Maria João Brito de Sousa
Sem dúvida! Ela é sempre imprevisível,
Caminhando ao sabor do que há-de vir
E, a cada dia, menos concebível,
Nunca dando a saber se irá surgir…
Sem dúvida nenhuma! É impossível
Encontrar quem te possa garantir
Que é Arte o que tu fazes mas… terrível,
Seria sufocá-la … e não sentir!
Talvez morresses mesmo… ou não morresses!
Sem dúvida, seria insuportável
Renunciar a tudo aquilo que és
Se, imprevisivelmente, renascesses,
E tudo te parecesse intolerável
Excepto esse dom de ser como as marés…
Maria João Brito de Sousa – 18.08.2010 – 19.19h
NOTA - Peço desculpa pelo erro na frase que serve de título e legenda à imagem desta minha tela. Deverá ler-se LA FEMME QUI PEINT L`ENFANT ETERNEL
publicado às 10:22
Maria João Brito de Sousa
Quem foi que ousou tramar o tal sujeito
Poético e patético, o tal que actua
E que jamais se rende ou compactua
Com actos que o não tornem mais perfeito?
Quem foi que ousou roubar-lhe esse direito
De ser etéreo e branco como a lua,
De ter raiz e caule em cada rua
Onde se desconstrua o que foi feito?
Quem foi que o despojou da glória eterna,
Quem foi que o dissecou de corpo e alma
Até chegar ao âmago de si?
Procuro - e ergo bem alto esta lanterna -
Com toda a lucidez, com toda a calma
Essoutro usurpador que eu nunca vi…
Imagem retirada da internet
publicado às 11:56
Maria João Brito de Sousa
Julgava-se imortal. Mesmo imortal.
Isento das noções de “mal” ou “bem”,
Dependente de nada e de ninguém,
Um ser dif`rente, muito embora igual.
Jamais aceitou ser um animal.
Julgou ser mais e ninguém soube quem
O ensinou a “ser” ou se houve alguém
Que decretou, enfim, o seu final…
Morreu há muito tempo. Agora jaz
Num qualquer cemitério, transmutado
No húmus do que em si nunca aceitou.
Pobre imortal que assim alcança a paz
Na negação do próprio enunciado
Com o qual definiu o que o negou…
Imagem retirada da internet
publicado às 16:29
Maria João Brito de Sousa
Quantos tempos nenhuns terão passado?
E os séculos dos séculos nascidos?
Instantes de universos revestidos
De luas e de sóis tão lado a lado…
Dos tempos, nenhum tempo mensurado
Revelaria ausências dos sentidos,
De prenúncios de vida se, perdidos,
Outros tempos tivessem regressado.
Do querer saber nos nascem novos tempos
Que aos tempos do passado irão buscar
O fio que os traz de lá, desde o começo.
Todo este somatório de momentos
Traduz a nossa vida. O que sobrar
É apenas um preço. O nosso preço.
Imagem de Sheila Nogueira, retirada da internet.
publicado às 16:15
Maria João Brito de Sousa
Aquele aspecto estranho e desconforme,
Aquele face magra e enrugada,
Aquele rictus de quem está cansada
Da vida que parece sempre enorme…
Aquelas mãos de dedos calejados,
Retorcidos do muito que fizeram,
Os olhos afundados que lhe deram
Os dias e as noites descuidados.
Aquele estar ali e nunca estar
Aonde o corpo fica a descansar,
Porque a mente descansa noutro espaço,
Aquela imprecisão de só sonhar,
Aquela estranha forma de falar
Compondo a própria voz do seu cansaço.
Imagem retirada da internet
publicado às 16:13
Maria João Brito de Sousa
A dois palmos de mim, o Infinito
Aonde o horizonte se desdobra!
É lá que surge o sonho e nasce a obra…
Além, nessa montanha de granito
Aonde vive aquilo em que acredito,
Onde a minha coragem se redobra
E a mais louca verdade não soçobra
Porque se prende àquilo que foi dito...
Se essoutro desalento `inda persiste
Porque o real impõe velhas fronteiras
Ao mundo que me quer aprisionar,
A dois palmos de mim já não existe
Esta prisão de abismos e barreiras
Nem muros que me possam limitar…
Painel de Maria Helena Vieira da Silva
publicado às 02:04
Maria João Brito de Sousa
Ou o braço se quebra ou eu rebento!
E, se acaso rebento, o que farei
Às palavras que nunca vos direi
Daqui, desta cadeira em que me sento?
Que farei de mim mesma? Se há talento,
Se o verso surge então, que vos darei?
Ou o braço se quebra ou eu nem sei
Se me resta tentar ou se nem tento...
Estou num braço de ferro e sem certezas
De ter ou não razões para lutar,
De ser justificado o meu cansaço...
Não meço, nunca, forças ou grandezas!
Ou o braço se quebra ou vou ficar
Pr´a sempre a depender deste meu braço...
Imagem retirada da internet
publicado às 02:01
Maria João Brito de Sousa
Paguei o preço desta solidão
Com sangue - do real... - e muito choro
E esta velha casa, aonde moro,
É a ponte que ergui sobre a paixão.
Já velha, tem do tempo uma erosão,
Tão cheia do amor com que a decoro,
A casa onde escrevendo me demoro
Nas horas de viver nesta ilusão.
Onde começo eu e onde finda
Esta casa já gasta mas tão linda
Que ergui num espaço-tempo sem fronteiras?
Parece que respira, que tem vida,
Esta pequena ponte construída
Entre afectos, poemas, brincadeiras...
Imagem retirada da internet
publicado às 01:31