Maria João Brito de Sousa
QUANDO A LUA TARDAVA DE LUAR
Bebi o néctar fresco desse olhar
Numa tarde ofuscada plo sol pôr
Quando a lua tardava de luar
E as sombras se alongavam sem pudor
E, esqueci-me das horas nesse mar
Nas ondas encrespadas pelo amor
Que vão adormecendo devagar
Num arrasto espumoso de candor
Havia no céu lápis de carvão
Que peenchiam nuvens em fusão
Na noite que beijou restos da lua
Lentamente caíram gotas frias
Que afagaram meu corpo em cortesias
Cobrindo minha pele ainda nua
MEA
23/11/2016
OUSADIAS DE UMA POETA SINESTETA
"Bebi o néctar fesco desse olhar",
Provei o pão das bocas mais famintas,
Mas fui matando a fome num manjar
Composto por pincéis, telas e tintas
"E esqueci-me das horas nesse mar"
Que também será meu, caso o consintas,
Pois que, sem to pedir, te ouso glosar
Com letras de impressão, negras, retintas...
"Havia no céu lápis de carvão"
E eu, que os tinha mesmo ali, à mão,
Usei-os pr`a esboçar-te algumas glosas;
"Lentamente caíam gotas frias"
Sobre estas letras que outras ousadias
Coloriam de azuis, brancos e rosas...
Maria João Brito de Sousa - 23.11.2016 -17.53h
publicado às 12:00
Maria João Brito de Sousa
FUI BARCO AMARRADO NO CAIS
O dia despertou pardo e cinzento E, caindo em cascata dos beirais Inundando o recinto de cimento Desabam grossos rios verticais
Trouxe por companheiro tanto vento! E eu, fui barco amarrado no meu cais. Presa, só passeei em pensamento Ao visitar caminhos e locais
Percorri-os, supondo aquela calma Sabendo não haver neles vivalma Que me fala infeliz ou ansiosa
Sem que do sol tivesse algum aviso Nem sequer pequeníssimo sorriso A noite anunciou-se nebulosa
MEA 21/11/2016,
ESTE ÚLTIMO CIGARRO
"O dia despertou pardo e cinzento"; Cenário de um grotesco furacão Que uivasse o seu fantástico lamento A tão (in)desculpável solidão.
"Trouxe por companheiro tanto vento!" Vergou troncos, mudou a direcção Da louca dança e, sendo um trapalhão, Ufanou-se de ter graça e talento...
"Percorri-os, supondo aquela calma", Aos mais fundos abismos da minh`alma E por lá estacionei meu velho carro.
"Sem que do Sol tivesse algum aviso", Triste me quedo - não perdendo o siso... -, Assim que acabe este último cigarro.
Maria João Brito de Sousa - 21.11.2016 - 18.49h
Rabisco/pincelado de minha autoria - 1999
publicado às 14:58
Maria João Brito de Sousa
SONHO ADIADO
Sonhei quando dormia um sonho lindo Sonhei que havia paz, findara a guerra Que todas as crianças estavam sorrindo Sonhei não haver fome aqui na terra
Sonhei que todos estavam construindo Tudo que de melhor a vida encerra Que os idosos viviam lá sorrindo Que havia protecção até pra serra
Que os rios tinham água sem sujeira Que não havia ao povo roubalheira Que pra todos havia um ordenado
Que todos tinham casa, tinham pão Sonhei que não havia exploração Porém, somente foi sonho adiado
MEA 18/11/2016
(R)EVOLUÇÃO
"Sonhei quando dormia um sonho lindo"
Que podia tornar-se bem real
Se acordassem os muitos que, dormindo,
Não têm, nem sonhando, um sonho igual;
"Sonhei que todos estavam construindo"
As bases de uma paz universal
E que o novo edifício ia subindo,
Crescendo sem parar, na vertical,
"Que os rios tinham água sem sujeira",
Que os céus sorriam, livres da poeira
Das cinzas de uma Terra incendiada,
"Que todos tinham casa e tinham pão"
E se cumpria, na (r)evolução,
Em pleno, a humana espécie, humanizada!
