A CEIA DO POETA
(Soneto em decassílabo heróico)
O verso ardendo ao lume, a mesa posta,
a toalha das rimas bem estendida
e um prato de silêncios, sem lagosta,
aguardando, expectante, essa comida
Que o nutre, que o sustenta, de que gosta
e que está quase pronta a ser servida
pela mão do poeta, numa aposta
em resistir, fintando as leis da vida...
Apaga o lume e serve-se à vontade
de imagens, de palavras, de conceitos
expurgados da excessiva quantidade
Dos "ais", dos gongorismos, dos trejeitos
em que, alguns, julgam estar a qualidade,
e a qualidade sempre achou defeitos...
Maria João Brito de Sousa - 08.09.2015 - 16.47h
Imagem - "A Refeição Frugal" - Pablo Picasso (água forte)