Maria João Brito de Sousa
BANDEIRA DE CORSÁRIO
*
À nuvem que crescia, ordenei: - Gela!
E a nuvem estremeceu, mas não gelou.
Quis pintar qualquer coisa e gritei: - Tela!
Mas ela, surda, nem sequer escutou.
*
Restava-me a memória, esta sequela
De um sonho (in)conquistado que passou,
Escondida onde nem eu dava por ela,
Murchando à sombra desta que hoje sou.
*
Escrava da minha própria liberdade,
Jamais o burburinho da cidade
Me arrancaria às ondas do estuário.
*
Sobre o convés do galeão que piso,
Disparo cem canhões, sem pré-aviso,
E desfraldo a bandeira de corsário.
*
Maria João Brito de Sousa – 19.07.2018 – 17.15h
publicado às 09:15
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Ó vagas do meu mar, loucas marés que ao longo de uma vida me perderam, ó jangadas de espuma, ó vãs galés de uns sonhos que em poema aconteceram,
Não sei se ainda estou sobre os meus pés se vos evoco e lembro que estiveram ao leme desta barca, ou no convés de um sonho que bem poucos conheceram
Mas, livre ou brutalmente aprisionada, o amanhã que o diga. Eu calo agora por hoje, ou para sempre, a voz magoada
Que me comanda a vida a toda a hora e a cada instante insiste em ser cantada, mesmo quando empurrada borda fora...
Maria João Brito de Sousa – 05.06.1015 -16.16h
Imagem retirada do Google
publicado às 17:20
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Existe ainda um mar que, em tempo incerto,
Transpondo quanto dique eu lhe impuser,
Me galvaniza e vai, sempre a crescer
Por dentro de mim mesma, a descoberto,
Submergindo o que exista lá por perto,
Subindo o que é suposto, em mim, descer
Nessa vaga incontida do meu ser
Que, ao quebrar, se transforma em livro aberto.
Mole infinita de ondas e marés
Nas quais, liberta a escrava das galés,
Vaga a vaga, me afundo em vaga alheia
De um mar que podes ser, que também és,
Se à praia desces e, molhando os pés,
A espuma ascende em nós, galgando a areia.
Maria João Brito de Sousa – 01.04.2011- 09.16
NOTA DA AUTORA - Soneto em decassílabo heróico, trabalhado a partir do soneto original “Havia um Mar”, in PEQUENAS UTOPIAS -
CORPOS EDITORA, Maio de 2012.
publicado às 02:53
Maria João Brito de Sousa
Havia um mar algures, num tempo incerto,
Gerando a vertical deste meu querer…
Mar galvanizador, sempre a crescer
Por dentro de mim mesma, a descoberto,
Galgando quanto havia ali por perto,
Subindo mesmo o que era pr`a descer,
Um mar em mim, essência do meu ser
Transformada, que foi, em livro aberto...
Genuíno mar com ondas e marés
Em que liberto a escrava das galés
E onde me encontro, sempre em maré cheia,
Com esse mar que, às vezes, também és
Sempre que desço pr´a molhar os pés
Num mar, algures em nós, galgando a areia.
Maria João Brito de Sousa – 01.04.2011- 09.16h
publicado às 11:14
Maria João Brito de Sousa
Não semeaste Tu, nas ondas bravas,
A espuma de corcéis jamais domados?
Dos profundos abismos que criavas
Erguiam-se eles, depois, espumando irados…
E nesse imenso sonho em que moldavas
No futuro os penhascos planejados,
Que imensa força em Ti mesmo encontravas
Nesse acto de engendrar os incriados?
Depois, desses corcéis de branca espuma
Que galgavam planícies infindáveis,
Eclodiria a vida primitiva
Que se acrescentaria e que, uma a uma,
Conquistando os vazios mais improváveis,
Morreria tão só pr`a ficar viva…
Maria João Brito de Sousa – 14.06.2010 – 23.28
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
publicado às 11:26
Maria João Brito de Sousa
E que me interessa a mim ir ver o mar
Se tenho um outro mar dentro de mim
Nas altas ondas que hei-de conquistar
Antes que o meu mar seque e chegue ao fim?
Não penses que me podes encantar
Com líquidas promessas de delfim…
Aquilo que me importa é navegar
E eu só sei navegar se for assim…
Por minutos, por horas [ eu sei lá…],
Posso dar-te atenção. Tento ajudar-te
Mais, talvez, do que tu possas fazê-lo.
Depois, é no casulo que se dá
O milagre do mar… tudo isto é Arte
E é neste mar que a Arte sabe sê-lo…
Maria João Brito de Sousa – 07.06.2010 – 19.17h
Imagem retirada da internet
publicado às 16:05
Maria João Brito de Sousa
Saberás do vento que sopra na areia?
Sabes do calor nessas rochas salgadas
Que, apesar de tudo, vão sendo habitadas?