Maria João Brito de Sousa - 18.11.2016 - 18.19h
(Imagem retirada do Google)
publicado às 13:01
Maria João Brito de Sousa
QUERO COLHER O DIA
Quero colher o dia que nasceu Como quem colhe frutos. Com afecto E degustar os gomos que me deu Ao sorver seu perfume mais secreto
Saciar esta fome, no apogeu De sabores e cores, tão concreto Que ele nesse festim me concedeu Em ambiente ameno e tão completo
Inspirarei com gozo seus perfumes Os olhos bem fechados, sem queixumes Espargindo pelo ar minha ternura
Quero beber seu sumo envolto em sol No canto musical dum rouxinol! Enfim…quero colhê-lo sem bravura!
MEA 16/11/2016
VIAGEM
"Quero colher o dia que nasceu",
Lançá-lo no convés da minha barca,
Levá-lo além do mar, torná-lo meu,
Deixar-lhe, em hora incerta, a minha marca...
"Saciar esta fome no Apogeu"
Do ponto que a visão precisa abarca,
Rendê-lo e, por momentos, dar-lhe o céu
Onde, em tempos, reinava a velha Parca...
"Inspirarei com gozo seus perfumes",
Mostrar-lhe-ei corais, conchas, cardumes
De coloridos peixes tropicais;
"Quero beber seu sumo envolto em sol",
Tornar-me o próprio engodo deste anzol
Que usei para poder prendê-lo mais!
Maria João Brito de Sousa 1.11.2016 - 21.55h
publicado às 08:29
Maria João Brito de Sousa
O VERBO AMAR DOS OLHARES
Nos olhares que sabem nos sorrir
Há vontade de querer, de ser feliz
E sem palavras sabem traduzir
Algo que nos colora de matiz
Nos olhares que sabem seduzir
Que sabem apagar a cicatriz
E despertar em nós outro sentir
Há a luz e a magia que se quis
Nos olhares que sabem convencer
Que o futuro é também um aprender
Duma forma diversa e diferente
Esses olhares sabem cativar
Neles há sedução do verbo amar
Conjugado pra sempre no presente
MEA
19/10/2016
DE OLHOS NOS OLHOS
"Nos olhares que sabem nos sorrir"
E nos enlaçam nesse seu sorriso,
Há canteiros de versos a florir
De quanto, sendo grato, for preciso...
"Nos olhares que sabem seduzir",
Nasce a amizade e morre o (pre)juízo
Do que apenas seduz pr`a reduzir
Cada ousadia, ao gesto mais conciso...
"Nos olhares que sabem convencer",
Luz algo que consegue converter
A própria dissidência, ao dissidente;
"Esses olhares sabem cativar"
A franca timidez de um outro olhar,
Quando o olham de perto e bem de frente...
Maria João Brito de Sousa -12.11.2016 - 11.17h
publicado às 11:06
Maria João Brito de Sousa
PORTAIS DE FLORES
Anda plo ar cheirinho a sardinheira Quando o sol à tardinha invade a rua Misturado no aroma da roseira Que decora a parede ainda nua
Bem junto a cada porta, a rua inteira É florido jardim, que apazigua Gentes que dela fazem ma"bandeira" Com esmero e alegria muito sua
Em cada portal há cor e beleza Há um modesto encanto e singeleza Que dão a esta rua ar pitoresco
Quando à noitinha se abrem as janelas Há perfume que sobe e entra nelas Suave delicado e muito fresco
MEA 3/11/2016
MEMÓRIAS DO ESTALEIRO
"Anda plo ar cheirinho a sardinheira"
Quando recordo a casa onde cresci,
Na qual me fiz amante e companheira
De um mar infindo aonde me perdi...
"Bem junto a cada porta a rua inteira",
Semelhava uma frota - assim a vi...-,
Que erguia ao vento Oeste uma bandeira
Que eu própria lhe inventei, pois que a teci.
"Em cada portal há cor e beleza"
E um pouco da romântica rudeza
Que um marinheiro traz no coração;
"Quando à noitinha se abrem as janelas"
Subo ao convés da nau, ergo-lhe as velas,
Tomo o seu leme nestas minhas mãos...
