Maria João Brito de Sousa
110x85cm
PRESÉPIO
*
É por dentro de mim que chego a Deus,
É por dentro de mim, eu sei-o bem,
Que todos os natais vou pelos céus
Visitar o Menino de Belém.
Nunca o disse a ninguém, pois há segredos
Que devemos guardar dentro de nós
E há sempre quem duvide, ou tenha medo,
De uma mulher com asas de albatroz,
Mas da estranha viagem, que só faço
Se a estrela de Belém me der boleia,
Fica o registo, do divino traço:
Nascem raios de luz no meu regaço
E há anjos a cantar a noite inteira
Ao menino que dorme nos meus braços.
*
Maria João Brito de Sousa - 20.01.2008
publicado às 14:57
Maria João Brito de Sousa
A ILHA III
Disseste que estou só e quero crer
Que acreditas que sim… que absurda ideia!
A minha solidão está sempre cheia
De mundos que nem podes conceber!
A solidão só vem quando eu quiser
E há coisas como grãos de fina areia
Habitando este mar que me rodeia,
Nas ondas das palavras que eu escrever
Podes guardar as penas pr`a depois
Porque eu, ilha assumida e povoada,
Não quero as tuas penas nem procuro
A solidão da vida feita a dois
Tantas vezes pior que não ter nada.
É só que nasço e morro, isso to juro!
Maria João Brito de Sousa -02.11.2010 - 10.44h
O FEITIÇO
Por motivos que nem conceberias,
Enfeiticei-te a vida e não choraste…
Poderia jurar que até gostaste
E reparei, mais tarde, que sorrias
Mas, depois da mudança, entenderias.
Pensei-o, fi-lo e tu… nem te zangaste!
Não sei se o laconismo a que chegaste
Te impediu de mostrar quanto sentias,
Ou se sentir, pr`a ti, era uma coisa
Que surge como um pássaro que poisa
E só muito mais tarde afunda as garras
Enfeitiçado, ou não… a vida é tua!
O meu feitiço é brando e nunca actua
Sobre almas que estão presas por amarras
Maria João Brito de Sousa
A PERSISTÊNCIA DO POEMA
É este o meu destino, eu não duvido!
Em tudo o mais que fiz, não me encontrei
E quando faço a conta ao já vivido,
Só nestoutro presente é que me sei…
Poeta, obedecendo ao que é pedido,
Eu abençoo a hora em que me dei...
Mais tarde, num presente “em diferido”,
Hão-se crescer os frutos que plantei…
Viver, morrer… tudo isto é natural.
Tudo isto, acontecendo, me acontece,
Bem como a todos vós que possais ler-me,
Mas se o Poema nasce, esse imortal
Tão incorpóreo quanto a própria prece,
Persiste e há-de, após, sobreviver-me!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 14.32h
SONETILHO COM VISTA PARA OS MARES DA LUA
Hoje a Lua está tão perto
Que quase posso tocá-la!
Dela só quero esse incerto
Dos tais mar`s que vão banhá-la
E julgo ter descoberto
Que é desse mar que ela fala,
E é nessas marés, decerto,
Que eu hei-de, um dia, alcançá-la…
Da janela em que repouso
Olho esses mares que mal ouso,
Quando ouso ao longe, avistá-los
E lá por serem lunares
Não deixarão de ser mares
Nem eu vou deixar de amá-los!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 15.41h
publicado às 09:24
Maria João Brito de Sousa
A ILHA III
Disseste que estou só e quero crer
Que acreditas que sim… que absurda ideia!
A minha solidão está sempre cheia
De mundos que nem podes conceber!
A solidão só vem quando eu quiser
E há coisas como grãos de fina areia
Habitando este “mar” que me rodeia,
Nas ondas das palavras que eu escrever…
Podes guardar as penas pr`a depois
Porque eu, ilha assumida e povoada,
Não quero as tuas penas nem procuro
A solidão da vida feita a dois
Tantas vezes pior que não ter nada...
É só que nasço e morro, isso to juro!
Maria João Brito de Sousa -02.11.2010 - 10.44h
O FEITIÇO
Por motivos que nem conceberias,
Enfeiticei-te a vida e não choraste…
Poderia jurar que até gostaste
E reparei, mais tarde, que sorrias…
Mas, depois da mudança, entenderias…
Pensei-o, fi-lo e tu… nem te zangaste!
Não sei se o laconismo a que chegaste
Te impediu de mostrar quanto sentias,
Ou se sentir, pr`a ti, era uma coisa
Que surge como um pássaro que poisa
E só muito mais tarde afunda as garras…
Enfeitiçado, ou não… a vida é tua!
O meu feitiço é brando e nunca actua
Sobre almas que estão presas por amarras…
Maria João Brito de Sousa
A PERSISTÊNCIA DO POEMA
É este o meu destino, eu não duvido!
