Maria João Brito de Sousa
Sei lá se posso, ou não, continuar,
Se devo ou nem sequer devo escrever,
Se vale, ou não, a pena `inda teimar
Quando a vontade teima em não nascer...
Não sei! Nem sei se posso acreditar
Que amanhã ou depois me vá esquecer
E que a vontade volte a conquistar
Um dom que lhe parece não caber...
Perdi-me e não me encontro sem escrever-me
Mas escrever-me não sei sem me encontrar,
Por isso nada sei! Não me perguntem
Que estranha coisa está a acontecer-me,
Porquê este soneto a gaguejar
Nas palavras que ainda repercutem...
Maria João Brito de Sousa - agora, só porque seria perigoso para a minha permanência física não me nascer, sequer, um péssimo soneto.
publicado às 16:12
Maria João Brito de Sousa
Não me venhas dizer que é este o preço
Que tenho de pagar mais uma vez!
Não me venhas falar do que não vês
Pois posso valer mais que o que pareço…
Nada tenho pr`a dar-te e nada peço.
Só quero a minha paz porque talvez
Eu tenha um bem maior que os teus porquês
Na estranha lucidez em que me meço.
Não venhas de mansinho e disfarçado
Com as falinhas mansas do costume;
Não finjas ser um nobre protector,
Porque é possível que já tenhas dado
Mais que o suficiente desse estrume
Com que tentas cobrir tudo em redor.
Maria João Brito de Sousa – 20.09.2010 – 22.02h
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
publicado às 15:01
Maria João Brito de Sousa
CONVERSAS DE MÃE PARA FILHO II
Vens magoado e esculpido pela sorte
Que em nada bafejou a tua vida,
Revoltado, sem pouso e já sem norte,
Sondar a felicidade prometida…
E não, não era este o teu transporte.
Esta aproximação mal conduzida,
Vai deixando, em nós dois, o travo forte
Da situação que está comprometida.
De nada me serviu tanto poema,
Tanta verdade e tanta confissão;
Ninguém entendeu nada do que eu disse!
Também ninguém entende que o problema
Só se exacerba na contradição
De quem, querendo ajudar , faz mais tolice…
Maria João Brito de Sousa
“Il ne faut pas s`affliger de n`être pas connu des hommes, mais s`affliger de ne pas connaître les hommes."
Confucius, Entret. 1.16
SOPRA O VENTO
Vai o vento soprando em derredor
Deste corpo despido de ideais
E enquanto o vento sopra, mais e mais,
Vão-me esses ideais ganhando cor.
Se enquanto o vento sopra, faz calor
Os corpos que se despem são normais
Pois surgem-lhes ideias geniais
E aprendem a despir também a dor
Mas, quando o frio aperta e já gelado
O meu corpo me pede mais cuidado
Não vá gelar também o que o anima
Peço ao vento que o deixe sossegado,
Ficam os ideais postos de lado
E é ao vento que entrego a minha sina…
Maria João Brito de Sousa – 16.09.2010 – 18.28h
publicado às 15:43
Maria João Brito de Sousa
Vês-me como me viste em tempos idos;
Ingénua, incauta e até perturbadora,
Rastejando nos trilhos mais escondidos…
Vês tudo o que em mim viste e vês-me agora.
Vês-me chorando os mais desprotegidos,
Amando as plantas, tal como era outrora,
Subindo enquanto desço o já subido,
Descendo se só penso em ir-me embora
E, se assim tu me vês, assim serei!
A teus olhos me moldo e pouco importa
Que eu te fale das coisas como as sinto,
Que desvende o que nunca te mostrei,
Te aponte o esconderijo ou te abra a porta,
Pois nunca aceitarás que te não minto…
Maria João Brito de Sousa
publicado às 14:05
Maria João Brito de Sousa
Tu estavas em silêncio, os olhos postos
Na imensidão do mar dentro de ti
E, por fora de ti, estavam mil rostos
Curiosos de te verem por ali.
Teus olhos nada viam; nem desgostos,
Nem medos ou razões. Dentro de si,
Os outros, os que te iam sendo impostos,
Tremiam, tal e qual como eu tremi.
Tu estavas em silêncio, mas não estavas
Ali, onde o rugir das ondas bravas
Assustava os demais que as contemplavam
E nesse teu silêncio me bastavas,
Sem que desses por mim me conquistavas
E era assim que os teus dias se passavam…
Maria João Brito de Sousa – 07.09.2010 – 11.41h
publicado às 16:42
Maria João Brito de Sousa
BEM TE VI
Bem te vi, velho cuco que passavas
Na mira de ocupar alheio ninho
E, repleto de pão, farto de vinho,
Nem por um só segundo vacilavas.
Bem te vi quando tanto procuravas
Voando sobre a mata e, de mansinho,
Mergulhavas a fundo, tão baixinho
Que quase – temi eu… – te despenhavas.
Bem te vi, mas não disse ter-te visto
Na tua insana busca. A natureza,
Deste mesmo planeta em que eu existo
Te criou alheado das razões
Que me vão tendo, a mim, nesta pobreza…
(E não. Nenhum de nós teve ilusões.)
