Maria João Brito de Sousa
Quem mente aqui? Porquê a acusação?
Valha-te Deus, não sabes o que dizes!
Estou pobre mas feliz entre os felizes
E sabes muito bem que: - Mentir, não!
Porque hei-de demonstrar falsa ambição?
No palco, entre os actores e as actrizes,
Sou árvore a prender suas raízes
No final desta última sessão.
Fico, contudo, em paz. Desabafei!
De tudo o que já disse - e não retiro! -
Confesso ter, decerto, exagerado...
Privada de aceder, logo pequei...
Escrevi umas palavras como um tiro,
Deixei o palco todo alvoroçado...
Maria João Brito de Sousa - 30.06.2009
Imagem retirada da internet - vulcão em erupção
publicado às 11:53
Maria João Brito de Sousa
Tudo tem uma cor e tudo é cor!
Palavras, letras... números também!
Cada um é a cor da cor que tem
E dispersa-se em ondas de calor.
Nem sempre o negro é mau, nem sempre é dor!
Do negro que tracei nasceu, além,
Uma pérola branca a que ninguém
Pode dizer que não terá valor...
O "um" sempre foi negro, o "dois" cinzento,
O "três" é amarelo, ao "quatro" tento
Descrever-lhe esse azul mal definido...
O "cinco" é bem vermelho, o "seis" é rosa...
São a minha paleta, o verso, a prosa...
E todo este "ab initio" faz sentido...
Maria João Brito de Sousa, 2002
publicado às 16:01
Maria João Brito de Sousa
Há um deslumbramento descontente
Que me define toda e se traduz
No desenho de mim, em contra-luz,
Na dimensão laranja de um poente.
E tudo o que aqui faço é muito urgente
Porque o deslumbramento me seduz:
Carrego, alegremente, a minha cruz
Aos ombros de um poema que a não sente...
Às vezes este sol que me ilumina
Pressente outros anseios mais carnais
E cria-me um conforto, um aconchego...
Novo deslumbramento me domina
E, de tão deslumbrada, eu fico mais
Perdida no poema a que me entrego...
Imagem retirada da internet - tela de Salvador Dali
publicado às 13:46