Maria João Brito de Sousa
ORA PAPOILA, ORA FRAGA II
*
Não me levem as asas. Pouco ou nada
Me vai restando do que em tempos tive
E nem a rocha bruta sobrevive
Caso em cascalho seja transformada
*
Se progressivamente triturada
Até que recidive e recidive
Na total frustração que a prenda e prive
De ser flor, sendo rocha assoreada.
*
Devo-me à vida até que a morte chegue
E, antes que soe a hora da partida,
À vida entrego o que me foi entregue
*
Multiplicada, se diminuída,
Entre o que me esclareça, o que me cegue
E aquilo que colhi, sendo colhida.
*
Maria João Brito de Sousa – 26.01.2019 – 12.33h
Imagem retirada daqui
publicado às 11:55
Maria João Brito de Sousa
ESCOLHAS
Ah! Não fora tão forte esta certeza
De ter ainda tanto por fazer,
Das coisas por sonhar, por aprender,
Talvez tivesse tempo pr`à tristeza...
Talvez não me sentasse em cada mesa
Só pr´a poder criar, poder `screver
(é por isto que nunca irei saber
se seria feliz tendo riqueza...)
Desfeita nas palavras sou feliz
Vivendo do que tenho e sempre quis,
Sendo, no fundo, aquilo que Deus quer...
Palavras, esses bens que não se esgotam,
Que, passando por muitos que as não notam,
É sempre a mim que acabam por escolher...
... E ESCOLHOS
Este ser-como-sou que aqui descrevo,
O ser, exactamente e tal e qual,
Aquilo que vos mostro em virtual,
Este sobreviver de estranho enlevo,
Todo este não-sei-quê se pinto ou escrevo,
Eu, este absurdo bicho, este animal,
Que está comigo e que quer ser igual,
É tudo o que vos pago, o que vos devo.
Fico, ás vezes, perdida no sentido...
Será que alguma vez terei mentido?
Mas não penso demais... antes sentir!
(tantas vezes c`os olhos tão vendados,
por versos "nunca dantes navegados"
e escolhos que eu não soube prevenir...)
Imagem retirada da internet
publicado às 00:00
Maria João Brito de Sousa
Passagem! Eu, por cá, estou de passagem!
Passo por esta vida e vou deixando
Sementes do que for congeminando,
Porque assim se me cumpre esta viagem
E passo até por ti, que adivinhaste
Meus versos de semente abrindo em flor
Pois assim deve ser enquanto for
Preciso semear no que sonhaste...
Passagem! De passagem se semeia,
De passagem se colhe esse sonhar
A despontar em nós que o semeámos,
De passagem se vive uma epopeia,
Se rasgam novas rotas pelo mar,
Se sobrevive ao sonho que sonhámos!
.
II
Eu passo pelo mar, passo por terra
E é no ar que construo o meu poema
Enquanto, lá de baixo, a vida acena
Com todos os mistérios que ela encerra
E desconstruo o sonho e volto à vida,
Vou decifrando mais e, deslumbrada,
Retomo a minha eterna caminhada
Em direcção à Terra-Prometida
Pois passo e no passar é que desvendo
Os segredos do mundo, o que ele murmura
Enquanto o tempo passa como eu passo
E quanto mais passar, mais eu aprendo;
É viagem de estudo à sepultura,
Mas nunca passará quanto aqui faço...
Maria João Brito de Sousa - 29.04.2008 - 12.27h
publicado às 12:27
Maria João Brito de Sousa
Respondo ao teu sorrir, não digo não!
Quanto pudera em mim `inda engendrar
Seria muito pouco pr`a pagar
Teu límpido sorriso, ó meu irmão!
.
Com pouco, com tão pouco, se faz tanto!
Ainda um ser humano, uma criança,
Nos mostra este sorriso aberto em esp`rança
Que faz ruir o nosso desencanto!
.
Num Blog ao pé de ti, que me visitas,
Há um menino alegre e sorridente
Que sabe o que é viver, o que é sonhar!
.
Por ele traço as palavras mais bonitas
E aponto o caminho a toda a gente
Para que o possam ver e acreditar!
.
14.20h
publicado às 14:27
Maria João Brito de Sousa
Num instante tão breve, um sopro só,
Desfaz-se este meu "estar agora aqui"...
