Maria João Brito de Sousa
Eu quero-me da cor destas palmeiras!
Quero este tronco esguio, estas raízes,
Quero-me assim feliz entre os felizes
Vivendo as minhas horas derradeiras!
Eu quero-me primeira entre as primeiras
E, tal como tu pensas, mas não dizes,
Quero-me decomposta em mil matizes
Sendo igual ao que sou, de mil maneiras!
Assumo esta total imperfeição
De quanta perfeição em mim houver,
Sem ter falsas modéstias ou segredos!
Eu quero-me uma só, mas dividida
Por cada átomo alheio à minha vida,
Sem loucas ambições, sem dor, sem medos!
Fotografia (via mms) tirada, agora mesmo, da janela da minha sala-atelier. O cãozito lá embaixo é a minha amiga Lupa.
publicado às 13:31
Maria João Brito de Sousa
I
... e que me importa a mim perder-me em vida
Se à morte irei legar meu estranho encanto?
Já nada mais me importa e, no entanto,
Vou adiando a hora da partida...
... e que me importa a mim morrer agora
Se, depois, tanto fez muito viver?
Pouco ou nada me importa! Eu quero é SER
Enquanto não chegar a minha hora...
Patéticos, alguns, `inda acreditam
Que tempo é quantidade e não hesitam
Em procurar na carne o imortal...
Não sabem que de nós só fica o traço
Porque o mundo é pequeno e não tem espaço
Para, de nós, guardar quanto é real...
II
Ó mundo, o que te impede de chorar?
Que estranha submissão te cala o pranto
E te condena, assim, ao desencanto
Desse grito que tentas silenciar?
Ó mundo, se amanhã eu acordar
E não estiver quebrado o mudo encanto,
Hei-de gritar por ti! Gritarei tanto
Que medo algum me há-de fazer calar!
Ó meu pequeno mundo maltratado
No silêncio a que foste condenado
Por alguma razão que desconheço!
Ó meu pequeno mundo estrangulado,
O teu imenso grito sufocado
É tudo quanto, à vida, agora peço...
Imagem retirada da Internet
publicado às 11:30
Maria João Brito de Sousa
Por um Giga se enfrenta uma batalha,
Cresce o engenho em nós, se trava a luta...
Por um Giga se acorda e se labuta,
Se alcançam impossíveis, se não falha!
.
Por um Giga se ascende à dimensão
Da Eva/Adão em nós, colhendo o fruto
Que não será pecado e sim produto
Da nossa mais legítima ambição...
.
Por um Giga se aguçam competências,
Se reacende a chama, segue em frente,
Se chega ainda além do concebível,
Se transcendem humanas competências,
Se ultrapassa o que em nós é aparente,
Se alcança o que parece inacessível...
Maria João Brito de Sousa - 09.05.2008 - 12.17h
"MÃE" - Pintura a pastel seco sobre Cavalinho,
Maria João Brito de Sousa, 1962
publicado às 12:17
Maria João Brito de Sousa
Há uma flor na Lua, à meia-noite...
(bem sei que é mero sonho, uma ilusão,
mas será flor, tal como as outras são,
onde esse imaginário assim se afoite...)
Há uma flor na Lua! É Lua-cheia,
Um sonho `inda em botão desabrochou
E quanta luz na Terra derramou
A flor que floresceu da própria ideia...
Se solto, o sonho em nós é criador;
Engendra o que quiser (e quer bem mais!),
Semeia, colhe e explode ao sobressalto
De um dom primordial rasgado em cor...
Por quanto sonho em vós `inda guardais;
Soltai-o pr`a que suba inda mais alto!
Maria João Brito de Sousa - 02.05.2008 - 13.28h
"Mulher em Molho de Luar", 68x56cm, Pastel de Óleo sobre Canson
(entre-vidros), Maria João Brito de Sousa, 1999
.
Soneto dedicado ao meu amigo V.A.D., pois nasceu, agora mesmo, de um diálogo online, e a Albert Einstein porque muito provavelmente o subscreveria se estivesse vivo.
publicado às 13:28