Em tudo o mais que fiz, não me encontrei
E quando faço a conta ao já vivido,
Só nestoutro presente é que me sei…
Poeta, obedecendo ao que é pedido,
Eu abençoo a hora em que me dei...
Mais tarde, num presente “em diferido”,
Hão-se crescer os frutos que plantei…
Viver, morrer… tudo isto é natural.
Tudo isto, acontecendo, me acontece,
Bem como a todos vós que possais ler-me,
Mas se o Poema nasce, esse imortal
Tão incorpóreo quanto a própria prece,
Persiste e há-de, após, sobreviver-me!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 14.32h
SONETILHO COM VISTA PARA OS MARES DA LUA
Hoje a Lua está tão perto
Que quase posso tocá-la!
Dela só quero esse incerto
Dos tais mar`s que vão banhá-la
E julgo ter descoberto
Que é desse mar que ela fala,
E é nessas marés, decerto,
Que eu hei-de, um dia, alcançá-la…
Da janela em que repouso
Olho esses mares que mal ouso,
Quando ouso ao longe avistá-los
E lá por serem lunares
Não deixarão de ser mares
Nem eu vou deixar de amá-los!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 15.41h
publicado às 22:41
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
De mim, não esperes “mágicos cansaços”,
pois não me sobra tempo prós sentir,
nem me urge a languidez, nem sonho abraços
e muito menos tento seduzir
Algo que não palavras, gestos, traços...
A quem mos tente impor sem deduzir
que me nascem de dentro e, como laços,
me abraçam, por si só, sem me mentir,
Falarei dos poemas - nunca escassos... -
dos sons, do que me leva a descobrir
as melodias, quanto aos seus compassos,
E de algo que não posso definir
senão voando... E, mesmo de olhos baços,
aguardo e fico atenta ao que surgir.
Maria João Brito de Sousa – 26.07.2015 -22.47h
publicado às 16:22
Maria João Brito de Sousa
O ARROZ MALANDRINHO
Cebola, um grão de sal, folhas de louro,
Bem douradinhos num pouco de azeite…
Deixa a colher de pau de ser enfeite
Pr`a tornar-se, no tacho, o meu tesouro!
Depois trago o arroz, limpo e escolhido,
E vou-o alourando na mistura
(vai começando a ser uma aventura
fazer um arrozinho bem estrugido…)
Deito a água a ferver... alguns minutos,
São quanto irá bastar ao meu petisco!
Depois é só tapar, manter quentinho,
E, assim que doseados, os produtos
- muito embora correndo um certo risco -,
Servir-vos-ei arroz ... bem malandrinho!
Maria João Brito de Sousa - 2009
AS ERVILHAS COM OVOS
Hoje vou preparar umas ervilhas
Guizadas, com dois ovos bem escalfados,
Sem deixar de falar dos mil cuidados
Que aqui dedico a estas maravilhas;
Sobre aquilo a que chamo um estrugidinho,
Deito as ervilhas, logo as vou mexendo
Até que cozam bem, sempre fervendo,
Ao ponto de ficar tudo tenrinho,
Depois os ovos, sem esquecer tempero,
Pr`a que fique o pitéu mais apetente,
E rectifico, quase no final...
O único segredo está no esmero
De trazê-las pr`á mesa e servir quente,
Pedindo a Deus que vos não façam mal.
Maria João Brito de Sousa - 2009
O JOGO DE XADREZ COM O PC
Tem uma Excalibur que nunca falha!
Refaz-se essa inocência quase morta
Que tantas vezes vem bater-lhe à porta
E de si faz Cavalo de batalha…
É nos Peões, porém, que é mais fraquinha;
Nos Bispos e nas Torres, vai teimando,
Mesmo que perca - só não sabe quando - ,
Vê que, às duas por três, foi-se a Rainha...
Falta-lhe o tempo... os dias passam lestos,
Mas tudo aceita sem grandes protestos
E prossegue travando o seu combate,
Porque em tudo o que faz põe teimosia
Consciente de que nada a salvaria
Se alguém lhe arquitectasse um xeque-mate.
Maria João Brito de Sousa - 2009
Aos 25 rápidos jogos de xadrez que o 2008 me ganhou em cinco dias... e aos 380 que lhe ganhei eu, em quatro anos e meio :)
Imagens retiradas do Google
publicado às 23:37
Maria João Brito de Sousa
… e, às duas por três, tão de repente
Que o próprio coração se lhe abalava,
Ouvia-se um trovão e lá brilhava,
No estro do Poeta, o verso ardente…
Assim nascia cada apelo urgente
Que ninguém, senão eu, testemunhava,
De cada vez que o verso ribombava
Anunciando a vinda da semente…
Não houve um só momento, um só segundo,
Em que, calando aquele apelo fundo,
Lhe não surgisse o Verbo! Uma só vez!