No exacto segundo em que o vivi
É já passado o tempo... e não tem dó!
.
A vida "aqui e agora" é um caminho
Que fecha atrás de nós a porta aberta...
Ninguém pode parar (é morte certa!)
Um segundo que seja, um instantinho...
.
E passa, passa o tempo flutuando,
Serpenteia o caminho e ninguém sabe
Se à frente ainda há portas por abrir...
.
Nós vamos caminhando e tacteando...
Só mais uma passada e a porta abre
Na direcção da porta que há-de vir...
.
Este é especialmente dedicado ao Migalhas porque foi ele que o inspirou e a um jovem que a esta hora (a que começou quando escrevi o H e acabou quando escrevi o A...) está sentado, no seu Banquinho, à espera de um sonho...
17.03.08 - 12.37h
publicado às 12:47
Maria João Brito de Sousa
Eu quase nunca entendo o que em mim cresce;
Aceito o que vier, só de o sentir,
Mas prefiro aceitar do que pedir.
Sou semente do Deus que em mim floresce.
.
De humana e pequenina que sei ser
Ascendo à condição de ser Palavra
Por obra dessa força que em mim lavra
Do verbo original, dessoutro CRER
.
Que vai tão mais além do que o que sou!
Pequena, tão pequena que nem sei
Como alcançar os longes que me apontam
.
E deixo-me embalar... e venho, e vou
Entre o que já vos disse e o que direi
Nos versos que encontrei, porque me encontram.
Maria João Brito de Sousa - 16.03.2008
.
16.03.08 - 16.36h
publicado às 16:59
Maria João Brito de Sousa
Verdade! O que vos digo é só verdade!
Por não saber mentir, sou talvez louca,
Embarga-se-me a voz e fico rouca
De tanto vos falar da liberdade...
Às vezes sinto dor! Uma ansiedade
Vem do fundo de mim, tapa-me a boca,
Faz-me sentir que a minha voz é pouca
Pr`a vos tentar cantar tanta saudade...
Depois vem uma Luz que me deslumbra,
Arrebata-me inteira; corpo e alma,
De novo se me torna a voz urgente
E assim vivo, entre a Luz e a penumbra,
E nasce outro poema e fico calma
E ressuscito em cada sol nascente...
Maria João Brito de Sousa
28.02.08 - 15.00h
.
Ao Yodlery porque, de alguma forma, mo sugeriu.
publicado às 15:17
Maria João Brito de Sousa
Sou, por tua vontade, ó mar ingrato,
Da Barca de Caronte o timoneiro;
Nela percorro o Universo inteiro
Em busca do pecado ou do recato.
E, nela, o meu destino, esse insensato,
Me condena ao inferno derradeiro
De eterno comandante e prisioneiro
Da barca a que me prendo, onde me mato...
Aqui, neste vai-vem, eu nasço e morro
Mil vezes por segundo em cada dia
Das mil eternidades por chegar
E, pr`a mim não há esp`rança de socorro,
Nem porto para a barca da agonia
A que me condenaste, ingrato mar...
Maria João Brito de Sousa - 27.02.2008 - 12.54h
Na foto, Miguel Torga e António de Sousa
em Coimbra, 1937.
Fotografia retirada do JL de 16.03.1981
NOTA - O soneto é de minha autoria e quem, como eu, tivesse vivido junto dele durante tantos anos, saberia que o "vestiu" na perfeição das suas horas mais amargas...
publicado às 12:54
Maria João Brito de Sousa
Uma estrela é da cor que existe em nós.
Azul ou amarela... tanto faz!
A cor da estrela muda porque traz
Ecos do nosso olhar, da nossa voz...
.
A estrela tem a cor que Deus quiser,
A cor que for pulsando em nosso peito;
Se o nosso olhar procura o que é perfeito,
Devolve-nos a cor que nele houver.
São todas como espelhos pequeninos
A reluzir no escuro firmamento
E enqaunto olhos do céu, às vezes choram,
.
Se ousarem partilhar nossos destinos...
Olhadas em total deslumbramento,
Terão a cor dos sonhos que lá moram.
Maria João Brito de Sousa - 24.02.2008 - 13.25h
.
Acabadinho de nascer, a pedido do Frágil e com o Alto Patrocínio do
Grande Arquitecto -23.02.08 - 13.25h
publicado às 13:25