação, senão a dor?
E, se esse Mal existe, o que é pior
Do que pesar, depois, na consciência?
O que é o Mal senão uma mentira?
Ou a própria Mentira, disfarçada
De coisa que te agrada e te apetece?
A Lua que em redor da Terra gira,
Tão vestida de branco e imaculada
Também recebe o Sol que nos aquece...
À Maria Luísa Adães
Pormenor de "O Grito", Edward Munsch
Imagem retirada da internet
publicado às 23:01
Maria João Brito de Sousa
DA PARTILHA DO SONHO
Prometo-te o suor, mas nunca o pão!
Pensa que quando queiras vir comigo,
Of`reço-te ilusão, dou-te um abrigo
E tudo o que te exijo é o perdão...
Procura, lá no fundo, uma ambição
E, quando a descobrires o que te digo,
É que o sonho constrói, meu bom amigo,
E a ambição arrasa uma nação...
Repara: Nada dou, nada prometo,
Nada trago comigo, de concreto...
Só trago as mãos vazias mas, no peito,
Bate-me um coração multiplicado
Em coisas que só são do teu agrado
Se tentas, como eu, ser mais perfeito...
Maria João Brito de Sousa - 16.10.2008
DAQUILO QUE PENSAIS...
Serei um ser tocado pela lua;
Uma qualquer Maria-Sem-Camisa,
Transportada, ao de leve, pela brisa,
Escrevendo os seus sonetos de alma nua.
Serei o que quiserdes, mas serei!
(talvez exista apenas, não me int`ressa...)
Estarei sempre a passar, mas fico presa
Nos versos e nas rimas que deixei...
Serei sempre este rasto-de-cometa,
Esta papoila ou esta borboleta
Pousando onde calhar, numa procura;
Esta procura, feita, de passagem,
Que cumpre, no roteiro da viagem,
Aquilo que pensais ser só loucura...
Maria João Brito de Sousa - 16.10.2008 - 13.13h
À Flor (adnirolfpa)
À Maria Luísa Adães
publicado às 13:13
Maria João Brito de Sousa
DA RELATIVIDADE DO TEMPO
Um cansaço de vida, um quase-morte,
Depois um renascer contra a vontade.
O corpo à minha espera (identidade?)
Um Palácio de Luz e eu sem Norte...
É tudo tão dif`rente! Essa ilusão
Do tempo que se vive deste lado,
Dilui-se entre o futuro e o passado
E traduz-se num`outra dimensão.
Um segundo, um milénio... quanto tempo
Se passou, afinal, enquanto estive
Diante dessa luz cheia de paz?
Um milénio, por lá, é um momento
Daquilo que por cá se sente e vive.
Um segundo? Um milénio? Tanto faz!
Maria João Brito de Sousa - 13.10.2008
À Eva
À Velucia
ESQUECER, À LUZ DAS VELAS
Declaro o fim-do-mundo à luz das velas!
Nesta longa sequência de poemas
Remeto pr`a Mamon esses problemas
Da cobiça, dos ouros, das mazelas!
À luz das velas sou imperatriz
Das interpretações que a vida tem;
À luz das velas SOU! Não há ninguém
Que me curve a vontade ou a cerviz!
Caminho paralela á própria essência
Das coisas desde a sua procedência
Como quem, sendo louco, `inda agradece.
Caminho à luz de velas, mas caminho!
O meu estro reluz dentro do ninho
Com a serena raiva de quem esquece...
Maria João Brito de Sousa - 13.10.2008
Ao poeta António Codeço
Imagem retirada da internet
publicado às 12:46
Maria João Brito de Sousa
O CULTIVO DAS ROSAS
Sou filha-de-ninguém no dia a dia
Mas trago o sangue bom dos meus avós
E mesmo nada tendo, tenho voz
(desculpem-me a vaidade, a ousadia...)
Sou filha-de-ninguém, mas sou poeta!
Canto o passar das horas neste mundo
E, enquanto cantar, não vou ao fundo,
É esta a minha glória mais secreta...
Eu, filha-de-ninguém, protejo a vida,
Encontro-me onde a sorte foi perdida,
Saboreio, ao segundo, a caminhada,
Dou tudo o que em mim há, sou generosa,
Acredito no "ser", cultivo a rosa
Que vos alegra e não vos pede nada
II
Cultivo a minha rosa à luz da lua.
O sol nem sempre vem, nem sempre aquece...
Cultivo a rosa e a rosa não se esquece,
Responde: - És de ninguém? Que sorte a tua!
Nós, filhos-de-ninguém, criamos laços
E agradamos (ou não...) a toda a gente,
Mas trazemos connosco esta semente
Que transforma um olhar em mil abraços
Temos picos, é certo, e quantas vezes
Usamos, sem pensar, essas defesas
Pra preservar a nossa própria vida...
Dá-nos o mundo amor, dá-nos revezes,
Faz de nós predador`s ou faz-nos presas,
Mas nunca de alma fraca e já vencida
*
Maria João Brito de Sousa - Outubro 2008
À Natália Correia
À Joanina
À Azoriana, pela açorianidade e pelo nome da rosa
publicado às 13:15
Maria João Brito de Sousa
De mim para comigo eu quis falar
E, às tantas, o luar falou mais alto
E desenhou-me a sombra nesse asfalto
Onde eu estava comigo a conversar
De mim para comigo... e o luar
Veio deixar-me a alma em sobressalto!
A sombra lá em baixo e eu tão alto,
A lembrar-me da queda, se falhar...
