Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
a mesma inocência dos dos cristãos novos, no Paço,
dos dos negros, nos porões das naus,
dos dos judeus, em Auschwitz,
dos dos nossos amigos, nas masmorras da Pide?
Todos diferentes, todos animais,
António…
E eu, António,
eu que, hoje, como há cinquenta anos,
os sinto, os entendo
e, do mais fundo de mim,
os tento perdoar,
não consigo deixar de condenar
essa crua faceta de tantos
tantos dos que,
caminhando sobre duas patas,
acreditam que a dor é monopólio seu
e que a racionalidade
lhes confere o direito de SERem os únicos.
TODOS DIFERENTES, TODOS ANIMAIS!
Ao meu avô, António de Sousa, Poeta, tradutor, advogado, crítico literário e um daqueles seres vivos que sempre acreditaram na sensibilidade de todos os outros.
Maria João Brito de Sousa - 07-06-2011-11:41h
[against all odds, com honras de blog principal]
Ps – Perdoa-me se te arrasto o nome para o campo de uma batalha que prevejo desproporcional, dura e infindável. Por esta altura, tu, lá na tua Ilha de Sam Nunca e eu, ainda por cá, fisicamente desgastada, pouco mais poderemos emprestar para além disto; nome e versos… mas não fomos nós quem sempre acreditou na força das convicções e das palavras que as levam mundo afora?
Fotografia retirada do blog lavaflow.blogs.sapo.pt
Todos morremos um dia, mas ocorre-me pensar que o poderemos fazer com a dignidade possível e natural do momento. Não me agradaria nada morrer desta forma...
Muitos pensarão: - Está preocupada com os touros e esquece-se dos homens mulheres e crianças que, a cada minuto, morrem em idênticas circunstâncias...
Nada disso. Eu preocupo-me com os touros E com os homens, mulheres e crianças. Preocupo-me com tudo o que vive, sente e sofre.
Preocupo-me e ocupo-me. E é preocupando-me e ocupando-me que me ocorre ter algumas certezas. Uma delas é que há mil e uma maneiras do ser humano (que ainda não morreu nestas ou noutras circunstâncias) ocupar o seu tempo e que torturar animais não é, seguramente, a mais saudável...
Há quem se debruce sobre este assunto com maior eloquência e objectividade, por isso vos remeto para trapezio.blogs.sapo.pt/23338.html - MARRADAS
Não há desculpa que justifique a crueldade para com os animais.
Lembro-me de ser muito pequenina e ficar desolada com os espectáculos de tauromaquia que passavam na televisão. O meu pai e o meu avô partilhavam desta minha repulsa, razão pela qual a televisão passou a ser desligada sempre que havia transmissão de touradas.
Fora da família havia sempre quem me garantisse que os touros não sentiam nada e, com seis ou sete anos, não podia opôr-lhes grandes argumentos... com excepção daquela certeza "absoluta" de que os cavalos e os touros estavam a sofrer.
Hoje, passei o meridiano dos cinquenta e continuo a pensar da mesma forma. Além do mais adquiri conhecimentos que vieram dar corpo aos argumentos que então não tinha.
Sabem que as hastes dos touros são profusamente irrigadas e inervadas e são orgãos importantes para a orientação do animal? Sabem que essas hastes são serradas a sangue frio antes das touradas provocando dores intensas e profundo estado de confusão?
Estive, esta tarde, durante cerca de três horas, numa acção de protesto promovida pela ANIMAL, contra o comércio de artigos fabricados em pele de animais não humanos. Permito-me transcrever aqui, algumas linhas de um dos folhetos que estavam a ser distribuídos pelos membros da organização e que vêm reforçar as minhas convicções.
"... são também privados de água e de comida. Quando entram na arena, os touros estão já fracos, assustados e confusos- alguns touros têm até fortes crises de diarreia. Longe de serem animais violentos- como os defensores das touradas procuram defender- os touros estão, na verdade, apavorados e fugiriam da arena se tivessem oportunidade de o fazer. A este medo junta-se o sofrimento físico, quando toureiros a cavalo começam a cravar-lhes "bandarilhas"....... os touros são retirados da arena, a carne e músculos à volta dos arpões são cortadas, novamente sem anestesia, para lhes retirarem os ferros e são depois mantidos até dois dias à espera, em sofrimento, até serem levados para um matadouro onde serão mortos..."
Aqui pára a transcrição. Só para fazer uma pergunta... será que a maioria dos homens e mulheres portuguesas (tudo gente crescida...) não consegue entender aquilo que já era óbvio para uma uma criança de cinco ou seis anos?