LIBERDADE - Bocage e eu - AVL
LIBERDADE
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha, e trêmulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal, que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade!
Manuel Maria Barbosa du Bocage
LIBERDADE II
"Liberdade, onde estás? Quem te demora?"
Quem te prende e te afrouxa, dominada,
Quando nua nasceste e desnudada
Te ergueste em toda a fauna, em toda a flora?
"Da santa redenção, é vinda a hora"
Pois basta de evocar-te e não ter nada,
E ver-te assim, rendida, envergonhada,
Ou morta, assassinada... igual nos fora!
"Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,"
Cedendo à frustração, perde a vontade,
Pois tendo-te perdido... perde tudo!
"Movam nossos grilhões tua piedade"
Até que irrompa, firme, o brado agudo
Da tua reconquista, ó Liberdade!
Maria João Brito de Sousa - 21.09.2015 - 11.34h
Desenho de Álvaro Cunhal (Desenhos da Prisão)