De mim para comigo eu disse então:
- Se cair voltarei, estarei no chão...
Mais vale acreditar, seguir em frente!
Olhei de novo o chão, já pequenino.
Voar! Voar foi sempre o meu destino!
E segui, muito além do que é prudente...
II
De mim para comigo. O sonho é tudo!
(se aceito, é quem me targa a alma aberta...)
E vamos a viver que a morte é certa!
O sonho aceita o fim. Eu não me iludo.
De mim para comigo. Estranho estudo
Que levo a cabo neste eterno alerta,
Pois tudo o que há em mim, em mim desperta
E tudo o que desperta é conteúdo...
Das coisas que, ao passar, foram ficando,
(não paro de sonhar! Eu só abrando
e fico a meditar no que aqui faço...)
Há passos de luar nos meus sentidos
E beijos que nem foram prometidos,
Inúteis, como tudo o que aqui faço...
"O Pensador" - Rodin
Imagem retirada da internet
publicado às 15:34
Maria João Brito de Sousa
VIAJAR PARADA
Desta alma pendular e des-inteira
Eu amo as mil raízes que engendrei
Na vertical de mim, como sonhei!
Eu, dedicada à causa derradeira,
Às aves que em mim poisam, aos meus frutos,
Ao vento que me embala de mansinho,
À luz que vai rasgando o seu caminho
Na terra, a pecadores e impolutos,
Às mil formas de vida que me envolvem,
Aos sonhos que, em nascendo, me devolvem
A força que em mim trago e me foi dada,
Às estrelas que me olham lá de cima
À fé que cresce em mim e que me anima
A tanto viajar estando parada!
O SORRISO DO MAR
A tanto viajar estando parada
Chamar-lhe-ão loucura (e talvez seja...)
Mas eu amo esta terra que me beija
No dealbar de cada madrugada.
E estendo mais e mais estes meus ramos
E fico assim feliz se frutifico!
É assim que viajo enquanto fico
E corro muito mais que os próprios gamos!
Não páro de correr nem um segundo!
Espalho as minhas sementes pelo mundo
E dispersa no vento é que eu existo.
Em frente o mar sorri, chama-me barco...
Sorrio-lhe de volta. O que eu abarco
Do mar, nesse sorriso ao qual assisto!
Imagem - "Potro Radiculado"
Maria João Brito de Sousa, 1999
publicado às 12:14
Maria João Brito de Sousa
...MAS SÓ DEPOIS!
Depois de mim, na paz de outra presença,
Quando de mim sobrar recordação,
Depois, não mais o sonho será vão.
Depois, quando eu morar na luz intensa.
Se, por enquanto, eu passo por aqui,
Virá depois o tempo de ficar
(só é preciso Tempo, ó Deus solar!)
Neste mesmo lugar em que nasci...
A Liberdade, agora, é o meu rumo!
Eu sou como o Poema em que me assumo
Nesta humana e teimosa condição...
Virá quando quiser... mas só depois!
Porque este estranho encontro entre nós dois
Será quando mo peça o coração.
DESDE O MEU PRIMEIRÍSSIMO COMEÇO
Será quando mo peça o coração,
Quando o corpo me diga que já basta,
Quando a Morte voltar, serena e casta,
E de novo tomar a minha mão.
Virá, inevitável e seguro
Como o dia que um dia já passou,
Esse encontro final de quem ficou
Suspenso entre o Passado e o Futuro.
Se voltei foi por pura teimosia!
(talvez uma pitada de Magia
tivesse comandado o meu regresso...)
Quando partir será porque assim quis!
Por cá ficará tudo o que já fiz
Desde o meu primeiríssimo começo.
Imagem - "Os Guardadores de Luas"
Óleo sobre tela - 100x70cm
Maria João Brito de Sousa, 2006
publicado às 11:46
Maria João Brito de Sousa
A pomba pôs um ovo redondinho
E agora vai chocá-lo! É boa mãe,
Mas não sabe que esse ovo `inda não tem
Aquilo que o transforma em pintaínho...
.
Coitados dessa pomba e desse ovinho!
A natureza chama e ela vem
Pousar o seu ovinho onde ninguém
Jamais a ensinara a fazer ninho...
.
Não vou tirar-lhe o ovo! Ela é feliz
E, na sua ilusão, realizou
A missão para a qual foi concebida...
.
Afinal foi sempre isso o que ela quis;
O ovo redondinho que chocou
É - quem sabe? - a razão da sua vida...
.
Para todas as crianças que possam, eventualmente, ler o poetaporkedeusker...
e para os crescidos também.
publicado às 22:28
Maria João Brito de Sousa
A UM SONETO DE PÉ REALMENTE QUEBRADO
*
Se a gralha fosse falha, simplesmente...
Mas a falsa, a matreira, tem defeitos
Que roubam ao soneto os tais efeitos
Que podem deleitar olhos e mente
E gralha que se torne permanente,
Fá-lo-á destoar dentre os eleitos
Que, sendo bons sonetos, são perfeitos
E cuidam de ter ritmo coerente.
Se, ao menos, fosse muito pequenina...
Mas sendo estrofe inteira, o que escapou,
Sempre há-de destoar entre as demais,
Portanto... por favor, emende a rima!
Não lhe posso explicar por que falhou,
Mas desde já prometo; Nunca mais!
Maria João Brito de Sousa
11.02.08 - 09.30h
Este é um favor que peço à minha amiga Miragem
que me deu a honra de pôr, no "seu cantinho",
um soneto meu que "saiu" com uma falha tipográfica...
publicado às 10:33