Maria João Brito de Sousa – 04.09.2010 – 11.29h
O LOUCO, O ENIGMA E A ESPERA
… e ria-se das coisas que não tinha
Esquecido, já, das tantas que tivera
Se, em noites de luar, descia à vinha
Ébrio do louco amor que tinha em Hera
E, a seguir, nos vinhedos, se entretinha,
Tão nu como se a própria Primavera
Da nudez lhe engendrasse uma adivinha
Que decifrasse a dor de cada espera…
Se chovia, explodia num desnorte!
Escorria-lhe esse estigma encosta abaixo,
Turbava-se-lhe a fronte em desespero
E, louco, maldizendo a sua sorte,
Sumia-se entre as pedras, cabisbaixo,
Ansiando exactamente o que eu nem espero.
Maria João Brito de Sousa - 13.09.2010
Maria João Brito de Sousa – 05.09.2010 – 11.50h
NOTA – Soneto reformulado a 22.08.2015
HOJE
Hoje não será dia de poema
E, caso os anjos falem, só dirão
Que eu, hoje, ostentarei o velho emblema
Da minha apetecida solidão.
Hoje é um dia mudo e não há tema,
Nem motivo, nem verbo ou convicção,
Não há uma alegria, um só problema
Que possam merecer-me uma atenção.
Hoje este meu soneto não tem voz…
É estático, insondável e proscrito
E não aspira a mais do que ao mutismo.
Ato as amarras d`alma com mil nós,
Desminto absurdamente o que foi escrito,
Cerro os dentes, engulo o meu lirismo!
Maria João Brito de Sousa – 07.09.2010 – 10.08h
publicado às 11:29
Maria João Brito de Sousa
Sou subtil, metafórico e, contudo,
Tenho, às vezes, certo mau feitio;
Só quero aquilo com que mais me iludo,
Depois, chego a pensar que é doentio…
Se oiço um grito bem alto e muito agudo
Sinto, no corpo inteiro, um arrepio
E, a correr, vou logo ver se acudo
Mas, em vez de ajudar, tremo de frio…
Sou compulsivo! Nunca sei se o faço
Porque devo fazê-lo ou se, ao contrário,
É um puro exercício de egoísmo
Que guia o lato impulso do meu braço…
[será que este feitio, tão temerário,
pode ter qualquer coisa de altruísmo?]
Maria João Brito de Sousa – 02.09.2010 – 22.09h
PS - O Sapo fez anos, esqueci-me de lhe dar os parabéns - não foi só a ele... - e é muito provável que, hoje, não tenha tempo para o fazer... ficam aqui os meus PARABÉNS AO SAPO.
Desculpa, jovem batráquio... gosto muito de ti, mas no que toca a datas...
publicado às 17:34
Maria João Brito de Sousa
Amo as rosas, que planto, e o seu espinho
Que, insurrecto, as consola e as defende;
Da rosa, creio sempre no carinho,
Do espinho, quanto dele se subentende.
Amo, também, a flor do rosmaninho
E a chã erva-moirinha que se estende,
Insubmissa, rompendo o seu caminho,
Pois quanto menos vista, mais me prende…
Creio em mil coisas em que ninguém crê
E desdenho outras mil que todos querem!
Mas porque é que será que eu amo assim
Mil coisas que, afinal, mais ninguém vê?
[e não abdico, mesmo quando ferem,
das mais humildes ervas de um jardim…]
Maria João Brito de Sousa – 01.09.2010 – 21.28h
Imagem retirada da internet
publicado às 16:08
Maria João Brito de Sousa
Que louco admitiria ser profeta
Nos dias deste tempo em que vivemos?
Dantes a ignorância mais completa
Dava-lhe segurança, pelo menos…
Hoje é de melhor tom não ser asceta,
Falar do que comemos e bebemos,
Gracejar, dizer uma ou outra “peta”
E ir aspirando a dias mais amenos…
Mais dia, menos dia, a bomba explode!
Um descai-se e, sem querer, revela, enfim,
Vocações inconfessas, silenciosas…
Depois… vamos a ver se alguém lhe acode…
[Deus queira me não calhe o feito a mim
que, às vezes, profetizo sobre as rosas!]
Maria João Brito de Sousa – 04.09.2010 – 14.00h
publicado às 16:20
Maria João Brito de Sousa
Mostra-me as tuas mãos… há mãos que falam!
Há mãos que contam histórias, epopeias!
Outras que dizem mais quando se calam
Como pedras rasgadas por mil veias…
Há mãos que criam coisas que se instalam
Por dentro das pessoas, como ideias,
E outras que nos tocam, nos embalam,
Ou que acenam do mar, como as sereias…
Há tantas, tantas mãos! Todas diferentes,
Todas capazes de se completarem
Nesta infinda tarefa de viver
E todas essas mãos pedem, urgentes,
A outras tantas mãos, para as salvarem
Do que mal que algumas mãos estão a fazer…
Maria João Brito de Sousa – 07.09.2010 – 12.12h
NOTA - Desculpem-me esta "rentrée" tão em cima da hora do fecho do Centro. Na continuidade dos trabalhos de reparação do telhado, surgiram novas complicações que não estavam previstas. Temo bem que haja obras no telhado durante mais uma semana... ou mais :(
publicado às 17:03