Maria João Brito de Sousa - 05.11.2016 -12.06h
publicado às 12:12
Maria João Brito de Sousa
ENTARDECER
Despeço-me do sol que se anoitece Quando lá muito ao longe desce fogo E perfilo-me firme como em prece Analisando as regras do seu jogo
Na calma da penumbra calo e afogo Os suspiros e ais que a vida tece Para deixar que a noite no seu rogo Se enlace no meu corpo que arrefece
Do fogo do horizonte inspirei luz Que na noite me aquece e me conduz Por imagens e sonhos em bailados
Deixo-me adormecer em tal quimera Do fogo que já foi nasce uma esfera De intensa e branca luz com rendilhados
MEA 14/10/2016
"CHIAROSCURO"
"Despeço-me do sol que se anoitece"
Sempre em serenidade, como um rogo,
Vendo como se esconde e desvanece
Na linha de horizonte, aceso em fogo...
"Na calma da penumbra calo e afogo"
Esse eco que, de dia, me abastece...
Faz-se silêncio, enfim, que ao fim do jogo
Tão só se espera que outro recomece...
"Do fogo do horizonte inspirei luz"
E, para o compensar, dela repus
Quanto de luminoso havia em mim...
"Deixo-me adormecer em tal quimera",
Iluminando ainda e sempre à espera
Que o grande, imenso jogo, alcance um fim...
Maria João Brito de Sousa -26.10.2016 - 13.57h
Nota - Ambos os sonetos estão escritos em decassílabo heróico.
publicado às 18:35
Maria João Brito de Sousa
DE VENTO.....A BRISA
Fui vento, nesse dia do passado
E para te alcançar soprei um beijo
Em aroma de lima. Perfumado
Com a verde esperança do desejo
E esse vento que fui , te fez legado
E em sopros fez de ti, águas do Tejo
Que correram pra mim , por todo o lado
Dos meus campos de amor, fizeram brejo
Fui vento de frescura no Verão
No teu mar bebi, águas de paixão
E amanheci submersa de certezas
No Outono que já sou, sou subtil brisa
Que entardece serena, sem divisa
Em douradas espigas de incertezas
Maria da Encarnaçao Alexandre
13/09/2016
NEM SEMPRE BRISA, NEM SEMPRE TEMPORAL...
"Fui vento, nesse dia do passado"
Em que esqueci pretérito e futuros,
Ficando, o fruto em mim, condicionado
Ao espaço conquistado entre os teus muros
"E esse vento que fui, te fez legado"
De um beijo que recordo entre os mais puros
De quanto beijo tenha sido dado
Entre dois jovens frágeis, inseguros...
"Fui vento de frescura no Verão",
Mas... fazendo cedência à tentação,
Transmutei-me, exaltada, em ventania...
"No Outono que já sou, sou subtil brisa"
Que a si mesma se doma e se ajuíza
Segundo as leis da Vida e da Harmonia..
Maria João Brito de Sousa - 15.09.2016 - 15.09h
publicado às 10:59
Maria João Brito de Sousa
Inspiração
"Um dia de chuva é tao belo como um dia de sol. Ambos existem, cada um é como é. "
Fernando Pessoa
BELEZA QUE VEM DA CHUVA
Veio a chuva, espiar a noite escura
Com a luz cintilante das estrelas
Compôs uma ritmada partitura
Junto aos vidros fechados das janelas
Na manhã, desenhada de aguarelas
Surge um raio de sol que se mistura
No solfejo das notas, e faz velas,
Arqueadas, às cores, com brandura
Há no cheiro da terra já molhada
Sons, que nela tombaram, em balada
Quando a chuva , a cantou em serenata
Há restos, espalhados plas colinas
Das gotas, que se julgam bailarinas
Refulgindo no sol, os tons da prata
Maria da Encarnaçao Alexandre
13/09/2016
Primeiro Chamamento -
"Veio a chuva, espiar a noite escura"
Compondo no telhado da marquise
Tão suave sinfonia que eu, sem cura,
A escando nota a nota e sem deslize..."
MJBS
SEGUNDO CHAMAMENTO
"Veio a chuva, espiar a noite escura",
Porque há na escuridão coisas tão belas
E notas musicais de tal candura
Que alguns não sonharão nem percebê-las...
"Na manhã desenhada de aguarelas"
Que a noite prometera mais que pura,
Vislumbro o Sol pintando um céu sem estrelas
E toda a tela astral expõe tal pintura...
"Há no cheiro da terra já molhada"
Saudades dessa chuva delicada
Que toca as sinfonias que me embalam,
"Há restos, espalhados plas colinas",
Assomando-me aos olhos e narinas,
Somando-se ao odor que elas exalam...
Maria João Brito de Sousa - 15.09.2016 - 19.44h
publicado às 08:42