Já viste as mudanças quando há lua cheia?
Já viste tritões? Conheceste a sereia
Que chama por ti, dessas grutas sagradas,
Nos dias incertos, às horas marcadas,
Que o tempo decreta e o acaso norteia?
Já te imaginaste dif`rente e, contudo,
Igual a ti mesmo nos sonhos que inventas,
Se a tanto chegaste por tua vontade
Ou és indif´rente, dizes: - Eu não mudo!,
Não sabes voar, nada vês ou nem tentas
Saber até onde chega a liberdade?
NOTA – Soneto Alexandrino
publicado às 14:42
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
O mar de que vos falo é todo meu,
Nasceu dentro de mim em tempos idos
E foi-se acrescentando aos meus sentidos
Nesse excesso de mar que em mim cresceu
E me fez mar, nos sonhos concebidos
Por vontade de um sonho onde nasceu...
Se, acaso, esta ilação vos ofendeu
E, nisto, vos sentis desiludidos,
Pedi ao mesmo mar que vos falou
Da estranha descrição que, em vós, teceu
Que deixe de gritar-vos aos ouvidos
Das praias e rochedos que galgou
Nas marés em que a vida vos perdeu
Em paixões de tamanhos desmedidos...
Maria João Brito de Sousa – 29.06.2009
NOTA - Soneto (mal) reformulado a 05.06.2014
publicado às 12:22
Maria João Brito de Sousa
O MAR NA MINHA MÃO *
Muitas vezes não sei o que dizer
Sobre um mar tão imenso, tão profundo,
Que reina sobre nós e sobre o mundo...
Eu, que não sou ninguém, que hei-de fazer? *
Como posso pensar em descrever
Um mar a que não sei medir o fundo?
Imaginar que vós, a quem infundo
Tais dúvidas, houvesseis de o saber... *
Explicar uma tão grande imensidão,
O azul intenso, as ondas quais capelas,
As marés e os mistérios que são seus, *
É ter o próprio mar na minha mão
E voltar a singrá-lo em caravelas;
Não é crer-me poeta, é crer-me Deus... *
Maria João Brito de Sousa - 22.06.2009
IMPORTANTE- Dêem um pulinho
ao http://linhaseletras.blogs.sapo.pt/104633.html !
Nasceu um novo livro escrito por uma poetisa alentejana, a nossa amiga IDALINA PATA!
publicado às 14:41
Maria João Brito de Sousa
MAR NOSSO
*
Esgotei o mar no mar dos meus sonetos
(ou esgotou-me ele a mim, é o mais certo…)
O mar, lá longe… e fica aqui tão perto
O mais secreto mar dentre os secretos...
Esgotou-se o mar em mim… só os desertos
De ondas de areia em estranho desconcerto
Parecem estar em mim que sei, decerto,
As rotas de outros mares e de outros medos.
E, no entanto, é mar e será mar
O sangue que me corre nestas veias
Enquanto o tempo o deixa em mim correr.
E, entretanto, eu calo o meu cantar
E escuto, ao longe, o canto das sereias
Porque foi desse mar que ousei nascer.
*
Maria João Brito de Sousa - Abril, 2009
Navegado para http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/
NOTA - Queiram ter a bondade de descer as "escadinhas", depois de visitarem a Fábrica de Histórias, e ver o Prémio que está à vossa espera no http://premiosemedalhas.blogs.sapo.pt/
publicado às 11:08
Maria João Brito de Sousa
Eu fiz nascer o mar da minha mão!
Nasceu-me destes dedos inquietos
Entre mil versos e outros sonetos
Que vos deixo em partilha e comunhão...
Tanto mar me nasceu, tanta canção,
Me vai brotando em mil grafismos pretos,
Que surgiram mil códigos secretos
Flutuando ao sabor da criação...
O mar na minha mão e eu não sei
Como dela nasceu, quem o pôs lá...
Nasceu da minha mão, posso jurar!
Poder de decisão, nunca lho dei!
O mar que a minha mão aqui vos dá
É o mesmo que a morte há-de levar.
Imagem retirada da internet
Publicado com pré-datação
publicado às 22:00
Maria João Brito de Sousa
Mar dos luares de prata sobre a areia,
Dos búzios e das conchas nacaradas,
Das algas sob os pés, em caminhadas
Que vão da baixa-mar à maré cheia...
Mar de ouro branco e pérolas de luz
Como os grãos das areias que em ti piso...
Uma vez mais me perco no sorriso
Com que a tua brancura me seduz...
Eu perco-me e perdida encontro em ti
A criança que em mim nunca perdi
No percorrer da areia intemporal
E dissolvo-me em ti e sou tão tua
Quanto a brancura dessa branca lua
Como se, em vez de mim, fosse o teu sal...
Maria João Brito de Sousa - 20.11.2008 - 13.54h
Imagem retirada da internet
publicado às 13:54