GLOSANDO VINICIUS DE MORAES
SONETO DO AMOR TOTAL
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, como grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo, de repente
Hei-de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes, in 'O Operário em Construção'
SONETO DO AMOR SAUDÁVEL
"Amo-te tanto meu amor... não cante"
mais alto este receio que me invade
de amor tirano que me prenda ou espante
o meu, que só se acende em liberdade...
"Amo-te a fim de um calmo amor prestante",
colaborante e que, em cumplicidade,
possa, ao lançar raiz, ser militante
da causa bem maior de uma amizade...
"Amo-te como um bicho, simplesmente",
no laço em que te abraço e não te ilude,
nem te quer prisioneiro ou dependente
"E de te amar assim, muito e amiúde"
decerto morrerei, mas não doente
do amor de que enfermei na juventude...
Maria João Brito de Sousa - 11.09.2015 - 14.46h