JULGAMENTO(S)
(Soneto em decassílabo heróico)
… e quando mais não pode e só comeu,
de véspera, o pão duro, amanhecido,
das sobras que outro alguém lhe ofereceu
apesar de o não ter, sequer, pedido,
E quando toda a esp`rança já perdeu
porque lhe foi negado o seu sentido
e apenas sobra a cinza do que ardeu
depois de com seu esforço o ter erguido,
E quando o próprio sonho já esqueceu,
sem ter vaga noção de o ter esquecido,
nem longínqua memória do que ergueu,
Então, porque o apontas, convencido
de podê-lo julgar num gesto teu,
se condenado foi, quando traído?
Maria João Brito de Sousa – 22.07.2015 – 12.55h
Imagem - "Os Retirantes", Portinari