GLOSANDO FERNANDO PESSOA
ADAGAS CUJAS JÓIAS VELHAS GALAS...
Adagas cujas jóias velhas galas
Opalesci amar-me entre mãos raras,
E fluido a febres entre um lembrar de aras,
O convés sem ninguém cheio de malas...
O íntimo silêncio das opalas
Conduz orientes até jóias caras,
E o meu anseio vai nas rotas claras
De um grande sonho cheio de ócio e salas...
Passa o cortejo imperial, e ao longe
O povo só pelo cessar das lanças
Sabe que passa o seu tirano, e estruge
Sua ovação, e erguem as crianças
Mas no teclado as tuas mãos pararam
E indefinidamente repousaram...
(Soneto retirado do site Pensador.uol.com.br)
DESGASTES...
"Adagas cujas jóias velhas galas"
De um tempo requentado e bolorento,
Encastrando o metálico cinzento,
Dando-me a sensação de ver bengalas,
"O íntimo silêncio das opalas"
E alguma estranha graça a que acrescento
Tudo quanto me ocorra, enquanto tento,
Uma a uma, (re)tê-las, observá-las...
"Passa o cortejo imperial, ao longe",
Evocando invasões, louros, matanças...
Toca, pr`a mim, com placidez de monje
"Sua ovação, e erguem as crianças" ...
Já nada vejo além de adagas gastas;
Nem Édipos me turbam, nem Jocastas.
Maria João Brito de Sousa - 03.12.2016 - 12.57h