Não soube se era, ou não, do nosso mundo
Mas, quando ouvir de novo, eu não confundo
Aquele clamor do; “Às duas por três!”…
Maria João Brito de Sousa – 19.01.2011 – 21.
publicado às 10:45
Maria João Brito de Sousa
Fez-se tarde e não foi por mero acaso
Que o Sol se pôs mais cedo nesse dia;
Talvez fosse outro, o mundo que surgia
Depois desse imprevisto e estranho ocaso,
Ou talvez fosse a Noite, num atraso
Que nenhum desses dois lhe preveria,
Que, não qu`rendo abrir mão do que sentia,
Teimou em não cumprir o justo prazo,
Mas, fosse por que fosse, aconteceu
Que a noite se acendeu num louco céu
Que ninguém poderia ter explicado,
Que o coração mais forte lhes bateu
E quase lhes parou quando irrompeu
A Lua, que entoava um velho fado.
Maria João Brito de Sousa – 19.01.2011 – 20.52h
publicado às 10:48
Maria João Brito de Sousa
TALVEZ SEJA APENAS POESIA
Talvez não haja um mar dentro de mim
E a tempestade venha - se vier… -
De cada vez que um dia chega ao fim
Nesse universo que é cada mulher
Por outro lado, à míngua de um jardim,
Talvez invente um mar pra renascer
E tudo surja assim por ser assim
Que toda e qualquer vida deva ser
Porém, de quanto disse, não retiro
Uma única palavra, um verso só,
E ocorre-me dizer que não sou nada
Senão as mil questões com que me firo
Quando o verso desata cada nó
Que , fio a fio, me enreda na meada.
Maria João Brito de Sousa – 18.01.2011 – 21.03h
publicado às 14:40
Maria João Brito de Sousa
Segue-se este poema que não chora
Mas, desse mesmo sal que tens nas veias,
Faz hino à sensação que se demora
Por dentro do tecido das ideias
Numa emoção telúrica, infractora,
Que nega uma ilusão de panaceias
E que irrompe do fel de cada hora
Com ânsias de quem rompa mil cadeias.
Mas… segue-se um poema! Ou terei feito
Um abrigo qualquer, sem dar por nada?
Talvez, não sendo um ´bunker`, me proteja
E aquilo que se segue, por direito,
Seja a mesma revolta estrangulada
Que se acrescenta até que se oiça e veja.
Maria João Brito de Sousa– 17.01.2011 – 19.53h
publicado às 14:17
Maria João Brito de Sousa
Por dentro de mim corre um longo rio
De seiva, ao por do sol de um campo arado
E a ceifeira, que ceifa ao desafio,
Esquecida de o ceifar, passou-lhe ao lado.
Talvez volte amanhã, se fizer frio,
Ou se o vento, ao soprar, tiver lembrado
O leito das razões que nele desfio
Na seiva em que o descrevo humanizado
Entretanto, outras foices de ceifeiras
Passaram já por ele de outras maneiras
Mas nunca desaguaram nessa foz
Que, a jusante de mim, beija as ribeiras
Quando elas se lhe oferecem, sempre inteiras
E recomeça o mar dentro de nós.
Maria João Brito de Sousa – 14.01.2011 – 22.00h
publicado às 10:18
Maria João Brito de Sousa
... e, de então em diante, o Universo,
Como se por magia se calasse,
Roubar-me-ia todo e qualquer verso
Que pela vida fora eu encontrasse
Deixando-me, na troca, o seu inverso,
Negando-se, fugindo ao novo enlace...
O resto todos sabem... se é perverso
Melhor fora um poema que o negasse...
Do rebanho que guardo ou como o faço,
A ninguém devo contas ou promessas,
Senão a quem me fez tal como sou!
De tudo o que nasceu deste cansaço
Nas horas a que já nem deito meças,
E ao que está por nascer... Deus mo legou!
Maria João Brito de Sousa
publicado às 11:42
Maria João Brito de Sousa
Não sei mais o que faço, nem se o faço
Porque o quero fazer, ou porque o devo,
Só sei que é forte e dúctil como o aço
A força que me nasce como o trevo.
Ao que dela surgir, junto o meu traço,
Mas de ingénua que sou, porquanto o escrevo,
Revelo-me na rota desse abraço
Mesmo quando a assumi-lo não me atrevo.
Não há tédio - não há! - que me resista,
Nem há indecisão que não desista
Quando me toma, inteira, a criação
E, melhor ou pior, preencho a lista
Daquilo que me prende, me conquista
E engendra esta imparável propulsão.
Maria joão Brito de Sousa - 12.01.2011 - 14.19h
Imagem retirada da internet
publicado às 16:34