Maria João Brito de Sousa
Patrono: Florbela Espanca
Académica: Maria João Brito de Sousa
Cadeira: 06
Evento:
"O MEU PATRONO VISTO POR MIM"
A FLOR DO SONHO
*
A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.
*
Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim!...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...
*
Ó flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos,
Se eles são tristes pelo amor de de ti?!...
*
Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minha`alma
E nunca, nunca mais eu me entendi...
*
Florbela Espanca
In "Livro de Mágoas"
_____*_____
GLOSA
COORDENADAS PARA UM VELHO/NOVO SONHO
*
"A Flor do Sonho, alvíssima, divina,"
Veio florir-me a sina, de nascença;
Minha ideada irmã, estranha pertença
Que não tem quem a vença, se ilumina...
*
"Pende em meu seio a haste branca e fina",
Que, embora pequenina, sente, pensa,
E não contesta a capital sentença
De quem, ao Verso, serve e, ao Mundo, ensina.
*
"Ó flor que em mim nasceste sem abrolhos",
Quando floriste, encheu-se o mar de escolhos
Que vão fendendo o bojo à minha Barca;
*
"Desde que em mim nasceste em noite calma",
Tomei por leme o verde de uma palma
E fiz-me ao mar de Dante, com Petrarca.
*
Maria João Brito de Sousa - 08.01.2017 - 12.32h
publicado às 21:30
Maria João Brito de Sousa
APOGEU POÉTICO AVL - Agosto, 2016
Tema - NATUREZA
Modalidade - Clássico
Patrono: Manuel Maria Barbosa du Bocage
Académica: Maria João Brito de Sousa
Cadeira: 06
NATURA
Natura, minha Mãe, se sei cantar-te,
De ti me veio a força, o sopro humano
E este engenho que teima em dedicar-te
Cada alegria e cada desengano...
Se ainda sei, Natura, que negar-te,
Seria ir-me perdendo em rumo insano,
Assim continuarei fazendo Arte
Do muito que me deste, ano após ano!
Somei-lhe, é certo, indómita vontade,
Um trabalho sem fim, um risco, um preço
E a minha própria escolha que, em verdade,
Foi livre, tanto quanto o reconheço...
Mas sendo eu tua filha, ó Grande Madre,
Como não ser-te igual, desde o começo?
Maria João Brito de Sousa - 12.08.2016 - 12.22h
publicado às 15:21
Maria João Brito de Sousa
Patrono: Manuel Maria Barbosa du Bocage
Académica: Maria João Brito de Sousa
Cadeira:06
BOCAGE
(Soneto em decassílabo heróico e rima encadeada)
Manuel Maria foi vate erudito
Que fez, do verso escrito, o seu combate,
Ousando algum dislate, usando o grito
Que de si fez proscrito, embora vate...
Sonetos de quilate eu lhe credito
Num breve plebiscito em que arrebate
E abarque o que o meu vate deixou escrito;
Seu estro, esse infinito, e seu remate!
Barbosa du Bocage, o dos sonetos,
Homem de mil trajectos, que reage
Improvisando, o que age sem projectos
E que em versos directos, tece ultrage
Aos "nobres" - "quel dommage!"*- mais infectos,
Mas nunca aos seus dilectos: - Eis Bocage!
Maria João Brito de Sousa -07.07.2016 - 14.00h
* "Quel dommage!" - Que pena!, em francês.
publicado às 16:15