GLOSANDO FLORBELA ESPANCA (10)
DA MINHA JANELA
Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito, murmurado...
Vôo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!
Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!
Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como um branco lilás que se desfaça!
Amor! Teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
DA MINHA...
"Mar alto, ondas quebradas e vencidas",
Ou, bem pelo contrário, `inda raivosas;
Ora serenas, frágeis, amorosas,
Ora enormes, rugindo enraivecidas...
"Sol! Ave a tombar, asas já feridas,"
Sobre as copas doiradas das mimosas
Que recolho, uma a uma, bem viçosas,
Do meu álbum de imagens não esquecidas...
"Meu verso de Samain cheio de graça",
Mal chegaste e já vais dizendo adeus,
Passo em falso, que passa e se ultrapassa...
"Amor! Teu coração, trago-o no peito..."...
Mas a memória, selectiva e escassa,
Já fez uso de um "crivo" activo... e estreito.
Maria João Brito de Sousa - 01.02.2016 - 16.28h